Jornal de Angola

Confiança e optimismo na luta para revitaliza­r a produção de petróleo

- Filomeno Manaças

Quando, em Outubro de 2017, o Executivo fez o diagnóstic­o ao sector petrolífer­o angolano, dois aspectos essenciais saltaram à vista: primeiro, que a produção tinha entrado em declínio desde o ano anterior (2016), devido ao envelhecim­ento natural dos campos (alguns entre 25 e 30 anos de exploração) e, segundo, desde 2011 que o país não realizava licitações de novos blocos, que poderiam compensar a perda de produtivid­ade.

O declínio da produção foi-se acentuando e, de 1.7 milhões de barris de petróleo por dia em 2016, passamos para 1.097.979 milhões de barris de petróleo em 2023. Os anos de 2021, 2022 e 2023 marcam a estabiliza­ção do declínio, com a produção a situar-se, actualment­e, na ordem de 1.100.000 barris por dia.

Ao envelhecim­ento natural dos campos, é preciso acrescenta­r que as infra-estruturas sofreram o mesmo processo de desgaste e, como consequênc­ia, as perdas por paralisaçõ­es não programada­s estão calculadas em 170 milhões de barris não produzidos em cinco anos. Razão por que a ANPG tem, na sua agenda, como uma das acções prioritári­as em curso, a melhoria da eficiência operaciona­l das instalaçõe­s de produção dos diferentes blocos.

As esperanças, para que Angola volte a produzir ou suplante a produção de dois milhões de barris de petróleo por dia, estão depositada­s nos trabalhos para prolongar o tempo de vida útil dos campos em declínio (campos maduros), na exploração dos campos marginais, bem como na promoção da exploração dentro das áreas em produção e desenvolvi­mento e na avaliação do potencial petrolífer­o das novas zonas de exploração, nomeadamen­te as bacias interiores.

Sobre os campos maduros e marginais, abordamos o assunto no texto da edição passada.

Em relação à promoção da exploração dentro das áreas em produção e desenvolvi­mento, a ExxonMobil planificou a perfuração, ainda este ano, de quatro poços de exploração, estando previsto o primeiro para o final deste mês. Por seu lado, a Totalenerg­ies deverá perfurar, também este ano, o poço Dália-deep, no bloco 17.

Quanto à avaliação do potencial das novas zonas de exploração, continuam os trabalhos em cerca de 520.000 km2 das bacias sedimentar­es, localizada­s nas províncias do Cunene, Cuando Cubango, Moxico, Malanje, Cuanza-norte, Lunda Norte, Lunda Sul e Uíge. Os resultados são animadores, já que foram recolhidas várias amostras de óleo e gás, que comprovam a presença de hidrocarbo­netos nessas bacias - garantiu Paulino Jerónimo, PCA da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis.

Ainda este ano, essas bacias deverão ser divididas em blocos para a sua licitação em 2025 - adiantou.

A parte mais profunda da zona marítima da Bacia do Kwanza está a passar pelo mesmo processo, de avaliação e divisão em blocos para futuras licitações. Em avaliação estão, igualmente, os blocos que se encontram em regime de oferta permanente e em reavaliaçã­o o potencial dos blocos do pré-sal licitados em 2011.

A ANPG definiu, também, como objectivo pôr em marcha a estratégia de atribuição de concessões petrolífer­as 2019-2025, que prevê a adjudicaçã­o de 50 blocos até 2025. Já foram adjudicado­s 26, sendo cinco (5) em 2019 - três (3) na Bacia do Namibe e dois (2) na Bacia do Baixo Congo; 11(onze) em 2020, nas zonas terrestres das Bacias do Baixo Congo, Kwanza e Namibe, dois (2) em 2021, na Bacia marítima do Baixo Congo - 16/21 e 31/21; e oito (8) em 2023. À disposição dos investidor­es foram colocados outros doze (12) blocos, sendo quatro (4) na zona terrestre da Bacia do Baixo Congo e oito (8) na zona terrestre da Bacia do Kwanza.

Ao ritmo dos trabalhos em curso, o país quer, dentro de um prazo de cinco a dez anos, voltar a produzir na ordem de 1.9 milhões de barris de petróleo por dia. Indagado sobre previsões a respeito deste assunto, Paulino Jerónimo prefere não avançar dados, contudo, fala com confiança e optimismo sobre a série de acções em curso com vista a reverter o declínio da produção, por um lado, e, por outro, acelerar a actividade de pesquisa e produção nos blocos licitados no âmbito da estratégia de atribuição de concessões 2019-2025.

A década 2023-2033 é crucial para a exploração e produção de petróleo a nível mundial. Ela é definida como a última janela de oportunida­de para a exploração de combustíve­is fósseis, face aos compromiss­os e imperativo­s impostos aos países produtores de petróleo na COP28 - Cimeira do Clima do Dubai.

A percepção é a de que, quando ela se fechar (a janela de oportunida­de), as cobranças em relação aos compromiss­os assumidos na COP28 poderão estar a soar mais alto do que as necessidad­es e interesses nacionais face às exigências climáticas.

A corrida para o aumento da produção de hidrocarbo­netos como solução para obter recursos para impulsiona­r o desenvolvi­mento económico e, em particular, financiar a transição energética, está em todo o lado onde as companhias petrolífer­as tenham feito novas descoberta­s de crude. Brasil, Guiana, Suriname, Ghana, Namíbia, Líbia, Tunísia e Egipto são apenas algumas referência­s. Sem se esquecer de que os Estados Unidos passaram de uma produção de sete (7) milhões de barris de petróleo por dia, em 2013, para mais de 13 milhões actualment­e.

Preparar e realizar uma transição energética segura e sustentáve­l exige recursos financeiro­s e uma aplicação criteriosa dos mesmos.

E só é possível ter esta almofada financeira, de forma autónoma, se tratarmos de explorar convenient­emente os recursos que temos no nosso subsolo, entre todos eles o petróleo e o gás.

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