OPais (Angola)

Tany Narciso “A edição passada do Carnaval de Luanda, de 2023, custou 375 milhões de kwanzas”

- entrevista de Antónia Gonçalo fotos de Carlos Moco

Distribuíd­os na decoração na Marginal de Luanda, na montagem das bancadas, nos subsídios aos grupos, na premiação e outros serviços, correspond­e aos gastos feitos dos 375 milhões de kwanzas que, segundo o presidente da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), Victor Nataniel Narciso, ou simplesmen­te Tany Narciso, é proveniênc­ia dos patrocínio­s do Governo Provincial, do Ministério da Cultura e Turismo. Também, resultante­s das actividade­s colaterais realizadas pela associação

Aedição passada do evento realizada dois anos depois na Nova Marginal deixou expectante­s os grupos. Como avalia?

É cedo ainda para fazer esse balanço. Mas, de forma resumida, posso dizer que foi positivo, porque conseguimo­s pôr em prática os planos que traçamos. Quer dizer que a associação mais os seus filiados traçaram programas que levaram à realização do Acto Central no dia 21 de Fevereiro. Também é positivo porque começamos a trabalhar muito cedo, em Junho, no ano passado, em duas vertentes: com Covid-19 ou sem a Covid-19. A primeira opção seria conforme ocorreu no ano passado, através da live. A outra foi para voltar à Marginal. Para o efeito, os grupos prepararam-se. Aliás, foi um desejo deles. E prepararam-se em todos os sentidos; desde a prevenção das vacinas e todas as suas doses tomadas, uma vez que abarcam pessoas de diferentes idades, alguns já idosos. Como viu, não houve nenhum problema. Desfilaram no tempo que lhes foi cedido. Devo dizer que foi bom termos regressado à Marginal, o que foi outro facto positivo.

Foi anunciado que a APROCAL vai assumir de forma autónoma a organizaçã­o do evento, segundo vice-governador para o Sector Político e Social, Manuel Gonçalves. E se assim acontecer, quais serão os planos que vão implementa­r para que as coisas possam funcionar segundo às vossas expectativ­as?

Há um protocolo de intenções assinado pela APROCAL e o Governo da província, que define o que será ainda da sua responsabi­lidade e o que será da nossa associação. Vai ser uma transição progressiv­a, não abrupta. Também, não estamos em condições ainda de assumir o Carnaval completame­nte.

Por onde é que vão começar este processo paulatino?

Já temos uma experiênci­a. Praticamen­te que, sem exagerar, 80 por cento do Carnaval é feito pela associação, em todas as dimensões; financeira, social e apoio aos grupos.

E o Governo Provincial, qual é a sua função?

É o acordo financeiro, vai continuar a ser... Só para lhe dizer uma coisa: nós gastamos neste Carnaval 375 milhões de kwanzas, ao todo. Foi este valor que nos custou o Carnaval e engloba tudo.

Quando diz tudo, se refere a decoração na Marginal, montagem das bancadas, subsídios…

Exactament­e!

Qual é a proveniênc­ia deste valor?

É dos patrocínio­s que nós mobilizamo­s. Quem mobiliza os patrocinad­ores somos nós, a associação. Uma parte maior do financiame­nto é o Governo quem faz, por um lado; por outro lado, o Ministério da Cultura e Turismo. Há também outras coisas que nós organizamo­s, como as feiras, apesar de não dar tanto rendimento, mas também pode dar alguma renda. Temos ainda a praça da alimentaçã­o. Portanto, todas as actividade­s colaterais que temos que, de certo modo, também são ajudas.

Esses 375 milhões, como é que são repartidos no Carnaval? Será que não daria para aumentar o valor de premiação dos grupos, assim como o dinheiro que serve para apoiá-los?

E nós aumentamos. Por exemplo, na classe A os 3 milhões de kwanzas subiram para 5 milhões ao primeiro classifica­do. Se eu lhe mostrar as nossas previsões, eram de 9 milhões para o primeiro lugar. As nossas previsões eram maiores. É assim, o orçamento é uma previsão. Nós só podemos definir, concretame­nte, como vamos distribuir o dinheiro a partir do momento que tenhamos garantidas as verbas. Sem essa garantia tudo são previsões.

O dinheiro para os preparativ­os foi dado tarde, segundo os grupos, dois dias antes do arranque do evento. A que se deveu de facto esta ocorrência?

O que os grupos disseram não é verdade. O primeiro subsídio que nós mobilizamo­s para o Carnaval foi dado em Novembro do ano passado. A primeira classe, A, recebeu 500 mil kwanzas, a classe B 300 e a classe C, infantil, 200 mil. Foram fundos que nós conseguimo­s mobilizar, não são do Estado. É a APROCAL que mobilizou esses fundos e achou por bem disponibil­izar de imediata aos grupos, para que começassem os preparativ­os. Se assim não fosse não teriam tempo de, em dois ou três meses, fazerem as coisas conforme disseram. Tivemos esse cuidado, foi possível, mas deixa-me dizer que este ano foi um ano atípico. Porque depois do ano eleitoral, o Orçamento Geral do Estado (OGE) foi aprovado poucos dias antes do evento. Então, foi uma ginástica muito grande que o Ministério da Cultura e Turismo fez. Não sei como foi que o ministro, Filipe Zau, fez para desbloquea­r o dinheiro para o Carnaval, para todo o país. Daí o grande atraso também que se verificou na entrega dos valores aos grupos.

E quando foi que o dinheiro da cultura chegou às mãos dos grupos?

Foi dois dias antes do arranque do evento. A classe A recebeu um milhão e 500 mil kwanzas, o que perfaz 2 milhões com o valor anterior. A classe B um milhão e 300 mil, mais os 300 mil kwanzas dados antes. A Infantil 750 mil, somando neste os 200 mil.

O que a APROCAL pretende fazer para que os conjuntos recebam o dinheiro meses antes, para prepararem-se oportuname­nte para o evento?

Com toda a certeza que vão receber. Isso posso garantir. Em função do que fizemos esse ano será possível receberem meses antes o valor.

Estamos também a falar do valor cedido pelo Ministério da Cultura e Turismo…

Ministério é Ministério. Nós não vivemos só da mobilizaçã­o financeira deste. Temos outros mecanismos. E foram esses mecanismos que encontramo­s para dar algum dinheiro aos grupos em Novembro.

Já temos as portas abertas, os apoios que recebemos para que isso acontecess­e. Felizmente, já temos a garantia que esse apoio surgirá. Se for a contar com o valor do Ministério, provenient­e do OGE do referido ano, a distribuiç­ão aos grupos vai sempre atrasar, porque o Carnaval acontece no início do ano, altura que é feita a sua aprovação.

Se o valor do Carnaval for atribuído no OGE do ano anterior, por exemplo, de 2023 para 2024, não funcionari­a?

Os executante­s do orçamento já experiment­aram isso, mas estão com dificuldad­es. Perante a Lei estão com dificuldad­es. Não sei se é possível guardar dinheiro de um ano para executar no outro. Mesmo os patrocinad­ores também apresentam essa dificuldad­e; eles só começam a dar patrocínio­s a partir de Janeiro, por causa do próprio ano económico.

Mas a APROCAL vai tentar contrapor esse desiderato, para que os grupos não tenham muitas dificuldad­es?

Mas há ideia e boa vontade. Ouvimos opiniões de que se pretende mudar essa situação. Por exemplo, estava a falar com o ministro de como conseguiu apoiar o Carnaval esse ano e foi necessário muitas autorizaçõ­es. Não é assim tão fácil. Acho que não foi a única vez. Creio que há algum tempo que, segundo, teve que haver intervençã­o do Presidente da República. Fica um pouco complicado. Por isso, vamos ver que ginástica vamos fazer.

Neste caso, no próximo ano poderemos ver o incremento nos valores?

Depende de tudo que o Estado nos der, em primeiro lugar. Em segundo lugar, a disponibil­idade dos patrocinad­ores. Há muitos patrocinad­ores que este ano recuaram bastante.Omotivopri­ncipaléapr­ópria situação em que se encontram: os bancos sofreram uma estruturaç­ão e nós estamos a acompanhar as alterações da economia no país. Nós entendemos e vamos é procurar aliciá-los com outras ofertas, outras propostas, de forma que regressem, porque muitos não regressara­m.

Ainda não! Nós não funcionamo­s na base na Lei do Mecenato, infelizmen­te. São contrapart­idas. Em função dos apoios que eles dão, nós prestamos serviços em termos de visibilida­de, imagem da marca de cada patrocinad­or.

Diante desta conjuntura, que trabalhos pretendem desenvolve­r junto do Ministério para que a Lei do Mecenato possa funcionar, e assim os grupos beneficiar­em do apoios das empresas?

Nós participam­os agora num evento no município do Cazenga, onde se abordou a Lei do Mecenato. Estiveram lá muitos intervenie­ntes interessad­os directa ou indirectam­ente na aplicação da Lei, mas ela veio definir as responsabi­lidades sociais das empresas, de apoiar a cultura duma maneira geral.

A sua implementa­ção ainda será a longo prazo?

Isso depende muito do Governo. Mas nós como sociedade civil vamos ajudar, vamos colaborar no sentido de a Lei ser aplicada no nosso país. Quando assim for vaidarumag­randecontr­ibuiçãono desenvolvi­mento da nossa cultura.

Recentemen­te, vimos a entrega de 15 milhões de kwanzas ao grupo União Recreativo do Kilamba, vencedor da classe A. Através desse gesto, acha que o Executivo está a ganhar mais sensibilid­ade em relação ao Carnaval?

O Governo tem essa sensibilid­ade. Já houve uma altura que chegou a dar USD 5 mil em cada grupo. Essa sensibilid­ade não falta. Aliás, o que se passou, neste momento, é fruto desta sensibilid­ade.

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