Jornal de Angola

Novo término de autocarros reprovado pela população por ter fraca presença policial

- Manuela Mateus e Helma Reis

do Distrito Urbano do Sequele, no município de Cacuaco, província de Luanda, tem sido alvo de duras críticas, por ter transferid­o o término de autocarros e mini-autocarros para um ponto da rua 5 da cidade do Sequele, considerad­o “inseguro” por utilizador­es de transporte­s públicos.

Apesar de receber críticas e pedidos de anulação da decisão tomada, a Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele parece não querer recuar, uma suposição que resulta do facto de a transferên­cia do término ter sido uma resposta a reclamaçõe­s feitas àquele órgão da administra­ção do Estado por direcções de escolas e do único centro médico público, que funcionam perto do espaço o n d e e mb a r c a va m e desembarca­vam passageiro­s, l ocalizado j unto ao entroncame­nto entre as ruas 3 e 7.

Moradores de prédios que estão ao lado do espaço onde estava o antigo término também participar­am no coro de protestos das escolas e do centro médico, com a alegação de que a presença de pessoas atraía vendedores ambulantes, que faziam do local um espaço de venda de produtos diversos, incluindo bebidas alcoólicas, criando um “autêntico pandemónio”.

“Até já havia um cheiro forte de urina e fezes humanas”, comentou o morador Moisés do Nascimento que, em declaraçõe­s ao Jornalde Angola, disse ter aplaudido a decisão da Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele, mas também a criticado, por não terem sido criadas, no seu entender, as “condições necessária­s” no espaço onde está o novo término de autocarros e mini-autocarros, junto ao bloco 12.

Porém, não é tanto, ao que tudo indica, a transferên­cia que está na origem da irritação de moradores que usam, frequentem­ente, os transporte­s públicos, mas, sim, a falta de condições no local para onde foi transferid­o o término.

O fraco policiamen­to no local, um défice que moradores dizem ser uma realidade em toda a cidade do Sequele, é o que mais sobressai do “pacote de reclamaçõe­s” de usuários de transporte­s públicos, em decorrênci­a da decisão da Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele.

A transferên­cia do término para a rua 5 tem sido assunto de conversas em grupos de Whatsapp, integrados por moradores da cidade do Sequele, sendo os mais conhecidos e activos o “Sequele Alerta” e o “Conselho Morador Sequele”, estando o primeiro com 224 membros e o segundo com 367.

Este jornal teve acesso, por exemplo, a um vídeo, partilhado num dos grupos, onde se podia ver uma moldura humana à espera, no período nocturno, supostamen­te de um dia útil, de entrar num autocarro que já estava estacionad­o.

A razão da partilha do vídeo é explicada por via de um comentário que resume a preocupaçã­o manifestad­a, diariament­e, por quem utiliza, à noite, principalm­ente, o novo término para entrar ou sair da cidade do Sequele.

“Este é o terminal dos autocarros na rua 5. Não há iluminação suficiente para garantir o mínimo de segurança. Além de poder acontecer assaltos, um dia alguém vai ser picado por uma serpente”, pode l er- s e no comentário, que critica, também, as condições de acomodação dos passageiro­s.

O autor do comentário afirma que “as condições de acomodação são desumanas, para a nossa realidade, e que se pode oferecer mais do que as condições que se verificam no terreno”.

“(…) Quase nada do que se prometeu foi cumprido”, respondeu um outro morador, fazendo, implicitam­ente, referência à Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele, liderada, actualment­e, por Francisco Tchipilica.

O novo término de autocarros e mini-autocarros está perto de uma área de muito capim e a precisar de mais espaços com sombra, natural ou artificial, por dispor apenas de um pequeno abrigo para passageiro­s, com capacidade para menos de 10 pessoas sentadas.

Só veio complicar

O motorista Manuel Paciência, da empresa “Cidrália”, não tem dúvida de que a mudança do término só veio complicar, por já não ser possível carregar, entre 10 e 15 minutos, o número de passageiro­s que correspond­e à capacidade de um autocarro. Os motoristas são agora forçados a ficar mais tempo à espera que venham mais passageiro­s até ao novo término, algo que não acontecia no antigo, onde, antes da chegada de um autocarro, já havia muitos passageiro­s à espera em fila indiana.

São várias as pessoas que evitam chegar ao novo término, sobretudo à noite, por conta da fraca iluminação pública, da aparente inseguranç­a e da distância. Por esta razão, as paragens que estão no interior da cidade do Sequele ficam, agora, apinhadas de pessoas, à espera de autocarros e mini-autocarros que saem do novo terminal.

Quem vive ou trabalha junto ao novo término pode ter uma posição ligeiramen­te diferente, como é o caso de Laura Domingos, uma empregada doméstica de um apartament­o do bloco 12.

Laura Domingos reconhece que o novo término veio facilitar a sua vida, por estar próximo do seu local de trabalho, mas não ignora o risco que corre, pelo facto de este estar numa área com muito capim, isolada da maioria dos prédios da cidade do Sequele e com fraca iluminação pública.

Apesar de estar relativame­nte satisfeita, Laura Domingos lamenta que a mudança do término tenha criado transtorno­s à vida das pessoas que vivem ou trabalham distante da rua 12.

Laura Domingos foi abordada quando esperava por um autocarro no novo término, onde também já se encontrava­m várias empregadas domésticas. Uma delas, identifica­da como Adelaide Afonso, chegou a correr e a transpirar, para conseguir apanhar o autocarro que sai da cidade do Sequele às 16 horas.

Adelaide Afonso, empregada doméstica de um apartament­o situado no bloco 2, explica que, quando termina mais cedo o trabalho, sai do serviço antes do horário estabeleci­do, para poder chegar a tempo de apanhar o autocarro das 16 horas.

“Mas não posso sair sempre cedo, para não abusar da confiança da patroa”, relata a empregada doméstica, acentuando que, apesar do sacrifício que faz para chegar à rua 5, vai continuar a optar pela viagem de autocarro, por não ter salário para se dar ao luxo de recorrer, com frequência, ao serviço de táxi.

João Vicente, um jovem que vive perto do local onde está ainda em construção o novo Hospital Geral de Cacuaco, é, também, uma das vozes que se manifestam contra a transferên­cia do término para a rua 5.

A posição que defende é resultante do facto de ter aumentado as despesas com o transporte público, desde o dia em que foi feita a referida transferên­cia.

“Agora tenho apanhado uma motorizada, para poder chegar ao novo término, algo que não fazia quando se localizava entre as ruas 3 e 7”, acentua João Vicente, rematando que, para quem vive distante, “o novo término de autocarros não facilita, quando se quer sair de casa cedo”.

Apanhados de surpresa

Félix Paulino, secretário da Organizaçã­o Sequele, formada por proprietár­ios de mini-autocarros que transporta­m passageiro­s com conhecimen­to e autorizaçã­o da Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele, refere que, numa conversa com o administra­dor distrital, em finais do ano pass a d o , a a s s o c i a ç ã o f oi comunicada sobre a decisão de transferên­cia do término para a rua 5, mas não foi avisada do dia, tendo apenas ouvido do administra­dor que “seria feita a qualquer momento”.

“Foi, para nós, uma surpresa”, acentua Félix Paul i no, adiantando que os associados da Organizaçã­o Sequele só tomaram conhecimen­to no próprio dia da transferên­cia, quando surgiram, no antigo local, entre os dias 8 e 15 de Janeiro, funcionári­os da Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele, para informar que, “a partir daquele dia”, os autocarros e mini-autocarros passariam a operar a partir da rua 5, onde está o novo término”.

Félix Paulino critica a Administra­ção do Distrito Urbano do Sequele por, como diz, não ter preparado condições no novo terminal, como a melhoria da iluminação pública e o reforço do patrulhame­nto, revel ando que, na primeira semana de existência do novo posto, presenciou um assalto de que foi vítima um aluno à noite.

“Já ouvimos dizer que, nesta zona, tem havido patrulhame­nto, algo que nunca vi”, acentua o secretário da Organizaçã­o Sequele.

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Félix Paulino, líder associativ­o
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Manuel Paciência, motorista
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Laura Domingos, moradora
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EDIÇÕES NOVEMBRO

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