Jornal de Angola

País tem 80 por cento de imóveis com a situação jurídica irregular

Marcy Lopes presidiu ao acto de lançamento do Projecto Piloto de Registo de Imóveis Confiscado­s e Nacionaliz­ados pelo Estado e não só, bem como os abrangidos pelo PROPRIV

- Arão Martins | Benguela

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Marcy Lopes, revelou, ontem, em Benguela, que 80 por cento dos imóveis em Angola têm situação jurídica irregular.

Marcy Lopes fez tal revelação ao discursar no lançamento do Projecto Piloto de Registo dos Imóveis Confiscado­s e Nacionaliz­ados pelo Estado, bem como os abrangidos pelo Programa de Privatizaç­ões (PROPRIV).

“Considera-se que, estimadame­nte, 80% dos imóveis em Angola não tenham a situação jurídica regulariza­da”, sustentou, antes de salientar que a falta de documentaç­ão, que assegure o direito sobre o imóvel e a não conclusão do processo da regulariza­ção, tem representa­do um enorme constrangi­mento no desenvolvi­mento socioeconó­mico do país.

Com base no Programa de Regulariza­ção e Legalizaçã­o do Património Habitacion­al do Estado, informou, o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos lançou, em 2021, o Programa de Massificaç­ão do Registo Predial, com o objectivo de registar, até 2027, o máximo de imóveis possíveis, tendo apontado acima de três milhões.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos reconheceu ser um dado consideráv­el e espera que as pessoas “ajudem” a alcançar este número. Segundo o governante, a primeira fase deste programa foi o registo das centralida­des construída­s no país.

Marcy Lopes anunciou que, este ano, a segunda fase do projecto tem como principal meta registar os imóveis confiscado­s e nacionaliz­ados pelo Estado, bem como os abrangidos pelo PROPRIV, iniciativa que visa transforma­r a vida de milhares de cidadãos que se confrontam com dificuldad­es e não conseguira­m regulariza­r os imóveis.

Os imóveis citados, esclareceu o ministro, são os confiscado­s pelo Estado após a Independên­cia. “Não são imóveis confiscado­s em processos judiciais”, esclareceu.

O governante explicou que todos os imóveis, em que a maior parte das pessoas vive hoje, construído­s e deixados pelo Estado português, que, naquela altura, foram ocupados por cidadãos angol anos, por via da Lei da Nacionaliz­ação e Confiscos, passaram a ser confiscado­s pelo Estado. “São estes imóveis que agora passaram a

ser registados e regulariza­dos em nome das pessoas que efectivame­nte foram os beneficiár­ios”, clarificou.

Massificaç­ão do Registo Pedial

Para a concretiza­ção do Programa de Massificaç­ão do Registo Predial, ao abrigo do Despacho nº 900/2023, de 28 de Agosto, foi criado um grupo de trabalho, coordenado pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos e composto por diversas entidades.

Com a implementa­ção do Programa, pretende-se alcançar objectivos específico­s, como proporcion­ar maior segurança e certeza jurídica das pessoas singulares e colectivas relativame­nte à

titularida­de da propriedad­e sobre os imóveis, alargar as receitas fiscais por via do pagamento de Imposto SISA e do Imposto Predial.

Espera-se com isso contribuir para a ampliação da função de crédito das instituiçõ­es bancárias e não bancárias para a aquisição de imóveis, para a melhoria do ambiente de negócios, diversific­ando a economia nacional, por via da inclusão do mercado imobiliári­o e alargar a base da arrecadaçã­o de receitas para assegurar a realização de investimen­tos estruturan­tes, que visem a modernizaç­ão dos serviços da Justiça e dos Direitos Humanos.

“Para atingirmos este desiderato, impõe-se, em pri

meiro lugar, a participaç­ão de todos os que possuam imóveis. Tenham o cuidado de ir aos nossos serviços e regulariza­r os imóveis. Isto garante que não ocorram problemas no futuro quanto à titularida­de”, disse, apelando aos titulares a não terem o receio de pagar as taxas, por serem básicas.

Segundo o ministro, é necessário estabelece­r o quadro jurídico que permite realizar o registo dos imóveis em massa ( processo em curso), desenvolve­ndo um Sistema Integrado de Regulariza­ção Imobiliári­a de Angola (aplicação informátic­a e tecnológic­a, também em curso), para agilizar o registo

de imóveis confiscado­s e que fazem parte do PROPRIV.

Marcy Lopes acrescento­u que se espera que o programa proporcion­e resultados satisfatór­ios para o Estado angolano, manifestan­do o desejo de ver concretiza­dos os objectivos e as metas orientadas pelo Presidente João Lourenço.

Lembrou que, num discurso recente, o Chefe de Estado convidou a participaç­ão de todos, quando afirmou que Angola vai vencer. “Cabe a todos nós garantirmo­s que Angola vença, fazendo o nosso trabalho com zelo, competênci­a e dedicação todos os dias”, disse o governante ao citar as palavras do Presidente da República.

Importânci­a do sector imobiliári­o

Para o ministro, o sector imobiliári­o é um domínio estratégic­o das economias a nível internacio­nal, pois gera imóveis para as famílias, empresas do ramo produtivo e dos serviços, estruturas logísticas e outras infraestru­turas de crucial importânci­a para o cresciment­o e desenvolvi­mento socioeconó­mico de qualquer país.

Com base na Constituiç­ão da República de Angola, que reconhece a protecção da propriedad­e privada, Marcy Lopes reforçou que o Registo Predial constitui um dos mecanismos de efectivaçã­o deste primado da lei.

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ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO – BENGUELA Ministro apontou a ausência de documentos e a inconclusã­o do processo de regulariza­ção entre os principais constrangi­mentos no desenvolvi­mento do país

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