“A África vaza a alma da gente e não há volta”
Como é que chega ao estudo deste ou daquele autor? A presença na media ou há um circuito de recomendação?
Depende muito. Algumas vezes leio artigos e vejo notícias de obras publicadas. Outras vezes, as obras me são recomendadas. Sempre que viajo, vou às livrarias, à União dos Escritores Angolanos, à Associação de Escritores Moçambicanos, à Associação de Escritores Cabo-verdianos. Procuro autores desses países e também da Guiné-bissau, de São Tomé e Príncipe e peço sugestões de obras publicadas.
Dedicou quase toda a sua vida académica ao estudo e divulgação das Literaturas Africanas em Português no Brasil. Hoje pode dizer que valeu a pena? Se fosse possível recuar no tempo escolheria a mesma área de estudo?
Eu dediquei grande parte de minha vida à Literatura Brasileira. A partir de 1993, entreguei-me totalmente às Literaturas Africanas. Penso que valeu sim. Escolheria,novamente, as Literaturas Africanas. Como diz Mia Couto, a África vaza a alma da gente e não há volta.
Durante o seu percurso académico sentiu algum tipo de reconhecimento institucional nos países africanos cujas literaturas
tanto estudou e promoveu no Brasil?
Sim. Sempre que viajei a Angola, a Moçambique, recebi livros para poder desenvolver o meu trabalho no Brasil. Em Angola, fui convidada a integrar à Academia Angolana de Letras como Sócia Correspondente. Em Moçambique fui convidada a f azer parte da Comissão de Honra da Fundação Fernando Leite Couto. Fiquei muito honrada com essas duas honrarias.
E como é a sua relação com os autores?
De muito respeito, de grande admiração e amizade. Procuro divulgar as suas obras em artigos, em congressos, em entrevistas. Fiz dentre muitos escritores africanos grandes amigos.
Pelos vistos teve sempre o cuidado de escrever sobre
obras e autores de que gostou. Qual é a razão dessa opção? Foi para evitar dissabores?
Sou uma pessoa muito emotiva, mas, ao mesmo tempo, também muito racional. As paixões me movem, porém também a lucidez e as reflexões são de grande importância para mim. Assim, procuro sempre escrever sobre o que me toca profundamente. Os afectos me impulsionam. Mas, afectos não como sentimentos. Entendo o afecto como potência criadora, como força vital que nos faz sonhar. Não como um sonho romântico, mas como uma força interna que nos empurra para a vida, para as realizações, para a beleza das artes. Escolho obras e autores que me emocionam e me levam a pensar sobre o mundo, sobre a história, sobre a política, sobre o ser humano, sobre a natureza.