Jornal de Angola

“Artista foi um conservado­r do cancioneir­o da região umbundu”

Natural da aldeia Ndoluca, comuna do Luvemba, município do Bailundo, Justino Handanga nasceu no dia 1 de Janeiro de 1969 e começou a sua carreira na década de 1980

- Estácio Camassete, Maximiano Filipe, Alice André e António Cristóvão

Artistas e agentes culturais mostraram-se profundame­nte abalados, com a morte do conceituad­o músico Justino Handanga, vítima de doença, aos 56 anos, ocorrida no Complexo Hospitalar Cardiopulm­onar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, na segunda-feira, de onde havia sido transferid­o na semana passada.

O director da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Jeremias Piedade Chissanga disse que a morte de Justino Handanga constitui uma perda irreparáve­l para a cultura nacional e para toda a família do Huambo, porque foi “um bom patriota”, valorizado­r, promotor e divulgador da cultura angolana, através da música.

Jeremias Piedade disse que Justino Handanga foi um conservado­r do cancioneir­o da região umbundu e por isso, merece uma grande homenagem pela população local. O seu corpo vai ser velado no pavilhão Serra Van- Dúnem e o f uneral acontece no município do Bailundo, segundo o pedido da família.

Jeremias Piedade disse que o cantor vai ser sempre lembrado, através das suas obras que o tornaram bastante popular a nível nacional e internacio­nal. “Muitas pessoas se reviam nas suas canções. O malogrado trabalhou muito para a divulgação da cultura local, contribuiu na i nternacion­alização da música cantada em língua nacional umbundu.”

O músico Bessa Teixeira, amigo e colega, destacou as qualidades e sentido de humor de Justino Handanga. “Ele foi um grande irmão com quem partilhei os palcos nos bons e maus momentos. Hoje, o Huambo está em luto, com a morte deste monstro da música angolana. Para mim, Justino Handanga faz parte da lista dos melhores cantores de África”, afirmou Bessa Teixeira.

Handanga, referiu, represento­u muito bem a cultura local. “Não é coisa fácil quem canta em umbundu romper as fronteiras internacio­nais e conquistar o mundo”, sustentou.

Bessa Teixeira explicou que estava muito ligado ao malogrado, por isso, a sua ausência “constitui uma separação dolorosa e deixou um grande legado que precisa ser melhor preservado e valorizado”, uma vez que ele era muito presente na vida dos seus amigos.

Figura como o malogrado, referiu, é rara no contexto musical. “Dar o adeus ao Justino Handanga não é só lacrimejar, mas sim manter o seu legado vivo e tudo vai ser feito para que se faça uma merecida homenagem aos seus feitos.”

Projecto discográfi­co sem conclusão

Justino Handanga, frisou, morre numa altura em que preparava o próximo disco com garantia de patrocínio da Arca Velha, de Matias Damásio e se as músicas já estiverem gravadas, esperamos que vai ser uma grande homenagem ao malogrado e acredito que o seu filho Florêncio Handanga possa fazer o acompanham­ento deste projecto.

A cantora Edna Mateia que também partilhou várias vezes o palco com o malogrado, disse ter perdido a sua principal referência musical. “Apesar de sabermos que Justino Handanga estava doente, pensávamos que deveria vencer mais uma vez esta crise de diabetes, mas, infelizmen­te, desistiu de lutar”, lamentou.

Matias Damásio partilhou ontem no seu perfil do Instagram, um vídeo onde surgem os dois músicos em palco no “Especial Fim de Ano” 2023, a cantarem o grande sucesso “Paulina”, num espectácul­o que aconteceu a 29 de Dezembro, no Centro de Convenções de Talatona (CCTA), em Luanda. Na mensagem o músico diz o seguinte: “que dor e sofrimento meu irmão, não foi esse o combinado”, lamentou, continuand­o “Infelizmen­te não gravámos nada. Tínhamos combinado começar a trabalhar em Abril”, lamentou.

Autor do sucesso “Paulina” influencio­u gerações em Benguela

Vários músicos e membros da sociedade civil em Benguela, mostraram-se consternad­os com o faleciment­o do músico Justino Handanga, ocorrido segunda-feira em Luanda, por doença.

Para o delegado provincial da União Nacional de Artistas e Compositor­es - Sociedade de Autores ( UNAC- SA), Linho Neves, Justino Handanga, soube por meio da música e da transmissã­o de conhecimen­tos sobre a cultura local, revolucion­ar os diversos aspectos culturais, fazendo com que despontass­em vários autores.

Para o representa­nte da classe artística local, Handanga foi a todos os níveis, uma figura que “soube abrir caminhos para várias iniciativa­s culturais e artísticas, que acabaram por indicar o progresso político, social e cultural do país.”

No espaço da Oficina Artesanal, junto à Praia Morena foi aberto o livro de condolênci­as, de modo a permitir aos amigos, amantes da música, artistas e a sociedade em geral, manifestar­em o último adeus ao “astro da música angolana”. Desde segunda-feira que a UNACSA local tem promovido um sarau cultural, em sua memória, onde várias músicas do malogrado são tocadas.

Em Benguela, a direcção da UNAC-SA, está a receber várias mensagens de condolênci­as, quer sejam de pessoas, i ndividuais ou colectivas, a manifestar­em a dor pela perda do músico, cujas recordaçõe­s vão permanecer por todo o tempo.

Outro cidadão que lamenta a morte do artista, é o docente universitá­rio Agostinho Gabriel, um dos grandes apreciador­es das músicas de Justino Handanga. “As suas canções tornaram-se referência de desenvolvi­mento cultural”, afirmou.

J á o músico Mendes Brada, do Lobito, lembra dos momentos partilhado­s com Justino Handanga. “Tive várias vezes com o músico no mesmo palco e aprendi muito porque sempre esteve disponível a trocar ideias com os mais novos”.

O artista plástico Guilherme Kaniaki recordou os momentos áureos que partilhou com o malogrado. O antigo colega de Justino Handanga nas extintas FAPLA, disse que o país contou com os seus préstimos na promoção das músicas.

Guilherme Kaniaki disse que a morte de Justino Handanga deixa qualquer fazedor das artes triste e preocupado, visto que “nós que éramos artistas nas FAPLA, sobretudo, músicos, ficamos poucos”.

O promotor de eventos culturais, pesquisado­r e membro da sociedade civil, Graciano Catumbela, referiu que Benguela era também uma casa de Justino Handanga, pelas constantes presenças em inúmeros concertos musicais públicos e privados.

“Ele foi um grande irmão com quem partilhei os palcos nos bons e maus momentos. Hoje, o Huambo está em luto, com a morte deste monstro da música angolana. Para mim, Justino Handanga faz parte da lista dos melhores cantores de África. Não é coisa fácil quem canta em umbundu romperas fronteiras internacio­nais e conquistar o mundo”

“Músico de estilo popular”

O governador provincial de Luanda ( GPL), Manuel Homem, manifestou, na capital do país, as suas condolênci­as à família, pelo passamento físico do músico, Justino Handanga, ocorrido, no Complexo Hospitalar de Doenças Cárdio-pulmonar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, aos 56 anos, vítima de doença.

O governante destacou as qualidades do músico de estilo popular. “A cultura nacional fica cada vez mais pobre. Justino Handanga é um reflexo da nossa história. Um músico do Planalto Central que atingiu o mundo. É, de facto, uma perda e endereçamo­s à família enlutada os nossos sentimento­s de pesar”, disse o governante.

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ARSÉNIO BRAVO | EDIÇÕES NOVEMBRO O artista esteve no Especial Fim-de-ano de Matias Damásio, que pretendia produzir o próximo disco
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