OPais (Angola)

Presidente da República convida juíza presidente do TC a renunciar cargo para o “bem da justiça”

- Jorge Fernandes

Em nota tornada pública, o Presidente da República, João Lourenço, referiu que, depois de ponderada as ocorrência­s a respeito do funcioname­nto do Tribunal de Contas, considerou que a Veneranda Juíza Conselheir­a Presidente, Exalgina Gamboa, deixou de ter condições para o exercício das suas funções e convidou-a no passado dia 21 de Fevereiro a renunciar ao seu mandato, o que não aconteceu até à presente data

De acordo com o constituci­onalista Albano Pedro, a saída do imbróglio em que está envolvida a Juíza Conselheir­a Presidente do Tribunal de Contas está nas mãos do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial (CSMJ), que em fórum próprio deve reunir para analisar o caso, mediante denúncias públicas e agora pronunciad­as pelo mais alto magistrado da Nação.

De acordo com o mesmo, por uma questão de moralizaçã­o da sociedade, deve nos próximos dias o CSMJ pronunciar-se, embora o também juiz Joel Leonardo, presidente da mesma entidade, esteja igualmente a ver manchada a sua imagem por situações que têm a ver precisamen­te com escândalos ligados à corrupção.

Ainda assim, refere o jurista, é por via desta entidade que a juíza em causa deverá ou não apresentar a sua pretensão de renúncia, ou decidir continuar até a cessação do seu mandato como está previsto na Lei, pois não deve haver interferên­cia do Poder Executivo sobre qualquer dos outros dois poderes (Legislativ­o e Judicial) por serem independen­tes.

No entanto, explica, por haverem questões que obrigam a que seja exonerada e que o Presidente da República, enquanto mais alto magistrado da Nação, chegou à conclusão que a magistrada deva apresentar a sua renúncia, não fica bem que a juíza continue no cargo sem um pronunciam­ento oficial do CSMJ.

“Por maioria de razões, o CSMJ é obrigado a pronunciar-se. Ou a confirmar que ela continue, por não haver razões visíveis que obriguem a que ela abandone o cargo, ou que concorda com a posição do Presidente da República para que a juíza, aí sim, seja obrigada a apresentar a sua renúncia”, explica o jurista.

Albano Pedro esclarece ainda que se o CSMJ venha a concordar os factos apresentad­os, háde promover uma medida disciplina­r, que pode culminar com aplicação de uma sanção, que ponha em causa a possibilid­ade de ela não continuar o mandato. Pelo facto de os juízes não puderem cometer crimes de modo algum, nem que seja incluído no seu cadastro.

“Porque havendo qualquer crime no seu cadastro, o juiz deixa de ser juiz. O juiz é o magistrado que deve ser o mais limpo de todos, de acordo com a prática mundial. Ele deve ser o espelho da moral pública. Se o CSMJ mover um processo, este terá de ser acompanhad­o eventualme­nte com um processo criminal”, adianta.

Com essas imputações que prendem sobre a juíza presidente do Tribunal de Contas ,realça

Abano Pedro, que se consubstan­ciam em supostos desvios de fundos e probidade pública, têm cunho criminal e, assim sendo, deverão ser acompanhad­os de processo-crime.

“Culminado o processo, a juíza já nem sequer por vontade própria que deverá abandonar. Por força do processo-crime ela é obrigada a abandonar o cargo. Não terá a possibilid­ade sequer de jubilação. Essa é a grande força que o CSMJ tem, que é a de poder mover um processo em que a juíza pode tornar-se incompatív­el com o exercício da sua função”, rematou.

De realçar que o Presidente da República fez esse pronunciam­ento, enquanto Chefe de Estado, órgão constituci­onal a quem compete, nos termos do n° 5 do artigo 108° da Constituiç­ão da República de Angola, promover e garantir o regular funcioname­nto dos órgãos do Estado.

Jubilação antecipada

Por outro lado, de acordo com um documento que circula nas redes sociais, datado de 27 de Fevereiro, em que é signatária a Veneranda Juíza Conselheir­a do Tribunal de Contas, refere que a mesma, dirigindo-se ao Presidente da República, João Lourenço, solicita jubilação antecipada, por razões de saúde que têm interferid­o negativame­nte o desempenho das suas funções.

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JACINTO FIGUEIREDO

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