O activista cívico
E educacional Isaac Paxe defende que as justificativas apresentadas pelas autoridades para a proibição da venda e consumo de estupefaciente, vulgo liamba, são baseadas em preconceitos formados por ideologias da era colonial
Em declarações a este jornal, ao comentar se era a favor ou contra a despenalização do consumo e venda da liamba, Isaac Paxe considerou ser um “absurdo e preconceito tremendo” a posição das autoridades angolana, uma vez que outros países e a própria Orga“No nização das Nações Unidas (ONU) já despenalizaram a venda e consumo da liamba, também conhecido como canábis, aprovando leis específicas que a regulam.
nosso contexto, a primeira barreira é a forma equivocada como a questão da legalização da cannábis é tratada. É triste, e é penoso que as autoridades se prenPaxe dam em leis produzidas sob visão de preconceitos”, começou por afirmar.
O também pedagogo entende que a questão deve ser discutida de forma aberta, deixando de parte o preconceito da erva, olhando para ela como um elemento que pode e deve ser aproveitado para o tratamento de diversas doenças. “A cannábis é aplicada na medicina, na indústria de cosmético, na indústria têxtil e também tem o uso recreativo (para os fumantes)”, explica o activista, advertindo que “não nos podemos limitar ao uso recreativo da liamba como factorchave para a sua proibição”.
Para Paxe, ao se abordar a questão da despenalização da produção da liamba, é preciso que se aprenda a separar as questões: produção, distribuição e consumo, reiterando que a liamba tem inúmeras utilidades e pode servir de fonte de receitas para o Governo se bem produzido e exportado, à semelhante de outros países como o Brasil, o Reino Unido e a África do Sul, que exportam este produto para fins médicos e estéticos.
Entende que Angola pode produzir cannábis como muitos países produzem e exportar. Se se quiser saber como se protege a produção, aconselha a seguir exemplos de países que já vivem esta experiência há longos anos.
Acrescentou que o governo pode criar leis de protecção à produção e uso/comercialização desta erva, tal como faz com os recursos minerais, citando como exemplo o diamante. Embora reconheça os riscos à saúde que o consumo da liamba (fumando) acarrecta consigo, o mestre em administração educacional defende a despenalização da produção, sugerindo a aprovação de diplomas que tipificam os modos e finalidades pelas quais o consumo da liamba pode ser aceite.
“Vamos discutir essa questão em debate público em esfera nacional, vamos aprender com outros países. Não vamos olhar para a cannábis como apenas uma mera droga para uso estimulante de práticas criminosas. A questão do crime está associado a muitos factores e não apenas ao uso da liamba. Precisamos quebrar este preconceito”, apelou. Recorde-se que a produção e venda da liamba é proibido em todo território nacional, e punível à luz da Lei 3/99, de 6 de Agosto, que proíbe o tráfico e o consumo de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas e precursores.