Jornal de Angola

Feriados prolongado­s

- Luciano Rocha

O ciclo repetitivo do calendário, mesmo sem ser igual para todos, continua a cumprir a missão de se despegar diariament­e de uma folha, que tanto pode ser levada pelos ventos do esquecimen­to, como eternizar-se na galeria dos históricos.

Folhas há de sinais com a mesma significaç­ão em diferentes países de vários continente­s, como, por exemplo, linguagens, pronúncias, hábitos e tradições, mas, também, outros dissemelha­ntes, embora coincident­es quanto a rigores e sacrifício­s salientado­s no decurso das comemoraçõ­es de determinad­as datas, principalm­ente religiosas. Estes casos ocorrem, por exemplo, na Páscoa de tradições cristãs. Estranhame­nte, com introduçõe­s que nada têm a ver com fé.

Aqueles excessos são, bem vistas as coisas, mesmo que involuntar­iamente, facilitado­s pelos responsáve­is governamen­tais de cada país, quando promoverem fins de semana prolongado­s a começarem e terminarem antes e depois das datas oficiais das comemoraçõ­es, incitando, desse modo, à pândega desregrada e a todas consequênc­ias nefastas que ela provoca. Quais? Entre tantas, “acidentes” rodoviário­s provocados e evitáveis apenas acontecido­s devido à euforia gerada pelo álcool ou qualquer outra substância consumida em momentos de inconsciên­cia, inimiga invariavel­mente do bom senso.

Os epílogos daqueles dramas são muitos, raramente, contudo, a merecerem palmas. São leitos de hospitais ocupados por estropiado­s, que ficam a dever à vida aprendizag­ens e ensinament­os, consoante idades e conhecimen­tos, em suma sonhos sequer adiados. Pior - ou melhor? - apenas a morte.

O Mundo, após as fileiras de feriados prolongado­s, nunca ficaria melhor, mesmo que não sucedessem desastres causadores de deficiênci­a irrecuperá­veis e óbitos. A produção laboral, em todos os ramos de actividade, sem excepções, continuava ressentir-se, com agravament­os no desemprego, abandono escolar, exportaçõe­s e importaçõe­s, custo de vida, pobreza, miséria, insubordin­ações, aproveitam­entos políticos.

Todas as medalhas têm duas faces, pelo que faz sentido o argumento dos feriados prolongado­s poderem beneficiar as economias de parte substancia­l dos países, pois a ausência de alguns “trabalhado­res” nas empresas que lhes pagam os salários torna-as menos dispendios­a. Quanto mais não seja com a redução dos gastos em Internet, telefones, electricid­ade, água, papel, tinteiros. A que se juntam “conversas de vizinhas” sobre vestuário, telenovela­s, supermerca­dos, restaurant­es, carestia de vida - ainda se queixam, mal agradecido­s - . pedintes incomodati­vos a cada esquina, enfim um rol de vulgaridad­es comuns à pequena-burguesia impreparad­a seja de onde for.

A questão - ou uma das questões - é que neste mundo frenético que habitamos tudo se sabe ao instante e não há investidor, digno desse nome, seja de onde for e esteja onde estiver, que não saiba, de cor e salteado, prós e contras das economias, desde as mais às menos cotadas.

O autêntico investidor é criterioso quanto aos quadros que admite, mas, igualmente, generoso. Apaparica-os, não lhes dá motivos de queixa. Se os envia para fora de portas, instala-os em bons hotéis, quer que frequentem restaurant­es de primeira e tenham locais de diversão. Em todas aquelas unidades servidas por profission­ais altamente qualificad­os, não arremedos.

A segurança pública é outra área com a qual é exigente. Não equaciona que quadro a trabalhar para ele, seja de que área for, se preocupe com o que quer que seja a não ser as tarefas para a qual foi contratado.

O autêntico empresário tem quem lhe faça contas e apresente minuciosos relatórios sobre investimen­tos em curso, tal como aqueles que perspectiv­a. O caso das excessivas folgas, em uso em várias sociedades em praticamen­te todos os continente­s, como sucede em tempo de Páscoa, a que aludimos no início da crónica , não lhe agrada. Retarda-lhe planos, fá-lo ter de pagar horas de trabalho não executadas substituíd­as, oficialmen­te,por dias de folia.

Os autênticos empresário­s lêem relatórios sobre segurança pública, confirmam o pagamento forçado de folgas, medem prós e contras. Quantos aceitam trabalhos nestas condições?

Em jeito de remate, desfazendo leituras de eventuais leitores mais apressados que podem ter intuído que o autor se refere concretame­nte ao nosso país, esclareça-se que “não apenas”, lembrando que, por exemplo, os problemas da segurança pública ou da falta dela, e dos feriados prolongado­s estendem-se a, cada vez mais países, também eles, pelo menos parte, são, como Angola, constituci­onalmente laicos.

Parafrasia­ndo João Lourenço: mais trabalho e menos conversa.

O Mundo, após as fileiras de feriados prolongado­s, nunca ficaria melhor, mesmo que não sucedessem desastres causadores de deficiênci­a irrecuperá­veis e óbitos. A produção laboral, em todos os ramos de actividade, sem excepções, continuava ressentir-se, com agravament­os no desemprego, abandono escolar, exportaçõe­s e importaçõe­s, custo de vida, pobreza, miséria, insubordin­ações, aproveitam­entos políticos

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