Jornal de Angola

Uma mulher de superação em cabinda

- Pedro Vicente|cabinda JOSÉ SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO

"Tudo começou há 15 anos, na cidade de Cabinda. Aurora Ngola, mais conhecida por Lolita, de 47 anos, conta que, em um dia que já não se lembra, recebeu em sua casa uma amiga. Como anfitriã, preparou um kwassa de pato, um estufado de carne de pato com pouquíssim­o molho, acompanhad­o de f eijão macunde, prato típico da região, para servir no almoço.

A amiga de nacionalid­ade cubana admirou o talento culinário de Aurora Ngola e ficou impression­ada com o cardápio que lhe foi oferecido. Ela solicitou que Lolita preparasse um buffet para servir na sua festa de aniversári­o que se aproximava.

Inicialmen­te surpresa com o pedido, Aurora Ngola decidiu embarcar nessa que cons i d e r o u u ma g r a n d e "aventura", mesmo nunca ter cozinhado antes, para mais de 20 pessoas. "O quê? Eu nunca fiz um buffet na minha vida", disse ela.

A cubana convenceu-a a experiment­ar, e assim Aurora Ngola elaborou cuidadosam­ente um menu e o apresentou à aniversari­ante/amiga, que adorou a proposta e autorizou a preparação da comida.

A festa foi um sucesso, conforme relatou Lolita, e todos os convidados apreciaram a comida, levando-a a receber solicitaçõ­es para servir em outras festas de aniversári­o, batizados, casamentos e pedidos de noivado. Assim, ela se tornou uma das principais empreended­oras do ramo na província de Cabinda.

No entanto, a história de Lolita não começa aqui. Foi na praia do Girassol, na cidade de Cabinda, nos anos 1990, que mais ainda jovem, vendia petiscos e diversas bebidas nos fins de semana, principalm­ente aos domingos.

Posteriorm­ente, Lolita e outras comerciant­es passaram a organizar maratonas (festas populares) na cidade de Cabinda para atrair mais clientes e expandir os seus negócios. Esses eventos e os primeiros passos de Aurora Ngola começaram em meio ao conflito armado, exigindo criativida­de e esforço para enfrentar a situação social da época.

Lolitaexpe­rimentoudi­versos empreendim­entos, como a venda de bebidas, petiscos, bolinhos, gelados e iogurtes, mas foi na culinária que se destacou. Desde o primeiro buffet preparado para cerca de 20 pessoas no aniversári­o da amiga de nacionalid­ade cubana, Lolita passou a atender de 100 a 600 pessoas nos dias actuais, consideran­do um grande avanço em sua carreira.

Seu primeiro grande buffet foi para um funcionári­o da petrolífer­a Chevron, que solicitou serviço para 300 pessoas em um casamento. A partir daí, ela não parou mais e os pedidos continuam com frequência.

Para aprimorar os seus conhecimen­tos e oferecer maior qualidade, Lolita decidiu frequentar um curso de culinária para aprender a preparar uma variedade de pratos. No entanto, ela destaca que cozinhar bem é um dom que carrega desde a infância, apesar de reconhecer a importânci­a da formação formal.

Múltiplas tarefas

Além de seu negócio, Lolita é licenciada em enfermagem pelo Instituto

Superior Privado de Angola (ISPRA) e trabalha no Hospital Provincial de Cabinda, na área de Bloco Operatório. Ela equilibra suas duas actividade­s, organizand­o-se para garantir que seu negócio e sua carreira na Saúde não se sobreponha­m.

Quanto às actividade­s domésticas, Lolita destaca a importânci­a de ter um programa de vida e cumprir com suas responsabi­lidades como esposa e dona de casa, organizand­o-se para evitar problemas e garantir o bemestar da família.

Lol i t a admira outras mulheres empreended­oras de Cabinda, como a empresária Julieta Chombela, conhecida por "tia Jú", e destaca a determinaç­ão, o engajament­o e o trabalho árduo das mulheres da região. Deolinda, uma decoradora de referência, Bela Bravo, também decoradora, Jussimba, Eufémia e tantas outras.

Ela encoraja as mulheres a acreditare­m em si mesmas, a amarem o que fazem, a terem foco e a persistire­m nos seus objectivos profission­ais e comerciais. Lolita compartilh­a a sua própria trajectóri­a como exemplo de que é possível alcançar o sucesso com dedicação e confiança. Ainda buscando a realização do seu sonho de ter um salão de festas próprio, Lolita não se considera totalmente realizada, mas está determinad­a a alcançar este objectivo. Ela prefere expandir o seu negócio com os recursos próprios, evitando compromiss­os com os bancos devido à pressão financeira que impõem. Actualment­e, Aurora Ngola emprega 18 trabalhado­res, dos quais oito mulheres, que estão engajadas e comprometi­das com o negócio. O preço por pessoa para eventos varia de 13 a 14 mil kwanzas. Apesar dos desafios económicos causados pela crise e desvaloriz­ação da moeda, Lolita continua a trabalhar e adapt a r ndo- s e à s mudanças no mercado, mantendo-se optimista e focada no seu negócio.

Lolita encoraja as mulheres a acreditare­m em si mesmas, a amarem o que fazem, a terem foco e persistire­m nos seus objectivos profission­ais

 ?? ??
 ?? JOSÉ SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO ??
JOSÉ SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola