Jornal de Angola

Cancros do olho e do rim: doenças que afectam muitas crianças

Especialis­tas em oncologia pediátrica alertam os pais para redobrar a vigilância e procurar pela assistênci­a médica tão logo verifiquem algo anormal na criança

- Sandra da Silva e Madalena Quissanga

Augusta, de dois anos, tem cancro de Retinoblas­toma(olho), vive em Saurimo, província da Lunda-sul. Tudo começou com uma mancha na vista, que a mãe pensou tratarse de uma simples nódoa. A família fez os primeiros socorros com medicament­os caseiros, sem resultados. Foi assim que decidiram ir ao hospital, onde lhe foram receitadas gotas que, infelizmen­te, fizeram a vista piorar, tornando-se vermelha.

O médico assistente, preocupado, viu que não era coisa simples e mandou fazer alguns exames, dos quais resultou como diagnóstic­o o cancro do olho. Imediatame­nte, Augusta foi transferid­a para o Instituto Angolano de Controlo de Câncer, em Luanda, único que pode atender a patologia.

Em Luanda, a pequena foi internada, por causa da gravidade que os olhos apresentav­am (inflamação).

Passados cinco meses, começou a fazer quimiotera­pia, tendo já efectuado dois ciclos, faltando outros dois para completar a etapa.

Augusta está com o tio, à espera que chegue o dia da cirurgia para regressar a casa. A mãe deu à luz há cerca de dois meses e não pode continuar a apoiar filha, mas está a par do estado da pequena.

Retinoblas­toma

Já o menino Bartolomeu, de 11 anos, provenient­e da província do Bié, veio com a mãe e uma i rmã mais nova, que ainda depende doleite materno. Deu entrada no ano passado com um diagnóstic­o de tumor ocular. Depois de uma biópsia, que consistiu em retirar um pedacinho do olho, confirmou-se que se tratava de um cancro do olho, denominado retinoblas­toma.

A chefe do serviço de Oncopediat­ria do Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), Dália Santos, disse que o Retinoblas­toma é um dos cancros mais frequentes na instituiçã­o. Em relação a Bartolomeu Samis i nga, i nformou que o menino c umpriu, c om sucesso, os quatro ciclos de quimiotera­pia e tem programada uma consulta no Iona(instituto Oftalmológ­ico Nacional de Angola), para ser avaliado.

A especialis­ta esclareceu que Bartolomeu chegou com perda da visão e a conduta cirúrgica seria a enucleação do globo ocular (retirada dos olhos). "O menino Bartolomeu vai fazer a cirurgia para retirar o olho direito, porque perdeu a visão, e, posteriorm­ente, usar uma prótese e óculos".

Cancro do rim

Sónia, de 4 anos, tem cancro do rim. Começou com um inchaço no lado esquerdo, no ano passado. A mãe, Eugênia Sebastião, conta

que pensou que tivesse caído e ignorou por alguns dias. Levou a filha ao hospital por causa da diarreia que não passava. O médico pediu que fizesse alguns exames e notou que alguma coisa não estava bem nos resultados. Solicitou uma TAC (Tomografia Computoriz­ada) urgente para comprovar o que suspeitava.

Passados dois meses, a inflamação aumentou e a menina não conseguia pôrse em pé. Voltou ao hospital, onde foram feitos mais exames, resultando no diagnóstic­o do cancro do rim. Foi transferid­a de urgência para o IACC, onde começou a fazer o tratamento.

No dia 7 de Agosto do ano passado, foi operada, com a remoção do rim, recebendo alta depois de um mês.

Alguns dias depois, voltou ao hospital para continuar o tratamento (quimiotera­pia), porque o cancro criou ramificaçõ­es. Segundo a mãe, Eugénia Sebastião, tudo está a correr bem.

Doenças silenciosa­s

A médica interna de Oncologia Pediátrica do Instituto Angolano de Controlo de Câncer( I ACC), Melitta Máquina, disse que as doenças de foro oncológico são considerad­as perigosas e silenciosa­s. Alertou os pais para redobrar a vigilância aos pequenos sinais que a criança venha a apresentar e procurar pela assistênci­a médica, tão logo verificare­m algo anormal.

“Para os casos de Retinoblas­toma (tumor no olho) as crianças são encaminhad­as para o Instituto Oftalmológ­ico de Angola (IONA), onde são avaliadas e depois mandam para nós. Fazermos os exames e se ainda estiver na fase inicial, verificamo­s se ainda há a possibilid­ade de retirar o olho e depois continuamo­s com o tratamento, mesmo quando há alteração cerebral”.

No caso de Augusta, explicou que o tumor já se encontra num estádio avançado, denominado “estádio 4”, devido ao tratamento caseiro feito na província de origem ( Lunda- Sul). Referiu que, enquanto faziam o tratamento caseiro, houve infiltraçã­o do nervo óptico cerebral.

A menina, esclareceu, ficou i nternada por três meses. Teve alta em Dezembro, voltou em Janeiro com convulsões, como consequênc­ia da infiltraçã­o cerebral e estava internada para a estabiliza­ção clínica.

“Tendo em conta a gravidade da paciente, que tem o cérebro afectado, tudo pode acontecer, porque quando a ramificaçã­o das células compromete o cérebro e o sistema nervoso central, é delicado”, reconheceu.

Melita Máquina explicou que a paciente está a responder bem ao tratamento, teve baixa da hemoglobin­a, vómito, diarreia, como efeitos colaterais da medicação a que está a ser submetida. “Tendo em conta a condição social, preferimos mantêla aqui para continuar a ser avaliada e manter a estabiliza­ção do quadro clínico”, esclareceu.

Sobre a menina Sónia, que tem cancro de Neuroblast­omas (rins), a médica disse que respondeu bem ao tratamento, por isso fezse a operação, retirando-se o rim, enquanto prossegue com o tratamento. Actualment­e, regista-se uma progressão da doença, porque o tumor ramificou-se até aos pulmões. “É uma criança que também inspira cuidados, mas, a família solicitou um relatório médico para ir para o exterior do país. Neste momento, está internada porcausad a anemia, enquanto fica à espera para ir acabar o tratamento fora do país”, informou a médica, alertando que o "paciente oncológico não se considera totalmente curado”. “Pode ter cancro numa outra parte do corpo, precisa de ser acompanhad­o constantem­ente", sublinhou.

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Instituto Angolano de Controlo de Câncer recebe pacientes provenient­es de várias províncias
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Melitta Máquina, médica interna de Oncologia Pediátrica
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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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