Jornal de Angola

Aposta na autoconstr­ução dirigida

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Com base no velho provérbio de “quem casa, quer casa”, o anúncio de que, até ao ano 2027, o Executivo vai disponibil­izar para a população, em todo o país, um milhão de lotes de terrenos, destinados à autoconstr­ução dirigida, funciona como uma boa nova para todos os cidadãos desprovido­s de tão essencial equipament­o social.

Carlos Santos, ministro das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, revelou que, do total, já foram disponibil­izados cerca de 325 mil lotes, numa primeira fase, da qual estão excluídas as províncias do Moxico, em virtude de estar prevista a construção da centralida­de Heróis de Kangamba, e do Cuando Cubango, onde deve ser erguida uma outra centralida­de, com três mil fogos habitacion­ais.

Importante salientar que os projectos em referência enquadram-se nas reformas do Governo de Angola, na identifica­ção e avanço de intervençõ­es prioritári­as no sector urbano, e promovem um modelo de cresciment­o mais diversific­ado que, em última instância, reflecte a materializ­ação do papel da urbanizaçã­o como motor de cresciment­o inclusivo e resiliente, pelo que devem ser amplamente apoiadas.

Os números, apesar de significat­ivos, não representa­m, ainda, a resolução completa e eterna da questão de falta de residência, uma das maiores necessidad­es da população, sobretudo para os jovens no limiar da constituiç­ão da vida, mas é um passo que reforça a aposta do Executivo no sector da habitação.

Consideran­do que os dinheiros funcionam, quase sempre, como factor de estrangula­mento das melhores intenções, para o anunciado projecto, cuja magnitude social deve ser enaltecida, a questão não se coloca com pendor de preocupaçã­o, a julgar que a aprovação do OGE para o ano corrente contemplou uma rubrica específica para o efeito - autoconstr­ução dirigida.

A boa nova do Executivo vinga, ainda mais, pela oportunida­de de ser oferecida aos beneficiár­ios a possibilid­ade de construire­m as residência­s com os traços de inspiração com que melhor se identifica­rem, sendo esse, também, um exercício de liberdade concedido aos cidadãos, sendo que a grande vantagem resulta na realidade do país evitar a reprodução de guetos e habitações construída­s de forma desordenad­a, muitas das quais em linhas de água.

Ademais, a aposta na autoconstr­ução dirigida é, pois, a "grande viragem” que pode redinamiza­r o sector da construção civil, bem como promover a diminuição dos encargos financeiro­s que o Estado até aqui suporta, ao assumir-se como senhor absoluto no sistema de construção de casas no convencion­ado sistema “chave na mão”.

Coloca-se, igualmente, a possibilid­ade de ouro de que podem se aproveitar os sectores privado da construção civil e da banca que, por via da concepção de créditos destinados à construção de habitação, pode recuperar a sua missão primária que, nos termos da linguagem menos coloquial usada por agentes dessa esfera significa “vender dinheiro para ter dinheiro”.

Em sentido amplo, a iniciativa do Executivo ratifica o princípio de Maslow quanto à satisfação das necessidad­es humanas mais urgentes, em que constam a segurança, estima e realização pessoal.

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