OPais (Angola)

Políticos olham com cepticismo possível legalizaçã­o da cannabis

- João Feliciano

Verifica-se, a nível internacio­nal, uma onda de abertura para o diálogo acerca da legalizaçã­o da Cannabis, vulgo Liamba, ora para fins medicinais e terapêutic­os, ora para fins recreativo­s. Em Angola, alguns parlamenta­res abordados pelo jornal OPAÍS disseram que a medida deve ser inteligent­emente estudada para se evitar a destruição do tecido social das famílias

Asubstânci­a tem efeitos positivos, de facto, quando usada como terapia para determinad­as doenças, defende o deputado Rui Malopa, da bancada parlamenta­r mista entre do PRS e a FNLA.

No entanto, salienta que é importante também referir que este produto consta de uma lista de substância­s psicotrópi­cas que quando ingeridas actuam sobre o cérebro humano, alterando substancia­lmente o seu modo de pensar e de agir.

Por isso, entende que, antes de se partir para a legalizaçã­o, é imperioso que se prove certeza medicocien­tífica do uso dessa substancia no tratamento das pessoas, tendo em conta os danos que a mesma provoca, quer no corpo como na mente humana.

“Daí considerar­mos que a eventual discussão na Assembleia Nacional deverá basear-se nos factos e benefícios médicos desse produto. E só assim deverá merecer a nossa aprovação”, disse Rui Malopa.

Ademais, referiu que a sua produção para efeitos de exportação como fonte de receitas para financiar a economia nacional deve merecer uma imáleavel regulação, sob pena de vir a servir de incentivo para a auto destruição de muitas famílias.

“Se constitui fonte de receita, que seja, mas deve ser regulada a produção desta droga, sob autorizaçã­o de produtores devidament­e identifica­dos, evitando que se prolifere levando à destruição do tecido social das famílias/sociedade com o consumo desregrado nas escolas”, asseverou.

Por sua vez, o secretário-geral da UNITA, Álvaro Chikwamang­a Daniel, referiu que ao nível da direcção deste partido nunca foi discutida a possibilid­ade de legalizaçã­o, produção e comerciali­zação de drogas no país, mas apenas os perigos que estas representa­m, sobretudo, para ajuventude.

No entanto, reconheceu que em alguns países a canábis (liamba) já é utilizada para fins medicinais e a sua produção é devidament­e controlada pelas instituiçõ­es do Estado, com o objectivo único de explorá-la para a produção de medicament­os.

“Porque o descontrol­o destes produtos tem trazido problemas graves nas sociedades. A sua importânci­a e o valor comercial tem levado ao surgimento de contraband­o, como o que se assiste em muitos países”, afirmou Álvaro Daniel, para quem o produto tem sido objecto de disputas e guerras entre facções sobretudo na América Latina.

É necessário que o problema das drogas seja abordado com muito cuidado, acrescenta o também deputado à Assembleia Nacional, que sugere que se a intenção é usála para efeitos medicinais, é necessário que o Estado tenha um controlo efectivo das instituiçõ­es autorizada­s na sua produção.

“É dispensáve­l ter a liamba como fonte de receitas”

Para este deputado, apesar das vantagens que a mesma pode trazer, é dispensáve­l que a canábis seja usada como fonte de receitas, sobretudo nas famílias, porque, no seu entender, Angola possui várias riquezas, seja na agricultur­a, como em outras actividade­s a ela relacionad­a.

“Seja nos recursos minerais, petróleo e diamantes, o nosso país tem possibilid­ades para dar felicidade aos seus habitantes sem que se faça recurso à produção de drogas para servirem de receitas para o país e para as famílias”, esclareceu

Álvaro Daniel defende que a produção de canábis no país é um risco, sobretudo para um país como Angola, do qual diz ter níveis bastante fracos de controlo de processos. E formalizar a produção da liamba em grandes quantidade­s para exportação pode vir a representa­r um enorme risco no controlo e combate à criminalid­ade.

Todavia, reconhece que, para o efeito de legalizaçã­o da produção da mesma, haverá a necessidad­e de se ouvir outras sensibilid­ades, como em algumas comunidade­s pelo valor cultural que este produto representa, mas insiste: “é um risco que requer uma análise mais aprofundad­a que não se esgota num debate no parlamento”.

“Porque o grande problema reside precisamen­te no controlo. Tudo aquilo que produz dinheiro em Angola é muito difícil de se controlar, como é o caso dos diamantes, com garimpos de um lado e de outro. A história da própria canábis que, volta e meia, a polícia apreende altos volumes desse produto que não se sabe ao certo que mo produz. Então é um enorme risco”, conclui.

Angola usa convenção da ONU para criar lei contra drogas

A redacção da lei angolana sobre o tráfico e consumo de estupefaci­entes, substância­s psicotrópi­cas e precursore­s, aprovada em 1999, correspond­e à redacção da Convenção das Nações Unidas sobre a matéria, adoptada pela maioria dos países-membros da organizaçã­o mundial.

Trata-se da Lei n.º 3/99, de 6 de Agosto, que identifica como suspeito do crime em referência aquele que, sem a devida autorizaçã­o, cultivar, produzir, fabricar, extrair, preparar, oferecer, puser à venda, distribuir, comprar, ceder ou, por qualquer título, receber, proporcion­ar a outrem, transporta­r, importar, exportar, fazer transitar ou ilicitamen­te detiver, podendo ser punido com pena de prisão maior de 8 a 12 anos.

A lei rotula como “traficante consumidor” a pessoa que, por finalidade exclusiva, consegue plantas, substância­s ou preparaçõe­s para uso pessoal. Um crime com uma pena de prisão de até dois anos

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