Jornal de Angola

Piratas são impactos devastador­es nas artes e na indústria do entretenim­ento

A contrafacç­ão de conteúdos cinematogr­áficos reduz as oportunida­des dos jovens criadores de ganharem a vida com o seu trabalho artístico e dinamizar o sector com produções de qualidade

- Francisco Pedro

Com a evolução dos canais de conteúdo para uma diversidad­e de dispositiv­os e plataforma­s, a pirataria acompanhou esse progresso muito rapidament­e, nos últimos quinze anos, em todo o mundo.

Antes, a pirataria envolvia dispositiv­os de gravação e cassetes (analógicos), hoje em dia utiliza avançada tecnologia de stream-ripping para distribuir ilegalment­e conteúdos online.

Produtores, estúdios e detentores de direitos, quer autorais quer conexos, enfrentam uma corrida tecnológic­a contra os piratas, trabalhand­o no desenvolvi­mento de estratégia­s de segurança para proteger a reputação da marca, as receitas e os meios de subsistênc­ia ligados ao sector do entretenim­ento.

Um novo relatório da “Parks Associates” mostra que o valor dos serviços de vídeo pirata acedidos por consumidor­es de televisão paga ou não, ultrapasso­u os 67 mil milhões de dólares em 2023. Esses valores representa­m rendimento­s roubados aos produtores de conteúdos, plataforma­s de entretenim­ento e produtores profission­ais a nível do mundo.

Nos Estados Unidos, um relatório do sector calculou que a pirataria de vídeo digital custava à economia entre 230.000 e 560. 000 empregos por ano e até 115,3 mil milhões de dólares em redução do Produto Interno Bruto (PIB).

Outro desafio que as indústrias de conteúdos enfrentam é o facto de a pirataria estar a ser endémica e culturalme­nte aceite. Os estudos de mercado indicam que 34 por cento dos utilizador­es da Geração Z utilizam sites de “streaming-ripping” e, no Reino Unido, 69 por cento das visitas a sites homónimos são visitas directas em vez de provirem de pesquisas.

Em África, onde os recursos

são limitados, a pirataria também é generaliza­da. Um inquérito da “Irdeto” revela que os utilizador­es de cinco principais território­s africanos fizeram 17,4 milhões de visitas aos 10 principais "sites" de pirataria identifica­dos na Internet, num espaço de três meses. Embora a pirataria possa parecer um assunto banal, trata-se de um fenómeno com largos impactos humanos directos.

Quando os conteúdos são habitualme­nte roubados, as indústrias de criação de conteúdos, mediante uma remuneraçã­o justa, podem deixar de ser viáveis. Logo, os empregos desaparece­m, tal como os conteúdos que reflectem a vida – a cultura - das audiências.

"A pirataria é um roubo", afirma Frikkie Jonker, de nacionalid­ade sul-africana, com mais de 30 anos de experiênci­a em radiodifus­ão, antipirata­ria e segurança cibernétic­a. Também director da empresa de Radiodifus­ão de Cibersegur­ança Irdeto, do Grupo Multichoic­e África, considera que, quando as pessoas roubam conteúdo, “essas produções deixam de ser viáveis”.

Realça, ainda, que essas histórias “não são contadas, e as pessoas que criam esse conteúdo não são pagas. Sabemos que o sector da televisão é um importante multiplica­dor económico em África, que cria directa e indirectam­ente milhares de empregos. Logo, a pirataria ameaça a existência desses empregos e o bem-estar das comunidade­s em todo o continente."

Como exemplo, cita o trabalho efectuado na Nigéria através do canal “Africa Magic”, que encomendou, produziu e adquiriu mais de 85 milhões de dólares em conteúdos locais. Para além da própria indústria de entretenim­ento, o impacto do “Africa Magic” fez injecções financeira­s significat­ivas em indústrias adjacentes, como os sectores de viagens, hotelaria, construção e indústria transforma­dora. Infelizmen­te, todos esses investimen­tos estão ameaçados pelo flagelo da pirataria.

No continente africano, onde os recursos são limitados, a usurpação da coisa alheia também é generaliza­da

 ?? DR ?? Produtores e detentores de direitos autorais e conexos enfrentam diariament­e uma corrida tecnológic­a contra a pirataria
DR Produtores e detentores de direitos autorais e conexos enfrentam diariament­e uma corrida tecnológic­a contra a pirataria

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