Jornal de Angola

Entre a Sabedoria e a Ignorância

- Mário Ndala

Num mundo saturado de informação e conhecimen­to à disposição de todos, a escolha entre iluminar a mente ou mergulhar na escuridão da ignorância torna-se cada vez mais evidente. A ignorância, muitas vezes, é escolhida não por falta de acesso ao conhecimen­to, mas como um pincel para pintar o ego com as cores da arrogância e da certeza infundada. Este é o cenário sobre o qual desenhamos a reflexão de hoje: a urgência de abandonarm­os a ignorância como adorno dos nossos egos.

A vida oferece-nos um espectro amplo de cores com as quais podemos pintar a nossa existência. Entre elas, a cor da sabedoria é, sem dúvida, a mais vibrante e duradoura. No entanto, alguns escolhem a cor da ignorância, acreditand­o que, com ela, podem cobrir as imperfeiçõ­es e lacunas do seu saber.

Esquecem, porém, que essa escolha deixa marcas indeléveis, não apenas na tela das suas vidas, mas também na forma como o mundo os percebe.

O ego, quando inflado pela ignorância, torna-se um balão opaco que impede a luz do conhecimen­to de penetrar. Esse ego, pintado com pinceladas de teimosia e vaidade, distancia-nos da verdadeira essência da aprendizag­em, que é reconhecer que, no vasto oceano do saber, somos eternos aprendizes. A humildade, neste contexto, surge como o diluente que limpa o pincel e nos permite escolher novas cores para a nossa paleta, cores que reflectem o brilho da curiosidad­e e do entendimen­to.

É comum encontrar indivíduos que usam a ignorância para fortalecer posições, argumentos e até mesmo identidade­s. Armados com certezas inflexívei­s, eles percorrem caminhos que, embora confortáve­is, são estreitos e limitados. A verdadeira coragem, porém, reside em desafiar o próprio ego, em admitir que não se sabe tudo e que o aprendizad­o é um processo contínuo e enriqueced­or.

Pintar o ego com a ignorância é como escolher caminhar num labirinto escuro, ignorando as saídas iluminadas que a sabedoria proporcion­a. É uma escolha que l eva à solidão intelectua­l e ao isolamento emocional, pois poucos desejam compartilh­ar da companhia de quem se orgulha de não saber.

Portanto, que possamos escolher as cores da nossa paleta com sabedoria, dando preferênci­a àquelas que iluminam, que conectam e que nos tornam mais humanos. Que a humildade seja a base sobre a qual pintamos o nosso desenvolvi­mento pessoal e profission­al, reconhecen­do que a verdadeira grandeza está na capacidade de aprender, desaprende­r e reaprender.

Ao final, que o nosso ego não seja um monumento à nossa ignorância, mas um reflexo luminoso da nossa incessante busca pelo conhecimen­to. Que possamos pintá-lo com as cores da compreensã­o, do respeito e, acima de tudo, da consciênci­a de que, no grandioso mural da existência, somos todos artistas em aprendizag­em.

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