Israel sem apoio internacional na operação terrestre em Rafah
Reino Unido aplica sanções a colonatos israelitas na Cisjordânia e Estados Unidos insistem na protecção da população civil
Israel está cada vez mais isolado no plano de lançar um ataque a Rafah, sul da Faixa de Gaza na fronteira com o Egipto, com a retirada de apoio dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, principais aliados na guerra contra o Hamas, advertindo para potenciais consequências humanitárias sem precedentes.
Em Rafah, aos cerca de 200 mil habitantes que residiam na cidade, juntaramse mais de 1,3 milhões de deslocados vindos no centro e norte do enclave palestiniano, na sequência dos numerosos ataques do Exército israelita contra posições do Hamas tanto em Gaza (norte) quanto em Khan Yunis (centro/sul), desde 7 de Outubro de 2023.
O Primeiro-ministro, Benjamim Netanyahu, confirmou no domingo a entrada nesta semana das forças militares na cidade de Rafah, último refúgio de centenas de milhares de palestinianos deslocados à força na Faixa de Gaza, para acabar com “os batalhões que restam do Hamas”. Insistiu que a população civil daquela cidade deve “abandonar” a zona, com ou sem a ajuda das organizações humanitárias internacionais.
Até hoje, antes da anunciada grande ofensiva, vários ataques aéreos israelitas causaram pelo menos 164 mortos e 200 feridos em Rafah, depois de as Forças de Defesa de Israel (FDI) terem realizado “uma série de ataques contra alvos terroristas na área de Shabura”.
Segunda-feira, Israel pediu à ONU para que “coopere” na “retirada” dos civis que se encontram nas zonas de combate na Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Rafah, face à iminente ofensiva terrestre do exército contra a cidade.
O porta-voz do Governo israelita, Eylon Levy, criticou que as agências da ONU “tenham estado a transferir civis para os redutos do Hamas e a validar a estratégia dos ' e s c udos humanos' do Hamas”.
“A guerra pode terminar rapidamente, sem mais sofrimento, se o Hamas se render imediatamente, depor as armas, libertar os reféns e levar os seus criminosos de guerra à justiça. Todos os intervenientes dedicados à protecção dos civis e à melhoria das condições humanitárias em Gaza devem apelar ao Hamas para que se renda agora, em vez de pressionar o Hamas para que mantenha os seus quatro batalhões de pé face a uma vitória israelita iminente”, argumentou.
Israel apontou ainda para “um encobrimento da militarização do Hamas de hospitais e bens militares dentro de instalações das Nações Unidas”, referindo- se à recente descoberta de um túnel sob a sede principal da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) em Gaza.
Em resposta, o comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, sublinhou que o pessoal da agência “abandonou a sede na cidade de Gaza a 12 de Outubro, na sequência de ordens de evacuação emitidas por Israel e perante a intensificação dos bombardeamentos na zona” e apelou a uma investigação “independente”, apesar de o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, ter pedido a sua demissão.
Libertação de reféns
O Hamas avisou que qualquer operação das forças israelitas em Rafah ameaçará as negociações de libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinianos e constituirá uma “catástrofe e um massacre global”.
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que governa pequenas áreas da Cisjordânia ocupada, disse na sexta-feira que o plano israelita de expandir a ofensiva sobre Rafah faz parte da estratégia para “deslocar o povo palestiniano das suas terras” e apelou que a comunidade internacional aja para evitá-lo.
ONU apela ao fim do conflito em Gaza
A ONU já apelou variadas vezes ao fim do conflito e alertou que uma operação militar israelita em Rafah agravaria o “pesadelo humanitário” da população local, com “consequências regionais incalculáveis”.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, pediu segunda-feira a Netanyahu que garanta a segurança dos 1,5 milhões de palestinianos concentrados em Rafah, reafirmando a opinião de que uma operação militar não deve prosseguir sem um plano credível e exequível para garantir a segurança e o apoio ao mais de um milhão de pessoas que aí se encontram abrigadas”.
Biden, que indicou que Washington não apoiará uma operação de tão grande escala, reafirmou o “objectivo comum” de ver o movimento islamita Hamas derrotado, ao mesmo tempo que apelou também para “medidas urgentes e específicas para aumentar o volume e a consistência da assistência humanitária aos civis palestinianos inocentes”.