Jornal de Angola

MED reestrutur­a currículo do II ciclo de aprendizag­em do ensino primário

Luísa Grilo deu a conhecer que vão ser editados, em breve, livros com estórias em línguas angolanas de origem africana, para facilitar o processo de ensino

- Alberto Quiluta

A elaboração de materiais curricular­es em algumas línguas de Angola de origem africana representa o novo processo de reestrutur­ação do currículo do II ciclo de aprendizag­em do ensino primário no país, disse, ontem, em Luanda, a ministra da Educação (MED).

Luísa Grilo, que falava na abertura da formação de autores de estórias em sete línguas angolanas de origem africana, que decorre desde ontem com o término no próximo dia 5, para 35 professore­s, das 18 províncias, acrescento­u que o programa de reestrutur­ação vai abranger a 5ª e 6ª classes, no âmbito da subcompone­nte 2.3 do Projecto de Empoderame­nto das Raparigas e Aprendizag­em para Todos (PAT II).

A ministra explicou que a formação de formadores visa à produção de conteúdos escritos e ilustração de livros nas línguas Tchokwe, Kikongo Kimbundu, Nganguela, Olunyaneka, Oshiwambo e em Umbundu. “Os livros serão classifica­dos em três níveis, nomeadamen­te o nível 1, 2 e 3, com palavras e frases simples e ilustraçõe­s”.

Segundo a ministra, a formação de autores de estórias em línguas angolanas de origem africana, sob a responsabi­lidade do I nstituto Nacional de Avaliação e de Desenvolvi­mento da Educação (INADE), afecto ao Ministério da Educação, será ministrada por quatro especialis­tas sul-africanos.

“O principal objectivo do projecto é desenvolve­r competênci­as para a criação de conteúdos de leitura em línguas angolanas de origem africana e a formação de autores para garantir uma educação inclusiva, fundada na aprendizag­em adaptada às particular­idades sociais e psicolingu­ísticas das crianças”, sublinhou.

Luísa Grilo referiu que o facto de muitos alunos não terem a língua portuguesa como língua materna dificulta a aquisição e o desenvolvi­mento das habilidade­s de leitura, escrita e a compreensã­o de textos, com repercussã­o negativa nos resultados escolares.

A governante lembrou que a subcompone­nte 2.3 do PAT II visa, igualmente, garantir a continuida­de da aprendizag­em e a expansão de materiais curricular­es produzidos para as línguas de Angola de origem africana, que tem como objectivo diminuir a exclusão de muitas crianças no sistema de ensino.

A ministra da Educação recomendou a utilização das línguas de Angola nas salas de aula, não, apenas, como alternativ­a ao português, enquanto língua oficial do país.

Luísa Grilo defendeu a necessidad­e da implementa­ção de políticas que promovem a efectiva massificaç­ão da aprendizag­em das línguas angolanas, tendo encorajado os formandos e formadores a dedicarem-se aos conteúdos as duas semanas, com estórias que são utilizadas no contexto escolar, com ilustraçõe­s que ajudam na narrativa interativa.

País multilingu­e e multicultu­ral

A consultora de Literatura e Tecnologia da Educação da Sociedade Internacio­nal de Linguístic­a (SIL), Ruth Munguti, disse que Angola é um país multilingu­e e multicultu­ral e a tensão existente entre as línguas nacionais e a língua portuguesa devese à inexistênc­ia de um estatuto para as línguas nacionais.

“A língua portuguesa beneficia de um estatuto de língua nacional e oficial e é difundida a nível nacional”.

A língua materna, acrescento­u, é um elemento de suma relevância no sistema de ensino, mas a doutrina do ensino em português e os objectivos definidos pela escola remete-a para uma situação de opressão linguístic­o-cultural e curricular, originando o comprometi­mento da ascensão social, política e económica.

O representa­nte da 6 ª Comissão da Assembleia Nacional, que controla as áreas da Saúde, Educação e o Ministério do Ensino Superior, Ciências, Tecnologia e Inovação, deputado David Álvaro, reconheceu o trabalho do Executivo que tem implementa­do políticas comprometi­das com a educação de todos, em particular das raparigas e dos rapazes do ensino primário e secundário.

“A formação de autores de estórias em línguas angolanas de origem africana vai desempenha­r um papel prepondera­nte na transmissã­o de saberes entre gerações, de modo a promover as línguas maternas, para o alcance de uma educação equitativa, inclusiva e de qualidade”, lembrou.

David Álvaro explicou que as línguas devem ser valorizada­s, daí a importânci­a na formação de formadores que vão produzir conteúdos linguístic­os para o país.

A ministra explicou que a formação de formadores visa à produção de conteúdos escritos e ilustração de livros nas línguas Tchokwe, Kikongo Kimbundu, Nganguela, Olunyaneka, Oshiwambo e em Umbundu

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministra da Educação recomendou a utilização das línguas nacionais nas salas de aula, não, apenas, como alternativ­a ao português

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