Número de casos tende a aumentar
O serviço de neuropediatria da Clínica Girassol, em Luanda, diagnostica, em média, 50 a 60 casos de autismo em consultas, por mês, segundo o médico neuropediatra que presta serviço na instituição, Walter Diogo.
Ao Jornal deangola, Walter Diogo explicou que, se forem visitadas outras unidades sanitárias, os números serão altos, porque os casos de autismo tendem a aumentar a nível do país e do mundo.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a nível do mundo existem mais de 70 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e uma em cada 36 crianças apresentam traços da doença.
O especialista em neurologia pediátrica define o autismo como sendo o distúrbio que ocorre a nível do neurodesenvolvimento e caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, défices na comunicação, na interacção social, padrões de comportamentos repetitivos e um repertório restrito de interesses.
Walter Diogo explicou que o autismo nunca aparece sozinho. Em regra, nas crianças está sempre acompanhado do transtorno do défice de atenção, hiperactividade, pulsividade, dificuldades motoras e crises epilépticas.
Já na fase adulta, prosseguiu, pode apresentar transtornos do ponto de vista psiquiátrico, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, distúrbio do sono e desvio de conduta.
De acordo com o especialista, os sinais de alerta surgem nos primeiros meses de vida, mas é importante que a confirmação do diagnóstico da doença seja feita entre os dois e três anos de idade.
Porque, acrescentou, nesta fase, o cérebro sofre um processo de neuroplasticidade que deve ser estimulado desde tenra idade, a fim de se obterem resultados eficazes muito mais cedo.
Segundo o médico, a maioria das crianças aparece nas consultas de neurodesenvolvimento a partir dos três anos, um ano depois do indicado pela literatura, e isso, muitas vezes, dificulta o progresso dos pacientes.
“Logo, quanto mais cedo se diagnostica o autismo, mais cedo se começam com as terapias, quer seja da fala como do comportamento, para tornar a criança mais independente, quer do ponto de vista emocional como físico”, realçou.
Tipos de autismo
O médico Walter Diogo esclareceu que existem três tipos de autismo, nível um ou leve, dois ou moderado e o três ou severo. No nível leve, a criança precisa de pouco apoio, no nível dois, a necessidade de apoio aumenta, já no nível severo, essa necessidade é elevada,
implicando, às vezes, o uso de medicamentos para controlar as crises.
Nos três casos, adverte o médico, é importante que as crianças comecem cedo as terapias, para que possam progredir.
Sobre os sinais da doença, Walter Diogo disse que, em regra, as crianças com autismo apresentam atraso anormal na fala, não respondem quando são chamadas, demons t r a m desinteresse pelas pessoas
à sua volta e objectos, têm dificuldades em participar em actividades e brincadeiras em grupo, preferem sempre fazer tarefas sozinhas e não conseguem interpretar gestos e expressões faciais.
Outros sinais apresentados são as dificuldades para combinar frases ou repetílas com frequência. Incomodam- s e d i a n t e de ambientes e situações sociais, apresentam movimentos repetitivos e incomuns, como balançar o corpo para
a frente e para trás, bater as mãos, coçar algumas partes do corpo (como ouvidos, olhos e nariz), pulam de forma repentina, reorganizam objectos em fileiras ou em cores.
Causas e tratamento
Walter Diogo frisou que ainda não se sabe ao certo o que ocorre com o cérebro das pessoas autistas, mas alguns estudos indicam que factores genéticos, biológicos e ambientais podem estar na base destes transtornos.
De acordo com neuropediatra, o autismo ainda não tem cura. E cada paciente exige um tipo de acompanhamento específico e indivi dualizado, o nde a participação dos pais e outros membros da família é muito importante.
As pessoas com autismo, disse, devem ser assistidas por uma equipa multidisciplinar, onde estejam presentes fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos e pedagogos, de forma a incentivar o indivíduo a realizar sozinho as tarefas quotidianas, desenvolver formas de se comunicar socialmente e de ter maior estabilidade emocional.