Visitantes e expositores pedem maior apoio às tradicionais “Festas do Mar”
Mário Faria, 73 anos, revelou que sente saudades das antigas comemorações e manifestou desagrado pela perda de valores e a não conservação do que era indispensável nas Festas de Verão, celebradas desde 1962
Tradições, ritos, mística e legado cultural, recreativo e desportivo marcaram as comemorações das Festas do Mar, que encerraram ontem na cidade de Moçâmedes, capital da província do Namibe. Porém, expositores e visitantes lamentaram a falta de apoio e declínio das qualidades culturais da festa, que hoje olham como um evento cada vez mais descaracterizado em relação às edições passadas.
Em busca de histórias sobre as tradicionais Festas do Mar, a reportagem do Jornalde Angola ouviu o testemunho de Mário Faria, 73 anos, natural de Moçâmedes, que se notabilizou pelo contributo dado para a organização da primeira edição das “Festas do Mar”, sob o comando dos Nativos, em 1985.
Mário Faria revela que sente saudades das antigas Festas do Mar e nega-se a comparar as actuais comemorações pelo facto de se sentir desagradado com a perda de valores e falta de conservação do que era indispensável nas também conhecidas Festas de Verão. Mas reconhece o empenho do actual Governo da Província do Namibe e da comissão organizadora para melhorar as coisas no lado cultural e económico.
Mário Faria começou por descrever que a sua participação, em 1985, foi na vigência do então comissário provincial Faustino Muteca, que redinamizou as festas com a criação da primeira comissão organizadora, na qual foi enquadrado para garantir a reposição do entretenimento social realizado
regularmente na Baía de Moçâmedes.
O interlocutor lembra que as antigas comemorações eram realizadas de forma simbólica, com vestígios da organização colonial ligada à parte cultural e desportiva, onde se destacavam várias actividades ligadas ao mar, como corridas de barcos à vela, concurso de pesca infantil por meio de pequenas embarcações, desenhos na areia da praia e a existência do “comboio bebé”, que circulava no recinto das festas.
“A ideia era fazer actividades simbólicas que movimentavam milhare s e milhares de pessoas. Procuramos enquadrar aquilo
que o colono deixou como legado em termos de comemoração e incorporar a nossa ideia para torná-la melhor. Foi uma época de muito trabalho e dedicação de quase todos, a destacar os estudantes do Instituto Maritimo
de Moçâmedes, do qual eu era director na altura”, disse.
Mário Faria sublinha que as edições das Festas do Mar antes d 2000 mantinham um legado cultural bastante forte, colocava-se em realce a exposição da Arte Humbali, através de uma representação artesanal feita com a antiga e famosa “pedra santa”, que permitiu maior alargamento do conhecimento da cultura dos nativos de Moçâmedes por parte dos visitantes de quase todas as paragens do mundo.
Enquanto promotor e organizador, Mário Faria tem memórias positivas e lembra com satisfação a participação activa de vários grupos de jovens vindos de Luanda,
graças ao envolvimento das empresas patrocinadoras que conseguiam movimentar centenas de crianças, adolescentes e jovens de toda a parte do país para demonstração de ginástica rítmica e outras atracçães no evento.
“As actuais Festas do Mar estão um pouco aquém da sua concepção inicial. Precisamos de resgatar os antigos hábitos para agregar maior valor aos que frequentam o evento. Perdemos muita coisa que caracterizavam as tradicionais Festas do Mar. Já não há concursos, actividades ligadas ao mar, portanto, está virada para grandes festanças que não agradam a todos”, manifestou Mário Faria.