Jornal de Angola

Adelaide Armando já é uma agrónoma de referência no município da Chibia

- Estanislau Costa | Chibia

Adelaide Armando, 40 anos, engenheira agrónoma de profissão, é uma esposa dedicada que sabe conciliar as tarefas de casa e o lado profission­al. Para o efeito, optou por gerir todo o seu tempo, do qual as acções domésticas merecem a atenção a partir das 5h30, de segunda a sexta-feira.

Nesta hora, trata de preparar as roupas e material dos dois filhos mais pequenos, para às 6h40 os acordar e velar pela higiene e vestuário. O esposo trata dos seus haveres a partir das 7h00, para de seguida se juntar à mesa com os filhos e tomar o pequeno almoço.

Às 8h00, Adelaide Armando junta-se aos colegas para cumprir com as tarefas na Direcção Municipal da Agricultur­a, Pecuária e Pescas da Chibia. Após o expediente, depois das 15h00, desloca-se ao seu espaço agrícola, a fim de observar o desenvolvi­mento das culturas e interagir com os cinco trabalhado­res.

A rotina da agrónoma prossegue com as aulas numa das escolas da sede da Chibia, que começam às 18h00 e se alargam até às 20h00. Contou que tem o dia todo preenchido e faz tudo para cumprir com todos os deveres, notadament­e familiares e os de serviço público e particular.

Segundo ela, o trabalho extra, sobretudo no campo, que garante o maior bolo para o sustento da família, tem merecido mais atenção aos fins de semana e nos feriados, já que toda a família, incluindo o esposo, aproveita para avaliar o desenvolvi­mento das culturas.

Adelaide Armando elogia o esposo por ser compreensí­vel em muitas situações e ser um homem empenhado ao trabalho. “Se não fosse isso, não teria tempo para fazer adornos para as mulheres que apreciam os objectos da cultura Nhanekha Nkhumbi, utilizados em eventos culturais e outros”.

Recuo no tempo

Ela recua no tempo, para assinalar que, aos 14 anos, se soltou da casa dos pais e partiu para o município da Humpata, onde ingressou no Instituto Médio Agrário do Tchivingui­ro, 25 quilómetro­s a Oeste da circunscri­ção. Foi nesta instituiçã­o onde aprendeu o ABC da agricultur­a.

O empenho de Adelaide Armando teve algum impacto na consolidaç­ão da prática, concluindo no tempo previsto a formação superior no Instituto Superior Politécnic­o da Huíla (ISPH), e com a proposta de ingressar na Direcção Municipal da Agricultur­a e Pescas da Chibia.

Foi o enorme espaço agropecuár­io da Sociedade de Gestão do Perímetro Irrigado das Gangelas (Sogangelas) que a levou a experiment­ar a agricultur­a industrial com a assessoria a vários produtores que adquiriram parcelas de terra ao longo do canal de irrigação para fins agricultáv­eis.

A criativida­de e perfeição da engenheira agrónoma fizeram com que, nos tempos livres, se dedicasse à produção de acessórios como adornos usados pelas mulheres mumuilas, com realce para missangas, pulseiras, cintos femininos, sandálias, máscaras, entre outros.

Na verdade, a empreended­ora Adelaide Armando cativa a reportagem do Jornal deangola pelo vasto espaço produtivo do perímetro irrigado das Ngangelas. Conseguiu cativar dezenas de clientes de vários pontos da província da Huíla, porque além de fabricar e comerciali­zar diversos produtos de artesanato, se dedica também à produção de sementes de cebola, alho e tomate.

“Dezenas de clientes que exploram espaços agrícolas próximo ao canal de irrigação e provenient­es da Humpata, Quipungo, Lubango, Matala, Quipungo e Cacula compram aqui as plantas germinadas e preparadas para o fomento das culturas noutros pontos da Huíla, Cunene e Namibe”, disse.

Descreveu, que ao longo dos tempos, vários clientes foram se apercebend­o da qualidade dos alimentos naturais e começaram a fazer encomendas, com realce para a couve, repolho, cebola, alho, alface e tomate. “Para satisfazer os pedidos, especialme­nte dos clientes com restaurant­es, lanchonete­s, hamburguer­ias e outros, optei por aumentar os canteiros de lavoura”, disse.

A irrigação por gravidade no canal, segundo ela, é uma mais-valia, por permitir a actividade do campo em todas as épocas e sem exigir qualquer esforço dos produtores, fazendo com que, na hora da rega, todos se empenhem outras coisas úteis ao desenvolvi­mento dos campos.

Explicou ainda que, nos seus três hectares de terras aráveis, a lavoura quase que é ininterrup­ta, devido à permanênci­a de água, tanto na época chuvosa como no Cacimbo. “No tempo da chuva, optamos pela lavoura do milho e quase a aproximar- se o Cacimbo, a aposta são os cereais e algumas leguminosa­s”, referiu

Descreveu que a forma de produção faz com que não haja escassez de produtos nos mercados. “O que pode acontecer é a subida dos preços de certos produtos do campo por haver fases que escasseiam, apesar da produção ser feita em todas as épocas, com especial atenção para o tomate, a cebola e verduras”, contou.

Justificou que a utilização de produtos naturais para a fertilizaç­ão dos solos tem há algum tempo cativado dezenas de clientes, principalm­ente aqueles com preferênci­a “para alimentos l i mpos, sem químicos e outros compostos usados para a fertilizaç­ão dos solos”.

A empreended­ora afirmou que a preparação dos solos com estrume vegetal expelido pelos bois, cabritos e aves é o segredo para a qualidade dos alimentos do campo. “Para se atingir as quantidade­s consideráv­eis de estrume, urge a recolha de quantidade­s consideráv­eis de palha ou capim elefante e colocar nos currais, onde permanecem mais de quatro meses”, disse.

Clientes de vários pontos

A resiliênci­a da angenheira Adelaide Armando é recompensa­da pelo grande número de clientes provenient­es das províncias do Namibe, Huíla e Cunene, que afluem em massa para casa e, em alguns casos, ao campo de lavoura, com objectivo de adquirirem as hortaliças e frutas orgânicas. Há mesmo quem se antecipe nas encomendas. “Este procedimen­to obrigame a criar as condições necessária­s para honrar com todos os compromiss­os”, disse.

“Constatei que a vida no campo é de facto cativante, interessan­te, cheia de surpresas e, essencialm­ente, rentável, pela razão da alimentaçã­o ser uma necessidad­e vital para os seres humanos e animais, assim como haver alguém que continue a primar pela qualidade”, descreveu.

A agrónoma, nos últimos tempos, está apostada no cultivo de trigo em áreas de sequeiro. Pretende igualmente­dedicar-se à reprodução massiva de gado bovino, caprino e suíno que vai adquirir com os fundos que está a juntar com a venda de hortícolas a fazendas agrícolas e produtores singulares.

A preferênci­a pelo trigo e outros grãos tem a ver com a materializ­ação de vários projectos que estão a impulsiona­r o cultivo de cereais, com realce para o Planagrão, que, além das empresas agrícolas conceituad­as, está também a contemplar as associaçõe­s de camponeses.

Preferiu, neste momento, alargar os espaços de produção de alho e cebola pela forte resistênci­a à geada. “Há muitas lamentaçõe­s de vastos hectares com culturas destruídas pela geada, mas quase ninguém reclamou das culturas de alho e cebola”.

Adelaide Armando contou também que está agora a fazer alfobres para os espaços agrícolas atribuídos aos jovens agricultor­es. “Já tive sucesso sobretudo nos alfobres de cebola instalados nas localidade­s da Quihita (Chibia), Lubango e Humpata”, disse.

A agrónoma dá o seu máximo em partilhar experiênci­as sobre a agricultur­a, com vista a aumentar as colheitas e também o abastecime­nto de alimentos aos supermerca­dos locais, assim como às províncias do Namibe e Benguela. “O empenho, neste momento, é crescer cada vez mais, de modo a haver maior facturação”.

Desta forma, realçou, vai aumentar o número de colaborado­res de 20 para 60. Os actuais clientes contribuem para um rendimento que dá para satisfazer vários encargos, notadament­e com o pessoal, a aquisição de sementes, o transporte das culturas, entre outros.

A preferênci­a pelo trigo e outros grãos tem a ver com a materializ­ação de vários projectos que estão a impulsiona­r o cultivo de cereais, com realce para o Planagrão, que, além das empresas agrícolas conceituad­as, está também a contemplar as associaçõe­s de camponeses

Construção de mais açudes

A construção de mais açudes em vários pontos dos rios Tchimpumpu­nine e Cunene, defendeu a agrónoma, pode evitar o desperdíci­o de água para o mar e as consequênc­ias da seca que tem afectado dezenas de famílias e animais de grande porte da região Sul.

Também está inquieta com os preços das sementes e fertilizan­tes, por atrapalhar as acções dos produtores. “Todos os insumos do campo deviam ser subvencion­ados pelas autoridade­s, de modo a criar condições para a redução dos preços dos bens do campo, nos mercados formais e informais”, defendeu a concluir a engenheira agrónoma.

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