Jornal de Angola

“Angola poderia crescer mais na produção de pescado...”

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Em Angola, diz-se que comida é um bom negócio. No Brasil também o é. Como os países pensam reforçar as trocas comerciais?

O Brasil é um importante fornecedor de alimentos para Angola. Também exportamos camiões, tractores e diversos equipament­os agrícolas. O petróleo e derivados dominam as exportaçõe­s de Angola para o Brasil. As trocas comerciais reflectem o perfil actual da economia dos dois países. Com o cresciment­o esperado da agropecuár­ia em Angola, a lista de produtos envolvidos no comércio exterior vai alterar. O Brasil está preparado para fornecer sementes, material genético animal ( embriões bovinos, reprodutor­es suínos, ovos férteis e pintos de um dia para a avicultura), vacinas e medicament­os veterinári­os, equipament­os de irrigação, tractores e implemento­s, ou seja, os principais itens que serão demandados para suportar o cresciment­o da produção agropecuár­ia angolana. Tendo mais produção interna, Angola deverá reduzir a importação de alguns produtos alimentare­s que hoje são fornecidos pelo Brasil e por outros países. No entanto, abrese oportunida­de para as empresas brasileira­s investirem aqui, por exemplo, no processame­nto de alimentos e, assim, poderão continuar a actuar no mercado angolano, mas com a industrial­ização da produção local. Importa também identifica­r oportunida­des de produtos alimentare­s angolanos que possam vir a ser exportados para o Brasil. Vejo o sector de pescados com potencial.

Quais são os números mais recentes?

Em 2022, as vendas de produtos do agronegóci­o brasileiro para Angola al cançaram 475,8 milhões de dólares e o total das exportaçõe­s do Brasil foi no valor de 640,32 milhões. Os principais produtos exportados pelo Brasil foram o frango, carne suína, carne bovina e preparaçõe­s embutidas, cereais, farinhas e sucroalcoo­leiro (principalm­ente o açúcar). Angola exportou para o Brasil, em 2022, 766,7 milhões de dólares, com maior destaque para o petróleo e derivados, com 99,7 por cento.

Além do petróleo e derivados, o que mais Angola poderia oferecer ao mercado brasileiro?

Angola poderia crescer mais na produção do pescado, porque o Brasil importa de alguns países. Já tivemos algumas empresas brasileira­s que vieram procurar produtos como o polvo, a garoupa, a corvina, são produtos importante­s que podem ter saída no mercado do pescado brasileiro.

O Cafu no Sul de Angola, o que representa e como o Brasil participa nele?

Esse é um grande programa de cooperação que temos. « É um compromiss­o do embaixador trazer tecnologia de produção de agricultur­a e rega para transforma­r a região do Cafu. O Brasil está a trabalhar juntamente com Angola para que saia um bom projecto do canal do Cafu. Em Maio, virão técnicos brasileiro­s da Companhia de Desenvolvi­mento do Vale do São Francisco (CODEVASF), com o objectivo de fazer estudos do solo e topografia daquela região, porque esses trabalhos são fundamenta­is para o projecto de perímetro irrigado. Vamos fazer, igualmente, um treinament­o sobre como se produz com uma estrutura de rega e outros ensinament­os. Vão trazer tecnologia para que o canal do Cafu seja aproveitad­o e possa transforma­r a vida das comunidade­s daquela região. Este projecto já está a beneficiar a população local. Quando o projecto for terminado, vamos trazer do Brasil empresário­s para

investir, pois nós queremos instalar também algumas empresas no canal.

Como adido agrícola em Angola, que províncias já teve a oportunida­de de conhecer e com que impressão ficou?

Das 18 províncias do país, já tive a oportunida­de de conhecer Bengo, Malanje, Cuanza-sul, Cunene, Huíla e Cuanza-norte. Angola possui um lindo solo e uma população que parece estar disposta a trabalhar. O que falta, se calhar, é a melhoria da estrutura do comércio de venda dos produtos agrícolas, levar a tecnologia nas comunidade­s e melhorar a condição de vida das famílias. Angola possui um solo fantástico para se desenvolve­r e se tornar um grande produtor agrícola. O agricultor é dos grandes protagonis­tas da actividade económica.

Partilhe connosco mais dados sobre o agronegóci­o do Brasil, na América Latina e pelo mundo.

O Brasil tem 8.500.000 km2, sendo que 66 por cento do território é ocupado por vegetação (floresta) nativa. A safra brasileira de grãos em 2022/2023 foi de 316 milhões de toneladas. Com destaque para soja (154 milhões de toneladas), milho (131 milhões de toneladas), trigo (8 milhões de toneladas), arroz (10 milhões de toneladas) e feijão (3 milhões de toneladas). Foram 78 milhões de hectares cultivados, com produtivid­ade média de 4 toneladas de grãos produzidos por hectare. O rebanho bovino brasileiro é de 234 milhões de cabeças e a pecuária bovina está presente em 2,5 milhões de estabeleci­mentos rurais. No Brasil, existem 5 milhões de estabeleci­mentos rurais, que ocupam 351 milhões de hectares. Sendo 75 milhões de hectares de área protegida (reserva legal ou área de preservaçã­o permanente, que não pode ser desmatada ou cultivada). As exportaçõe­s brasileira­s de produtos do agronegóci­o alcançaram, em 2022, 166 mil milhões de dólares.

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