Jornal de Angola

O humor como ferramenta para amenizar adversidad­es da vida

- Joaquim Xanana * * Psicólogo

“Não se esqueça que o nosso bom humor de hoje pode ser determinan­te para permanecer­mos e desafiarmo­s o dia de amanhã”

A palavra humor surgiu na medicina humoral dos antigos gregos. Naqueles tempos, o termo humor representa­va qualquer um dos quadros fluídos corporais (ou humores), sangue fleuma, bílis amarelo e bílis negra - que se considerav­am ser responsáve­is por regular a saúde física e emocional humana.

Todavia, falar de humor parece-nos não ser tão simples, sobretudo pelas encenações que decorrem disso. Os seus estudos mostram, por exemplo, o humor como virtude, como ferramenta organizaci­onal no ambiente de trabalho e, principalm­ente, como uma reacção fisiológic­a, que arregiment­a a auto-estima.

A dimensão social do humor tornanos socialment­e mais atraentes, sobret udo pelo objectivo expressivo, e coloca- nos num estado de espírito muitas vezes intrínseco­s das relações interpesso­ais e mesmo institucio­nais. Porque também funciona para evocar aquilo que não conseguiri­a ser dito doutra forma. E aparecer em forma crítica, mais delicada ( s uave) ou no modo de apontar subtilment­e erros.

Por conseguint­e, o humor demonstra-nos estar associado à natureza psicológic­a e social, reafirmand­o até mesmoaverd­ade daquele velho ditado: “Se você quiser demostrar uma questão, conte u ma h i s t ó r i a , m a s levantar várias questões e cruzar narrativas, requer o humor”.

A sua importânci­a para a s o c i e d a d e - Segundo Barres: o humor é uma necessidad­e porque possibilit­a reduzir a dor da a l ma, mesmo que, por breve momento, também é um instrument­o de auto-preservaçã­o, de comunicaçã­o e de criação de vínculos.

Obviamente que existem graus distintos de problemas ou preocupaçõ­es marcadamen­te adversas, como a separação conjugal unilateral, desemprego, consumo excessivo de álcool, violência moral, fuga à paternidad­e, solidão invol untária, os desastres ambientais, depressão, a violência patrimonia­l, as mudanças climáticas, adultérios, a inflação, entre outros).

Estes condiciona­lismos, tendencial­mente deixam-nos estressado­s, desorienta­dos ou mesmo desesperad­os, face aos desencanto­s do mundo globalizad­o. Mas não parece existir, na verdade, um tipo específico do tema “humorístic­o”. Em princípio tudo pode tornar-se objecto de humor. É um facto que nos rimos tanto frívolo quanto do grave, do profano, como do sagrado, da felicidade como da desdita; do amor, da sociedade, dos outros, de nós mesmos, enfim, rimos da vida e dos sonhos, mas também, conseguimo­s rir destes casos e de outras baforadas.

Um testemunho famoso sobre o humor como forma de auto-preservaçã­o se registou num dos campos de concentraç­ão entre 1942/1945, subscrito pelo médico neurologis­ta e psiquiátri­co Victor Emil Franque, num período que havia perdido o pai, a mãe e a esposa. Foi com esta essencial ferramenta (humor) que lidou com aquela cruel realidade.

Isto é, habilitou-se com dotes humorístic­os, cuja postura irradiou nas circunstân­cias os demais, amenizaram com as adversidad­es da vida e se notabiliza­ram de forma cómica até que transitara­m para a ressociali­zação.

Assim, sucede no referido espaço, como no ambiente hospitalar e outros. Por isso, a simpatia e atenção de alguns profission­ais não são suficiente­s às eventuais baixas de estima (pacientes, reclusos e outros em condições homólogas). É justamente nestes momentos que qualquer manifestaç­ão de amor, carinho e atenção fazem a diferença, principalm­ente se acompanhad­os de alegria e bom humor, ou seja pela turma dos humoristas.

Segundo o radialista e humorista Pablo Wenceslau Brás, “é tão gratifican­te que pode levar alegrias às pessoas que estão tristes e aflitas, que perderam os seus entes queridos ou estão em causa. Acho que isto não tem preço. Ainda bem que a gente tem humor para dar uma cor a este momento tão preto e branco, com a leveza do humor é possível transforma­r o mundo”.

Nas últimas décadas, é notável a expansão destes operadores da arte (humoristas) e que j ulgamos ser oportuno potenciálo­s, na capacidade de intervençã­o em sessões in(formais), cuja partilha arregiment­am o bem-estar.

Isto sinaliza o desempenho destes no mosaico cultural. Por conseguint­e, será necessário revitaliza­r ou construir as salas de espectácul­os ou espaços adaptáveis para a recriação nos municípios, distritos e comunas. Este propósito será radiante para os entusiasta­s que deixariam de estar exclusivam­ente limitados com as exibições televisiva­s (TV), quer interna, quer externas.

De acordo com Fernando Nardo “o humor está na essência da rotina diária e o olhar atento do humorista é fundamenta­l para transforma­r as situações e espalhar sorrisos. Com o acesso e o alcance da TV e da rádio, o humor rompe barreiras e tem sido um poderoso aliado para l evar alegrias às pessoas, em tempos difíceis”.

Todavia, o senso do humor remetenos na qualidade de bem-disposto e evita-nos desequilib­rar com pouca fervura e saber ver com destreza e integridad­e o l ado e ngraçado e menos dramático das situações difíceis. A cantinflag­em faz bem à saúde física e mental, em face do turbilhão do quotidiano.

O senso do humor remete-nos na qualidade de bemdispost­o e evita-nos desequilib­rar com pouca fervura e saber ver com destreza e integridad­e o lado engraçado e menos dramático das situações difíceis

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