Literatura angolana ganha espaço na diáspora
O escritor, cronista e poeta Kalaf Epalanga promoveu, quarta-feira, no auditório Pepetela, do Camões, em Luanda, uma conversa aberta à volta da sua obra literária e experiências fora das suas raízes. O evento serviu igualmente para uma reflexão sobre a literatura africana na diáspora, que segundo o autor “está a ganhar espaço”.
Kalaf Epalanga tem a ambição de retratar a voz da urbanidade contemporânea africana, acompanha os debates globais em relação ao género, raça, ecologia e identidade. O autor foi recentemente distinguido como uma das 100 figuras mais importantes da lusofonia.
Autor das obras “Também os Brancos Sabem Dançar” e “O Angolano que Comprou Lisboa (por Metade do Preço)” possui livros publicados em Portugal e Brasil, assim como tem obras traduzidas em Espanha. O escritor anunciou que em Junho próximo chega ao mercado literário a sua primeira produção em língua inglesa.
Durante a conversa, o escritor falou das suas fontes de inspiração para escrever o livro intitulado “Angolano c omprou L i s b oa ( por metade do preço)”.
Contou que havia na altura nas livrarias portuguesas um livro intitulado “Os Reis de Angola”, que “ao ler o livro achei que não contava a história toda, percebi que havia uma certa invisibilização do pensamento angolano, das atitudes e da forma de estar dos angolanos. Foi ai que veio a inspiração de dialogar com Angola e África, em geral, sobre os contributos que demos, não só na cultura, língua e música, mas também para aquilo que é hoje o luso-africano”.
O t a mbém c ronista lamentou o facto de ver uma escassez da literatura africana em Portugal, país onde residem muitos africanos, sobretudo dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). “Vivi em Portugal 20 anos e até a data de hoje não existe uma livraria dedicada à literatura africana, entretanto em Berlim, cidade que vivo actualmente encontro três livrarias com uma gama de livros de autores africanos de deixar cair o queixo”, disse.
Kalaf Epalanga citou alguns escritores angolanos que para si são referências, não esquecendo de enaltecer a força de vontade da nova geração. “Os autores angolanos que tenho como referência são Manuel Rui, Luandino Vieira e Uanhenga
Xitu, porque eles conseguiram traduzir em palavras o ser angolano, de uma forma clara, a nossa maneira de ver o mundo, a nossa forma de estar e sentir. É isso que me motiva e me inspira. Volto sempre para ir beber desses escritores na busca dessa ligação com angolanidade”, disse.
Sublinhou que gosta da ousadia dos novos escritores que vêm surgindo no mercado literário. “Vejo força de vontade de fazer parte da festa literária, independentemente se estiver preparado ou não para publicar, não a melhor escola do que ir fazendo, ao invés de ficarmos fechados em casa a procura da perfeição devemos arriscar e dar o nosso melhor”, afirmou.
Diáspora Africana
O escritor Kalaf Epalanga afirmou que existe um mercado literário na diáspora o que ajuda no crescimento das editoras existentes, razão pela qual “não podemos subestimar o papel dos espaços onde a literatura é celebrada, os eventos literários, como lançamentos de livros, feiras e as festas literárias. Tudo isso ajudam para que a produção literária floresça e cresça”.
A diáspora tem essa vantagem de ter acesso directo ao mercado literário, o que contribui de alguma forma para que os projectos sejam divulgados.
“No que diz respeito à literatura, o espaço da disporá africana em português está pouco presente, existem africanos na diáspora que se sentem órfão e distante das suas raízes, por falta de obras africanas, porque a literatura também tem essa capacidade de nós aproximar das nossas origens. Mesmo a viver na Europa, a África representa para mim a minha maior fonte de inspiração. Eu gosto de escrever sobre ela, a sua cultura, história e os seus fragmentos”.
“Não podemos subestimar o papel dos espaços onde a literatura é celebrada, os eventos literários, como lançamentos de livros, feiras e as festas literárias. Tudo isso ajuda para que a produção literária floresça e cresça”
Próximos projectos
O escritor avançou que está a escrever alguns contos que tenciona publicá-los numa colecção de crónicas, a ser lançado, ainda este ano, no Brasil.”algumas serão inéditas e outras que j á foram difundidas em outros livros, a previsão é que o próximo livro de contos saia até ao final do ano”.
“A satisfação é grande, mas claro à medida que vamos publicando um livro estamos indirectamente a pensar no próximo, então não há muito espaço para pensar na vanglória. A nossa preocupação é ter uma produção literária vasta, por isso para nós é importante pensar no que produzir, por que um livro puxa o próximo”.
Nascido em Angola, em 1978, Kalaf Epalanga é músico e escritor. Autor das obras “Também os Brancos Sabem Dançar” e “O Angolano que Comprou Lisboa (Por Metade do Preço)”. Foi membro fundador da banda Buraka Som Sistema, premiada com o MTV Europe Music Awards por três anos seguidos na categoria Melhor Artista Português. Foi cronista do Jornal Português O Público e da GQ Portugal.