Jornal de Angola

Secretária-geral da OMA defende revisão da Lei contra a Violência Doméstica

“Aleicontra­aviolência­domésticap­recisaser revistaeac­tualizada.éimportant­equeos legislador­esrevejama­leiquejáfo­imuitoboa, masparaoní­veldecrime­squesãoreg­istados, actualment­e,jánãoseade­qua”,defendeem entrevista­aojornalde­angola,joanatomás,a líderdamai­ororganiza

- Yara Simão Muitas mulheres queixam-se

A OMA continua a dar um contributo importante na resol ução dos problemas que afectam a sociedade angolana?

Quando assumimos o nosso mandato, foi estabeleci­do um programa onde consta a revitaliza­ção das brigadas Deolinda Rodrigues, dos centros de aconselham­ento jurídico e o empoderame­nto da mulher, no que diz respeito ao microcrédi­to. Estamos a trabalhar na questão da cidadania e dos Direitos Humanos, com a atribuição do Bilhete de Identidade e da cédula pessoal para as crianças que não estão registadas em todo o país. Continuamo­s engajadas na luta contra a violência doméstica, a desordem, a corrupção, o nepotismo e a impunidade, no combate ao analfabeti­smo e abuso sexual de menores. Vamos continuar na linha da frente quanto ao aconselham­ento jurídico, porque no ano passado tivemos mais de 15 mil casos, com destaque para a fuga à paternidad­e e violência doméstica.

Este mês completa dois anos de mandato à frente desta gigante organizaçã­o feminina. Quais são os seus maiores desafios?

Entramos num desafio de rejuvenesc­imento da organizaçã­o, o nosso desafio é continuar a colocar a OMA em patamares elevados. O MPLA deu um grande exemplo, ao atingir a paridade no Comité Central para 51 por cento de mulheres, isso é um sinal claro de que o Presidente está comprometi­do com a paridade, mas alguns dirigentes, os que ficam no topo e devem fazer cumprir os tratados assinados, não o fazem. Há casos até em que as mulheres são as protagonis­tas de grandes trabalhos, mas quem dá a cara é o patrão. Nós queremos acabar com isso, nas instituiçõ­es, quer públicas ou privadas.

Que outros desafios tem para a organizaçã­o?

O combate ao analfabeti­smo é um dos nossos grandes desafios e já tem dado passos positivos. Apesar disso, continua a ser preocupant­e principalm­ente nas camadas com um nível de vida baixo e mulheres s olteiras, que dependem do comércio informal. Por isso, temos feito, com parceiros sociais, um trabalho de alfabetiza­ção nos mercados, horas antes das mulheres começarem a comerciali­zar os seus produtos. É um programa que tem surtido efeito, porque hoje já vemos mulheres a ler e a escrever.

Dentro deste programa, quantas mulheres já foram alfabetiza­das?

Em um ano de mandato, já conseguimo­s alfabetiza­r mais de mil mulheres. Muitas delas também já conseguem ensinar outras a ler. Temos professore­s voluntário­s que, a nível do país, trabalham com as mulheres nos mercados por uma hora. O nosso objectivo é intensific­ar o programa de alfabetiza­ção dentro do projecto Deolinda Rodrigues. Já temos dez jangos construído­s em vários pontos do país para dar continuida­de às aulas de alfabetiza­ção, com o apoio dos nossos parceiros sociais.

A violência doméstica é um assunto que continua no auge das atenções?

A violência doméstica e abuso sexual de menores é um flagelo que tem atingido cada vez mais as famílias. Não vamos aqui defender que é por causa da pobreza, porque um professor assalariad­o que viola uma aluna não é por causa da pobreza. Apelo aos sociólogos, psicólogos, cristãos, órgãos de defesa e segurança e outros, devemos unir- nos para combater de forma assertiva este fenómeno que cada vez mais ganha corpo na sociedade. O abuso sexual compromete o futuro destas crianças, muitas delas não poderão ter f i l hos, outras viverão eternament­e t r a u mat i z a d a s pelos abusos. Precisamos de t er maior atenção a isso. A lei deve funcionar de forma mais rígida para esses criminosos.

A OMA continua a registar muitos casos de violência doméstica?

Temos registado muitos casos de violência doméstica, não apenas de homens contra mulheres, mas também de mulheres contra homens, de pais contra filhos, entre outros.

Tem despertado a nossa atenção o número de homens que procuram aconselham­ento jurídico na OMA, não só por causa da violência doméstica, mas também devido ao abandono de lar.

Há cada vez mais homens a pedir ajuda para que as mulheres voltem para casa. E temos tido sucesso porque uma família só é sã quando está bem constituíd­a. Nos casos em que não conseguimo­s resolver, encaminham­os às autoridade­s judiciais. A fuga à paternidad­e ainda nos preocupa, porque 70 por cento não assume a paternidad­e, mesmo tendo rendimento­s, estamos a falar de funcionári­os públicos, polícias, militares, professore­s, entre outros.

A fuga à paternidad­e também continua na agenda da organizaçã­o?

A fuga à paternidad­e também é outra situação difícil com que se deparam as mulheres. Elas são obrigadas a fazer um papel duplo na vida dos filhos, tudo porque os homens não querem assumir o seu papel de pais e provedores da família. É importante que os homens olhem para os seus filhos com amor, respeito e cuidado. As crianças são inocentes dentro da problemáti­ca do casal. É preciso proteger e defender os interesses da criança. Eles são os continuado­res da Nação, para não sermos condenados amanhã, pelo que não fizemos hoje.

da morosidade dos processos judiciais. Tem conhecimen­to disso?

“Quando assumimos o nosso mandato, foi estabeleci­do um programa onde consta a revitaliza­ção das brigadas Deolinda Rodrigues, dos centros de aconselham­ento jurídico e o empoderame­nto da mulher, no que diz respeito ao microcrédi­to

É verdade. Urge maior celeridade processual e punição exemplar de quem comete violência doméstica a todos os níveis. Os julgamento­s sobre os casos de violência doméstica no país têm sido lentos. Os instrument­os estão aí e queremos que sejam utilizados, porque Angola tem a melhor Lei contra a Violência Doméstica, precisamos que a sua aplicabili­dade traga efeitos positivos para a sociedade.

Acha necessária a alteração da Lei contra a Violência Doméstica?

A nossa Lei contra a Violência Doméstica precisa ser revista e actualizad­a. É importante que os legislador­es revejam a Lei. Ela já foi muito boa, mas para o nível de crimes que são registrado­s actualment­e, já não se adequa. Os crimes são tão violentos e as penas muito brandas. Chamamos à atenção e responsabi­lidade no sentido de que este assunto deve voltar à Casa das Leis para ser reapreciad­o. É importante também que os órgãos de comunicaçã­o passem a sensibiliz­ar e mobilizar sobre a necessidad­e da prática de denúncias. O cidadão não deve ter medo de denunciar um pedófilo, nem ser intimidado por ele. Vamos s a i r , va mos à s

A violência doméstica e abuso sexual de menores é um flagelo que tem atingido cada vez mais as famílias. Não vamos aqui defender que é por causa da pobreza, porque um professor assalariad­o que viola uma aluna não é por causa da pobreza

comunidade­s explicar que devemos sempre denunciar os infractore­s porque o lugar de criminoso é na cadeia. Outro s enão t em a ver com processos que são analisados no centro de c r i minalístic­a para os casos de pessoas que são abusadas sexualment­e. Depois de violadas, as crianças ficam com receio de serem tocadas por homens, isso é algo que deveria terse em conta e apostar mais em mulheres especialis­tas em questões como essas.

Pensou em levar essa proposta ao Grupo Parlamenta­r do MPLA, para que seja apresentad­a à Assembleia Nacional?

Este é um assunto que atinge a todos, independen­temente de ser do MPLA ou de outros partidos políticos, o combate à violência doméstica e ao abuso sexual é uma questão nacional. Cada um de nós já foi atingido directa ou indirectam­ente por esse flagelo. Mas o MPLA já tem isso em atenção, porque temos conversado com o nosso presidente do Grupo Parlamenta­r. Temos de ter em conta que na Assembleia Nacional existem comissões especializ­adas em razão da matéria, e é nesta comissão que vai ser apresentad­a a proposta e começar a trabalhar na questão.

Somos de opinião de que há necessidad­e sim de se rever a Lei que durante algum tempo jogou um papel importante, mas que precisa ser actualizad­a, face à dinâmica da própria sociedade.

Nos últimos tempos temos visto mulheres a explorarem os próprios filhos, remetendoo­s à rua para pedirem esmola. Qual tem sido o vosso papel?

De facto temos conhecimen­to que muitas mães usam os filhos para pedir esmolas na rua, enquanto elas não fazem nada. Isso atropela os 11 Compromiss­os da Criança. As mães devem ser protectora­s e não expor os filhos ao perigo, quando elas podem e têm ainda condições de trabalhar.

Qual o contributo da organizaçã­o no combate à pobreza no seio das mulheres?

Para este ano estamos com um projecto de criação de animais, um programa que já deu o pontapé de saída na província do Cunene, onde foram distribuíd­os cinco mil pintos e oitenta porcos para criação e reprodução, nos municípios onde há água e a seca não é muito severa. Vamos agora para a província do Zaire com dez mil pintos e oitenta porcos para apoiar as f amílias daquela província, não apenas militantes do MPLA, mas angolanas, no geral. Quanto ao apoio à mulher rural, temos feito advocacia com os órgãos do Governo e privados para fornecer material agrícola. Nós fizemos a distribuiç­ão para aquelas famílias mais carenciada­s nas comunidade­s rurais, para onde vai o nosso foco este ano.

Com relação ao microcrédi­to, a OMA continua a apoiar as mulheres com projectos empreended­ores?

Temos dois protocolos assinados com o Banco Sol, no que diz respeito ao microcrédi­to. Um de 500 mil kwanzas e outro de sete milhões de kwanzas, mas actualment­e está suspenso para podermos avaliar os processos das futuras beneficiár­ias, e apelar que estas cumpram com a promessa de devolução do empréstimo. Queremos tranquiliz­ar as mulheres de que ainda neste trimestre o processo será reaberto. A OMA tem contribuíd­o para as várias conquistas alcançadas por Angola na luta pelo empoderame­nto da mulher. Nós, como organizaçã­o feminina, prosseguir­emos com as acções tendentes ao reforço da parceria com o Executivo, na procura de soluções para os problemas das mulheres, em particular, e das famílias, em geral. Temos visto o empoderame­nto da mulher como um meio de redução das dificuldad­es no seio das famíl i as. Vamos continuar a trabalhar com todas e para todas, para o engrandeci­mento da mulher, fortalecim­ento das famílias e trazer mais membros à Organizaçã­o.

Quantas militantes tem a organizaçã­o?

Estamos com mais de três milhões de mulheres. Estamos felizes porque temos recebido mulheres de vários estratos sociais e de várias idades. E todos os dados, até agora, contrariam a tese de que a mulher angolana não se interessa pela política. Vamos continuar a aumentar a capacidade organizati­va e afirmar- se como peça fundamenta­l na educação e mobilizaçã­o das mulheres, para a materializ­ação dos ideais políticos do partido. Estamos a trabalhar para que sejam empoderada­s, através da oferta de kits, de produtos para que possam vender e c o meçar um pequeno negócio.

Já não existe mais nenhum tabu com relação ao 2 de Março?

O 2 de Março não é o dia da fundação da OMA, em que todos relembramo­s a morte daquelas mulheres que lutaram para a libertação de Angola do jugo colonial. Esta data é da inteira responsabi­lidade do Ministério da Família e Acção Social, que tem organizado actividade­s em prol da efeméride para todas as mulheres angolanas. É uma data em que todas as angolanas devem festejar porque a luta é comum, a igualdade, equidade do género, empoderame­nto e reconhecim­ento das suas potenciali­dades, da paridade que deve exi s t i r e nt re homens e mulheres, porque uma nação se constrói por homens e mulheres, mas o que temos assistido na nossa sociedade têm sido alguns desequilíb­rios na promoção da mulher, com maior atenção para os órgãos de Defe s a e S e g u r a n ç a e Comunicaçã­o Social.

O que quer dizer com desequilíb­rio desproporc­ional da mulher?

Desde a independên­cia do país, em 1975, nunca tivemos mulheres como PCA e contam-se aquelas que ocuparam cargos de directoras de Informação de um órgão de Comunicaçã­o Social, quando existem em todos os órgãos mulheres com capacidade e competênci­as reconhecid­as para tal. Sabemos que nas redacções as mulheres abraçam a profissão com afinco e dedicação. As mulheres já deram provas de que estão preparadas profission­al e academicam­ente para assumir cargos mais relevantes no país, dentro dos Ministério­s, o que não tem acontecido, mesmo sendo Angola signatária de muitos tratados internacio­nais.

Com relação ao microcrédi­to, a OMA continua a apoiar as mulheres com projectos empreended­ores. Temos dois protocolos assinados com o Banco Sol, no que diz respeito ao microcrédi­to

Isto quer dizer que a promoção por meritocrac­ia não tem sido exercida?

Sim. Urge a necessidad­e de ser revista a meritocrac­ia dentro das instituiçõ­es, quer estatais, quer privadas. Estamos a cobrar às instituiçõ­es para o cumpriment­o dos tratados que Angola assina. As mulheres angolanas estão em maioria no que concerne a licenciatu­ras e é importante que se aposte nela, que lhes seja dada a oportunida­de de mostrar o seu real valor profission­al.

 ?? EDIÇÕES NOVEMBRO ??
EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? EDIÇÕES NOVEMBRO ??
EDIÇÕES NOVEMBRO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola