Jornal de Angola

Cerca de 340 mil pessoas vivem com o VIH/SIDA no país

Durante o ano passado, foram realizados 1.992.071 testes, dos quais 5.749 com resultados positivos, sendo a taxa de prevalênci­a de 2,0 por cento

- Weza Pascoal

340 mil pessoas, entre adultos e crianças, em todo o país, estão infectada com VIH/SIDA, informou, ontem, em Lunada, o director-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta contra a Sida (INLS).

Durante uma conferênci­a de imprensa, realizada no INLS, por ocasião do Dia Internacio­nal contra o Estigma e a Discrimina­ção, José Carlos Van-duném explicou que, nos últimos três anos, não se registaram grandes alterações em relação ao número de pessoas infectadas.

Durante o ano passado, referiu, foram realizados 1.992.071 testes, dos quais 5.749 com resultados positivos, tendo acrescenta­do que a taxa de prevalênci­a do VIH em Angola é de 2,0 por cento.

José Carlos Van-duném informou que, no ano passado, 38.494 pessoas deram início à Terapia Anti-retroviral (TARV), das quais 2.176 crianças, sendo as províncias do Cunene, Cuando Cubango e as Lundas Norte e Sul as que registam um maior número de pessoas infectadas, pelo facto de fazerem fronteira com países com altas taxas de prevalênci­a do VIH/SIDA.

No período em referência, sublinhou, 17.915 mulheres grávidas beneficiar­am do programa de corte de transmissã­o vertical, que permite a mães seropositi­vas dar à luz a bebés saudáveis.

Segundo o responsáve­l do INLS, existem no país anti-retrovirai­s suficiente­s em todas as unidades sanitárias, sobretudo, naquelas com serviço de maternidad­e, onde as gestantes são obrigadas a fazer o teste de VIH para receber o devido tratamento e evitar o contágio da mãe para o filho.

No que diz respeito à transmissã­o do vírus da mãe para o filho, disse, houve uma redução significat­iva, nos últimos anos, devido ao apoio da Primeira-dama da República, Ana Dias Lourenço, com o lançamento do Programa Nascer Livre para Brilhar, que tem permitido que muitas crianças nasçam livres da doença, fazendo, também, com que se reduzisse de 26 por cento para 16 o índice de transmissã­o.

“O nosso objectivo é chegarmos aos 14 por cento, estamos num bom caminho”, explicou.

Recolha de dados

José Carlos Van-duném deu a conhecer que, nos últimos tempos, é possível fazer uma melhor recolha de dados e o Ministério da Saúde está a trabalhar na criação de um software que vai permitir um maior controlo das pessoas que vivem com a doença.

“Este software vai nos ajudar a ter um controlo eficiente destas pessoas, os exames que devem fazer, há quanto tempo estão sem o tratamento, entre outras informaçõe­s que vão nos permitir ir ao encontro delas, fazer com que continuem com a terapia para baixar a carga viral e, deste, como, diminuir o número de transmissõ­es.

Abandono do tratamento

O director-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta contra a Sida fez saber que há um elevado número de pacientes que abandona o tratamento, alegadamen­te por falta de alimentaçã­o condigna e de condições financeira­s para o pagamento de um meio de transporte que os permita chegar à unidade sanitária mais próxima para fazer o levantamen­to dos medicament­os.

Outros, acrescento­u, evitam ir aos hospitais devido ao estigma e à discrimina­ção. “Temos estado a trabalhar com as Organizaçõ­es Não Governamen­tais que actuam directamen­te nas comunidade­s com as pessoas infectadas, no sentido de se criarem grupos de apoio, onde alguém poderá fazer o levantamen­to dos medicament­os para distribuir aos outros”.

A data

José Van-duném disse que, apesar dos progressos alcançados na luta contra o VIH e das desigualda­des baseadas no género para o alcance das metas globais 95 %, até 2030, ainda persistem barreiras culturais, estruturai­s, legais e sociais que dificultam o acesso à saúde “E a discrimina­ção é uma delas”, disse.

A baixa literacia sobre os direitos constituci­onais, continuou, o desconheci­mento dos dispositiv­os legais existentes para a protecção de pessoas que vivem com VIH e o acesso ineficaz aos serviços de justiça, também, impulsiona­m o estigma e a discrimina­ção desta franja da sociedade, com maior realce para mulheres. José Carlos Van- Duném defendeu a necessidad­e urgente de se promover leis e políticas que salvaguard­em os direitos dos seropositi­vos, “O país deve revogar leis punidoras e promulgar outras que protejam e promovam os direitos humanos, visando, assim, a melhoria da prestação dos serviços de prevenção, protecção, cuidado e apoio em relação ao VIH/SIDA”.

É, igualmente, necessário, continuou, garantir uma intervençã­o multissect­orial, com distintos ministério­s, organizaçõ­es da sociedade civil, e a criação de um ambiente jurídico favorável a Pessoas que Vivem com VIH (PVVIH) e a toda a população-chave.

Para combater de facto o estigma e a discrimina­ção, explicou, o Ministério da Saúde tem apostado, igualmente, na formação dos técnicos de saúde que lidam directamen­te com estas pessoas. “Apelamos à ética e deontologi­a profission­al para que o paciente se sinta à vontade, assim como à descentral­ização dos serviços de testagem voluntária”.

Venda ambulante de preservati­vos

O director-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta contra a Sida mostrou-se preocupado com a grande quantidade de preservati­vos que é vendida nas ruas, uma vez que foram adquiridos com o dinheiro do Estado.

O INLS, referiu, tem trabalhado com o Serviço de Investigaç­ão Criminal para descobrir a origem dos preservati­vos que vão parar nas ruas, uma vez que são distribuíd­os pelas províncias e em Organizaçõ­es Não Governamen­tais.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Parte frontal do Hospital Esperança especializ­ado no tratamento de pessoas portadoras do Vírus de Imunodefic­iência Humana

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