Jornal de Angola

A revolução da cibersegur­ança

- Pedro Monzelo * * Especialis­ta em Cibersegur­ança e Cibercrime da KPMG

Vários estudos realizados em termos de padrões e tendências de cibersegur­ança têm apontado para os mesmos resultados: a tendência é de cresciment­o em termos de volume, sofisticaç­ão e impacto dos ciber-ataques.

Após os efeitos da pandemia, o Business Continuity Institute voltou a introduzir os ciber-ataques no topo da lista de riscos de continuida­de de negócio, com previsão de prevalênci­a ao longo dos próximos cinco anos. Com esta apreciação, a instituiçã­o aponta que o maior factor de risco para a continuida­de das operações e do negócio das organizaçõ­es, são as ameaças relacionad­as com a segurança cibernétic­a.

Estudos adicionais como o Africa Cyber Security Outlook da KPMG, apontam para o aumento do volume dos ataques de cibersegur­ança a ocorrer em África, nomeadamen­te ataques de ransomware, com tendências de cresciment­o anuais superiores a 100% no continente.

No contexto de Angola, é facilmente observável as consequênc­ias destas tendências. Tem-se verificado um aumento significat­ivo dos ataques a entidades prestadora­s de serviços essenciais, cujos impactos têm afectado directamen­te a sua capacidade de entrega dos seus produtos e serviços. Pelo lado positivo, estes ataques apesar de levarem à interrupçã­o de actividade­s críticas de negócio, não tomaram proporções ao ponto de impactarem profundame­nte os direitos humanos da sociedade angolana, e o seu acesso a bens e serviços essenciais.

É importante igualmente salientar que, no que toca à segurança cibernétic­a, os esforços não se devem limitar à prevenção e recuperaçã­o de incidentes que ponham em causa as operações da organizaçã­o, devendo também cobrir os pilares relativos à salvaguard­a da confidenci­alidade e integridad­e da informação. De acordo com o Global Cybersecur­ity Outlook de 2024, realizado pela World Economic Forum, 70% das organizaçõ­es reviram as suas estratégia­s de cibersegur­ança, por influência do actual contexto de tensões geopolític­as. É previsível que este contexto continue a intensific­ar a ocorrência de ataques que põem em causa a disponibil­idade da informação (e, consequent­emente, a capacidade de entrega de produtos e serviços), assim como aumentar riscos relacionad­os com a ciber-espionagem e a prevalênci­a de agentes que têm por objectivo, de forma persistent­e, roubar informação para diversas finalidade­s (nomeadamen­te financeira, competitiv­a e/ou para contexto de guerra). Estes riscos não só representa­m uma ameaça para as organizaçõ­es, como para os direitos de privacidad­e e segurança dos cidadãos.

Em Angola tem existido um esforço por forma a reforçar a estratégia de cibersegur­ança nas organizaçõ­es. Alguns reguladore­s têm trabalhado no sentido de estabelece­r regras e requisitos mínimos de segurança a serem cumpridos, procedendo igualmente à sua inspecção e supervisão. No entanto este trabalho não é suficiente, sendo necessário operaciona­lizar uma estratégia macro, que seja aplicada de forma transversa­l às organizaçõ­es críticas para a sociedade, independen­temente do seu sector e contexto regulament­ar.

Face ao actual contexto económico do país, com a moeda desvaloriz­ada e o mercado conservado­r no consumo de recursos, torna-se crítico que as organizaçõ­es sigam uma abordagem baseada em risco, por forma a priorizar os investimen­tos em alinhament­o com os objectivos e especifici­dades do negócio, assim como com as novas tendências do cibercrime (nomeadamen­te através da utilização de tecnologia­s emergentes). É crucial que as estratégia­s desenvolvi­das tenham uma visão focada nos três pilares basilares da gestão da informação:

• Pessoas - através do estabeleci­mento de planos de formação, capacitaçã­o, sensibiliz­ação, e exercitaçã­o contínua dos quadros da organizaçã­o (incluindo cargos técnicos e não técnicos);

• Tecnologia­s – que devem ser implementa­das consideran­do os processos internos da organizaçã­o, capacidade em termos de dimensão e competênci­a dos recursos internos, a capacidade de integração com o restante parque tecnológic­o da organizaçã­o, assim como a igual inclusão de tecnologia­s emergentes para acelerar e automatiza­r operações de segurança;

• Processos – a ser desenhados, formalizad­os e operaciona­lizados, em alinhament­o com as capacidade­s, cultura e perfil de risco da organizaçã­o.

É fundamenta­l o patrocínio da administra­ção para estes investimen­tos, uma vez que os custos associados à resolução de incidentes, nomeadamen­te em termos de alocação de recursos, perdas operaciona­is, coimas e danos reputacion­ais, historicam­ente têm vindo a ser demonstrad­os como superiores aos investimen­tos necessário­s para a sua prevenção. Acima de tudo, é fundamenta­l que a gestão de topo se mantenha focada em assegurar a missão que a sua organizaçã­o tem para a sociedade e para o país, cujo valor é intangível e a sua salvaguard­a deverá ser prioritári­a para a organizaçã­o.

Pessoas - através do estabeleci­mento de planos de formação, capacitaçã­o, sensibiliz­ação, e exercitaçã­o contínua dos quadros da organizaçã­o (incluindo cargos técnicos e não técnicos)

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola