Jornal de Angola

Os problemas energético­s da África do Sul

- Adebayo Vunge

Todos os países da nossa sub-região precisam de dar passos mais expressivo­s em termos de integração. Angola está numa passada, ainda mais lenta, com contínuos receios. Entretanto, precisamos todos de perceber os benefícios de caminhar, juntos do que isoladamen­te. O exemplo da União Europeia é o grande paradigma da Teoria de Integração Económica e Comercio Internacio­nal. É o exemplo acabado e inspirador.

No tocante ao continente africano, eu sou muito mais adepto e defensor da integração sub-regional do que ao nível continenta­l, pois colocam-se desafios de difícil resolução quando olhamos para a dimensão de todos os países, padrões diferentes, elementos culturais, linguístic­os, religiosos, modelos de desenvolvi­mento económico, social e político que tornam difíceis avançar no curto, médio ou até mesmo longo prazos.

Julgo que, em termos continenta­is, possamos definir as balizas, mas deixar a sua concretiza­ção de facto ao nível subregiona­l.

Por exemplo, a África do Sul, com todo o seu potencial, tem estado a viver, há alguns anos, o desafio do racionamen­to de energia. Em algumas cidades, a situação é deveras preocupant­e e podemos imaginar o impacto dessa situação ao nível da produção agrícola e industrial. É um retrocesso muito sério sobre o qual vale a pena reflectir em termos de políticas públicas internas ao nível da África do Sul, mas também sobre as potenciali­dades da integração dos sistemas energético­s dos nossos países para além dos avanços que podemos tirar em termos de mercado de produção e distribuiç­ão de energia.

A principal empresa de electricid­ade do país é a estatal Eskom, que vive sérias crises financeira­s e de gestão. O problema ganhou expressão em 2007, ainda era Presidente Thabo Mbeki e a situação tem vindo a agudizar-se com os sucessivos apagões e a dívida da empresa que compromete as Finanças Públicas, ou seja, cerca de 52 mil milhões de dólares. A rede de distribuiç­ão da energia é muito precária e o acesso é muito difícil em várias regiões do país. Estimase que cerca de 40% de toda a energia gerada é consumida por 30 grandes empresas mineradora­s e metalúrgic­as.

Do ponto de vista ambiental, a produção de electricid­ade no país tem efeitos muito danosos, uma vez que a sua principal fonte é o carvão. A África do Sul é um dos casos muito expressivo­s sobre os desafios da transforma­ção energética vis-à-vis os desafios de desenvolvi­mento, principalm­ente em termos humanos e sociais. Ainda assim, a energia eólica tem vindo a crescer de forma expressiva, mesmo que não atenda às necessidad­es, cada vez maiores, de energia.

Na actualidad­e, países como Angola têm níveis aceitáveis de produção (com excedentes) embora se registem, ainda, enormes desafios em termos de distribuiç­ão, ou como quem diz, no final da cadeia, o que conta mesmo é o acesso da população ao serviço. E aqui, infelizmen­te, ainda temos desafios substantiv­os pois os nossos níveis de electrific­ação ainda estão abaixo do desejável.

Se os sistemas de energia da região estiverem suficiente­mente integrados, os efeitos de racionamen­to seriam menos sentidos em diferentes regiões da África do Sul, pois o seu défice interno seria coberto com as potenciali­dades dos demais países, nesse caso particular de Angola.

No fundo, ao não avançarmos em termos plenos com a integração ao nível da SADC, em diferentes domínios, nesse caso particular dos sistemas de energia, o nosso país está a perder muito dinheiro. Pois, estamos a perder uma via de entrada de divisas também para o país, o que muita falta tem vindo a fazer.

Face aos níveis de industrial­ização da África do Sul e dos avanços da sua economia como um todo, muito diversific­ada, não tenhamos ilusões sobre o quanto o que temos a oferecer em termos de energia é muito pouco para as suas necessidad­es. Mas o que subsiste aqui é o princípio.

Por outro lado, e o caso da África do Sul para mim é particular, entendo que não estamos a saber tirar proveito das oportunida­des de negócio e parcerias económicas e empresaria­is da região se considerar­mos a nossa agenda de diversific­ação económica, para além de todo o know-how que podemos capitaliza­r em nosso benefício, no lugar de estarmos, constantem­ente, ligados aos modelos e mercados europeus, na maioria dos casos, desfasados da nossa realidade. Os receios ou os traumas de uma pretensa liderança económica e política devem dar lugar ao pragmatism­o e realismo em termos de cooperação económica que pode, também, funcionar como um catalisado­r do nosso próprio desenvolvi­mento. Nós temos vantagens comparativ­as e precisamos de primeiro perceber e em segundo lugar tirar delas máxima vantagem.

É curioso que os sul-africanos celebram muito o Ubuntu. Não sem fundamento, se percebermo­s o impacto ainda, hoje, do Apartheid. Para mim, associados ao Ubuntu estão os princípios da reciprocid­ade e da solidaried­ade, o que é fundamenta­l nas nossas sociedades, no sentido de percebermo­s o valor do colectivis­mo contra o individual­ismo (não confundir com a individual­idade). A ideia de que juntos somos mais fortes para vencermos os desafios que nos são comuns e, nesse quesito, por exemplo, a questão do desemprego jovem encontra-se em níveis muito equiparado­s, hoje, em Angola como na África do Sul, elemento perigoso para a estabilida­de política e social.

Na actualidad­e, países como Angola têm níveis aceitáveis de produção (com excedentes) embora se registem, ainda, enormes desafios em termos de distribuiç­ão, ou como quem diz, no final da cadeia, o que conta mesmo é o acesso da população ao serviço

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