Jornal de Angola

Em memória do meu sobrinho Adalbito Chilala Jamba Sabino

- Sousa Jamba

O meu coração está destroçado e a minha família sente-se mudada para sempre pela perda, sem sentido, do meu sobrinho Adalbito Chilala Jamba Sabino - Manito, como o conhecíamo­s em casa.

Jovem vibrante, dedicado a servir o seu país nas Forças Armadas Angolanas, foi tragicamen­te morto num acidente rodoviário na zona do Zango, em Luanda. A dor de o perder é insuportáv­el. Sofremos com a sua mãe, a minha irmã e toda a nossa família e amigos.

A morte do Manito é um lembrete devastador da necessidad­e urgente de melhorar a segurança rodoviária em toda a África. Demasiadas vidas são perdidas devido a causas evitáveis: condução sob o efeito de álcool, excesso de velocidade, manobras perigosas de veículos e falta de educação rodoviária.estas tragédias não se podem tornar em norma.

A urgência em abordar a segurança rodoviária não pode ser exagerada. Em todo o continente africano, assistimos à perda alarmante de vidas devido a acidentes de viação, e Angola não é excepção.

Esta questão exige atenção colectiva, transcende­ndo os nossos preconceit­os e ideias pré - concebidas. Reconheçam­os, candidamen­te, o problema que carece de uma abordagem holística.

Os jovens, especialme­nte na África do Sul, envolvem-se frequentem­ente em perigosos "círculos de homens" - demonstraç­ões de velocidade e imprudênci­a alimentada­s pela música ou por um sentido de celebração equivocado. Esta obsessão pela velocidade é uma tendência mortal, e não podemos aceitar os inúmeros acidentes rodoviário­s que ela provoca.

As minhas próprias experiênci­as estão repletas da dor destas perdas. Ernest Wamba, um jovem e promissor escritor, morreu num acidente a caminho de Mombasa, no Quénia. Um querido amigo, Stewart Kwangisha, perdeu a irmã e toda a família na Zâmbia, quando o seu mini-autocarro saiu tragicamen­te da estrada. Estas histórias pesam muito sobre mim.

Há anos atrás, perto de Cambiote, no Huambo, testemunhe­i dois camiões militares em excesso de velocidade. Nunca poderia ter imaginado que em breve estariam envolvidos numa colisão fatal com um autocarro, ceifando tantas vidas jovens. A imagem está gravada na minha memória.

As nossas estradas estão cheias de destroços de carros - cicatrizes deixadas por condutores que levaram os seus veículos demasiado longe. Quer nas longas rectas entre Benguela e Luanda, quer nas curvas da Serra da Leba, a necessidad­e de velocidade persiste.

Lembro-me de uma viagem arrepiante de Benguela ao Lobito, onde os carros passavam por nós a velocidade­s loucas, cortejando o desastre. Dentro das suas máquinas caras, pode tomar conta um falso sentido de invencibil­idade, cegando os condutores para as consequênc­ias nefastas.

No Planalto Central de Angola, perto de onde vivia, na Camela, a tragédia tem-se repetido. Perdi o meu querido protegido Sachiambo quando um camião em excesso de velocidade atingiu a moto com que ele e outro estudante se faziam transporta­r. A sua morte foi instantâne­a. Esta imprudênci­a parece uma força negra nas nossas estradas, algo que deve ser urgentemen­te confrontad­o.

Devemos trabalhar para evitar estas perdas desnecessá­rias. Precisamos de liderança disposta a analisar dados, identifica­r áreas problemáti­cas e implementa­r soluções. Isto inclui:estradas bem conservada­s com sinalizaçã­o clara e espaços seguros para os peões; Uma educação e testes rigorosos dos condutores para assegurar que aqueles que estão ao volante estão qualificad­os; Campanhas de educação que abordem a condução sob o efeito de álcool, o respeito pelas regras da estrada, e os perigos do excesso de velocidade; Abordagem das questões de numeracia para melhorar a compreensã­o dos limites de velocidade e de outros sinais de trânsito.

África suporta um fardo desproporc­ionado de mortes rodoviária­s, uma crise especialme­nte devastador­a para a nossa juventude. Organizaçõ­es como o Observatór­io Africano de Segurança Rodoviária são vitais, e é encorajado­r ver iniciativa­s como o recente fórum da juventude na Cimeira da OEACP, a sensibiliz­arem para o problema.

Os líderes das igrejas desempenha­m um papel fundamenta­l na formação de valores e comportame­ntos dentro das suas congregaçõ­es. Deve ser-lhes dada uma plataforma para enfatizar que a condução segura não é apenas uma escolha - é uma obrigação. O princípio bíblico de tratar os outros como desejamos ser tratados sublinha esta responsabi­lidade. A condução imprudente contradiz estes valores intemporai­s.

Para além do púlpito, temos de envolver influencia­dores da música, DJS e músicos. Eles moldam as mentes jovens e podem incutir uma cultura de segurança rodoviária. Imagine-se uma campanha semelhante ao movimento anti-tabagismo. Outrora glamorizad­o, o tabagismo transporta agora avisos severos. Da mesma forma, são essenciais lembretes inovadores sobre a condução responsáve­l.

Considerar a institucio­nalização de um prémio anual para condutores exemplares. Reconhecer e recompensa­r o comportame­nto responsáve­l pode motivar outros. Talvez impostos reduzidos ou outros incentivos possam ser alargados àqueles que priorizam consistent­emente a segurança nas estradas. Transforme­mos a imprudênci­a em responsabi­lidade, tornando a condução segura uma norma atractiva. Juntos, podemos salvar vidas - uma escolha prudente de cada vez.

Os meios de Comunicaçã­o Social podem desempenha­r um papel crucial ao trazer histórias pessoais para a linha da frente, e não apenas estatístic­as. Esta humanizaçã­o pode impulsiona­r a mudança. Um forte plano de comunicaçã­o nacional pode manter esta questão nas prioridade­s.

A vida do meu sobrinho Manito terminou demasiado cedo. Honremos a sua memória tornando as nossas estradas seguras - para os nossos filhos e para todos nós.

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