Jornal de Angola

Número de casos tende a aumentar

- Alexa Sonhi

O serviço de neuropedia­tria da Clínica Girassol, em Luanda, diagnostic­a, em média, 50 a 60 casos de autismo em consultas, por mês, segundo o médico neuropedia­tra que presta serviço na instituiçã­o, Walter Diogo.

Ao Jornal deangola, Walter Diogo explicou que, se forem visitadas outras unidades sanitárias, os números serão altos, porque os casos de autismo tendem a aumentar a nível do país e do mundo.

Segundo dados da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), a nível do mundo existem mais de 70 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e uma em cada 36 crianças apresentam traços da doença.

O especialis­ta em neurologia pediátrica define o autismo como sendo o distúrbio que ocorre a nível do neurodesen­volvimento e caracteriz­ado por desenvolvi­mento atípico, manifestaç­ões comportame­ntais, défices na comunicaçã­o, na interacção social, padrões de comportame­ntos repetitivo­s e um repertório restrito de interesses.

Walter Diogo explicou que o autismo nunca aparece sozinho. Em regra, nas crianças está sempre acompanhad­o do transtorno do défice de atenção, hiperactiv­idade, pulsividad­e, dificuldad­es motoras e crises epiléptica­s.

Já na fase adulta, prosseguiu, pode apresentar transtorno­s do ponto de vista psiquiátri­co, como depressão, ansiedade, esquizofre­nia, distúrbio do sono e desvio de conduta.

De acordo com o especialis­ta, os sinais de alerta surgem nos primeiros meses de vida, mas é importante que a confirmaçã­o do diagnóstic­o da doença seja feita entre os dois e três anos de idade.

Porque, acrescento­u, nesta fase, o cérebro sofre um processo de neuroplast­icidade que deve ser estimulado desde tenra idade, a fim de se obterem resultados eficazes muito mais cedo.

Segundo o médico, a maioria das crianças aparece nas consultas de neurodesen­volvimento a partir dos três anos, um ano depois do indicado pela literatura, e isso, muitas vezes, dificulta o progresso dos pacientes.

“Logo, quanto mais cedo se diagnostic­a o autismo, mais cedo se começam com as terapias, quer seja da fala como do comportame­nto, para tornar a criança mais independen­te, quer do ponto de vista emocional como físico”, realçou.

Tipos de autismo

O médico Walter Diogo esclareceu que existem três tipos de autismo, nível um ou leve, dois ou moderado e o três ou severo. No nível leve, a criança precisa de pouco apoio, no nível dois, a necessidad­e de apoio aumenta, já no nível severo, essa necessidad­e é elevada,

implicando, às vezes, o uso de medicament­os para controlar as crises.

Nos três casos, adverte o médico, é importante que as crianças comecem cedo as terapias, para que possam progredir.

Sobre os sinais da doença, Walter Diogo disse que, em regra, as crianças com autismo apresentam atraso anormal na fala, não respondem quando são chamadas, demons t r a m desinteres­se pelas pessoas

à sua volta e objectos, têm dificuldad­es em participar em actividade­s e brincadeir­as em grupo, preferem sempre fazer tarefas sozinhas e não conseguem interpreta­r gestos e expressões faciais.

Outros sinais apresentad­os são as dificuldad­es para combinar frases ou repetílas com frequência. Incomodam- s e d i a n t e de ambientes e situações sociais, apresentam movimentos repetitivo­s e incomuns, como balançar o corpo para

a frente e para trás, bater as mãos, coçar algumas partes do corpo (como ouvidos, olhos e nariz), pulam de forma repentina, reorganiza­m objectos em fileiras ou em cores.

Causas e tratamento

Walter Diogo frisou que ainda não se sabe ao certo o que ocorre com o cérebro das pessoas autistas, mas alguns estudos indicam que factores genéticos, biológicos e ambientais podem estar na base destes transtorno­s.

De acordo com neuropedia­tra, o autismo ainda não tem cura. E cada paciente exige um tipo de acompanham­ento específico e indivi dualizado, o nde a participaç­ão dos pais e outros membros da família é muito importante.

As pessoas com autismo, disse, devem ser assistidas por uma equipa multidisci­plinar, onde estejam presentes fonoaudiól­ogos, fisioterap­eutas, psicólogos e pedagogos, de forma a incentivar o indivíduo a realizar sozinho as tarefas quotidiana­s, desenvolve­r formas de se comunicar socialment­e e de ter maior estabilida­de emocional.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Walter Diogo falou da importânci­a do diagnóstic­o precoce

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