Piratas são impactos devastadores nas artes e na indústria do entretenimento
A contrafacção de conteúdos cinematográficos reduz as oportunidades dos jovens criadores de ganharem a vida com o seu trabalho artístico e dinamizar o sector com produções de qualidade
Com a evolução dos canais de conteúdo para uma diversidade de dispositivos e plataformas, a pirataria acompanhou esse progresso muito rapidamente, nos últimos quinze anos, em todo o mundo.
Antes, a pirataria envolvia dispositivos de gravação e cassetes (analógicos), hoje em dia utiliza avançada tecnologia de stream-ripping para distribuir ilegalmente conteúdos online.
Produtores, estúdios e detentores de direitos, quer autorais quer conexos, enfrentam uma corrida tecnológica contra os piratas, trabalhando no desenvolvimento de estratégias de segurança para proteger a reputação da marca, as receitas e os meios de subsistência ligados ao sector do entretenimento.
Um novo relatório da “Parks Associates” mostra que o valor dos serviços de vídeo pirata acedidos por consumidores de televisão paga ou não, ultrapassou os 67 mil milhões de dólares em 2023. Esses valores representam rendimentos roubados aos produtores de conteúdos, plataformas de entretenimento e produtores profissionais a nível do mundo.
Nos Estados Unidos, um relatório do sector calculou que a pirataria de vídeo digital custava à economia entre 230.000 e 560. 000 empregos por ano e até 115,3 mil milhões de dólares em redução do Produto Interno Bruto (PIB).
Outro desafio que as indústrias de conteúdos enfrentam é o facto de a pirataria estar a ser endémica e culturalmente aceite. Os estudos de mercado indicam que 34 por cento dos utilizadores da Geração Z utilizam sites de “streaming-ripping” e, no Reino Unido, 69 por cento das visitas a sites homónimos são visitas directas em vez de provirem de pesquisas.
Em África, onde os recursos
são limitados, a pirataria também é generalizada. Um inquérito da “Irdeto” revela que os utilizadores de cinco principais territórios africanos fizeram 17,4 milhões de visitas aos 10 principais "sites" de pirataria identificados na Internet, num espaço de três meses. Embora a pirataria possa parecer um assunto banal, trata-se de um fenómeno com largos impactos humanos directos.
Quando os conteúdos são habitualmente roubados, as indústrias de criação de conteúdos, mediante uma remuneração justa, podem deixar de ser viáveis. Logo, os empregos desaparecem, tal como os conteúdos que reflectem a vida – a cultura - das audiências.
"A pirataria é um roubo", afirma Frikkie Jonker, de nacionalidade sul-africana, com mais de 30 anos de experiência em radiodifusão, antipirataria e segurança cibernética. Também director da empresa de Radiodifusão de Cibersegurança Irdeto, do Grupo Multichoice África, considera que, quando as pessoas roubam conteúdo, “essas produções deixam de ser viáveis”.
Realça, ainda, que essas histórias “não são contadas, e as pessoas que criam esse conteúdo não são pagas. Sabemos que o sector da televisão é um importante multiplicador económico em África, que cria directa e indirectamente milhares de empregos. Logo, a pirataria ameaça a existência desses empregos e o bem-estar das comunidades em todo o continente."
Como exemplo, cita o trabalho efectuado na Nigéria através do canal “Africa Magic”, que encomendou, produziu e adquiriu mais de 85 milhões de dólares em conteúdos locais. Para além da própria indústria de entretenimento, o impacto do “Africa Magic” fez injecções financeiras significativas em indústrias adjacentes, como os sectores de viagens, hotelaria, construção e indústria transformadora. Infelizmente, todos esses investimentos estão ameaçados pelo flagelo da pirataria.
No continente africano, onde os recursos são limitados, a usurpação da coisa alheia também é generalizada