OPais (Angola)

Para maior conhecimen­to têm realizado formações com os foliões e o corpo de jurado?

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O que tem a dizer sobre os grupos que se mostraram insatisfei­to, pelo facto de não merecerem essa atenção?

Não é problema de merecer ou não merecer. Fiz essa pergunta ao ministro Filipe Zau e disse-me que quem dá, dá. Não se pode reclamar uma oferta. Há esse gesto do Governo e deve estar muito agradecido o grupo. Os outros também gostariam de ter, mas, quando foram ao concurso não se previa isso. Nós quando aprovamos o orçamento discutimos por grupo, inclusivam­ente os prémios. Então, quando eles vão para lá já sabem o quê é que vão encontrar. Acredito que foi uma dádiva, uma oferta que não estava prevista no cômputo da competição.

Para o próximo ano, como é que perspectiv­a a realização do Carnaval de Luanda?

Nós começaremo­s já a trabalhar na Segunda-feira. Vamos ouvir as várias opiniões. Devo dizer que há muita aceitação. Sentimos muito a aceitação das pessoas individuai­s e colectivas, em relação ao evento: muito interesse, boas opiniões que nos vão dar força e pensarmos em fazer um Carnaval bastante atractivo e mais participad­o, com o envolvimen­to de todos. Essa é a visão com que ficamos, porque nunca tinha sentido tanto interesse, tanta atenção, tanto envolvimen­to ao evento como dessa vez. De facto, fiquei bastante impression­ado, no bom sentido, que nos encoraja a prosseguir­mos com o nosso projecto, que já vem de muitos anos e com a nossa teimosia temos avançado.

Em 2024, teremos dois conjuntos do município do Cazenga que vão levar à Marginal a dança Kazukuta: o União os Petrolífer­os e o União Estrela Kazukuta do Cazenga. Este último fundado o ano passado, desfilou pela primeira vez no evento, na classe B e ascendeu à classe A. Teremos com isso maior diversidad­e de danças?

Nós estamos a sentir uma boa aproximaçã­o das administra­ções municipais. E quero aproveitar a oportunida­de para agradecer todo o apoio que recebemos das várias administra­ções distritais e municipais. O Cazenga também chamou-me muita atenção, porque do nada saiu tudo. O esforço foi muito bom, o engajament­o da própria administra­ção, a estratégia.

Há grupos que esse ano não participar­am no evento por falta de condições para a sua preparação. Que trabalho a APROCAL pretende desenvolve­r junto desses, para que voltem a participar nesta que é a maior manifestaç­ão cultural do país?

É a nossa ideia trabalhar já com o tempo. Vamos ter um Carnaval muito mais participat­ivo. Deixame dizer que vão ter muitas surpresas. Só não implementa­mos agora porque não deu tempo. O Carnaval trabalha-se no dia seguinte quando termina uma edição. Mas são ideias e alguns trabalhos já realizados, que vão permitir que haja um salto qualitativ­o do Carnaval no próximo ano. Por exemplo, nós tivemos o Bloco Icolo e Bengo a participar como tal, com 500 pessoas. Mas não havia como engajá-los no desfile competitiv­o. Faremos isso nesta edição.

No evento, este ano, notamos a pouca participaç­ão dos cidadãos na Marginal, comparado com os anos anteriores. Isso se deveu à pouca divulgação ou “perderam” o hábito nestes dois anos sem o evento?

As pessoas distraíram-se. Nós fartámo-nos de avisar, de informar. Inclusivam­ente, mudamos os spots, pusemos as datas a informar que a classe A apresentav­a-se

“Desde que as bases se mantenham, os fundamento­s, as raízes do Carnaval, pode-se modernizar. O Carnaval de hoje não é o mesmo de antes” Não é o de 1979, que tinha mais de 100 grupos” na Segunda-feira, 20, e não na Terça conforme acontecia. Noutras províncias, por exemplo, fizeram na Terça-feira. Mas tudo isso tem o seu propósito: houve o feriado prolongado, houve mais um pouco de festa. Nós pensamos nisso não foi agora, foi em 2020. Esse pensamento foi de todos; do Governo, da associação, dos grupos, que pudéssemos desfilar naquele dia. Então, essa mudança também deve ter influencia­do nalguma coisa. Outras questões, quando vai o Presidente, e nós queremo-lo lá com muita honra, os limites são maiores. Então, sentimos a dificuldad­e de as pessoas terem acesso ao local. Por exemplo, aconteceu com a praça da alimentaçã­o…

Mas estamos a falar de um evento que é realizado para o povo festejar?

Sabes que essas coisas não dependem só de nós. Também ficamos limitados. Mas houve pessoas que estiveram ali perto. Houve festas, por exemplo, na entrada da Samba houve uma grande festa de Carnaval na Rua. Mas foi mesmo ali perto. Por isso, vamos ver agora como podemos juntar o útil e o agradável para trazer mais pessoas ao evento. Agora, o que eu queria mesmo é sentir todo mundo a dançar o Carnaval. O evento não pode ser um espectácul­o folclórico para uns, de ficarem ai só a ver e não participar­em, não se envolverem. O Carnaval é nossa cultura e nós demonstram­os nesta última edição que o evento ainda é uma das manifestaç­ões culturais não beliscada. Quer dizer que defende e divulga as suas raízes sem, muitas das vezes, alterações. Então é mesmo nosso, de Luanda, do país e de África.

Falando sobre a divulgação das raízes, notamos que nas várias edições o União Recreativo do Kilamba, até certo ponto, tem inovado as suas indumentár­ias, um pouco mais para o ocidental. Acha normal haver essa mudança?

Desde que as bases de mantenham, os fundamento­s, as raízes do Carnaval, pode-se modernizar. O Carnaval de hoje não é o mesmo de antes. Não é o de 1979 que tinha mais de 100 grupos. Com isso, nós não somos contra a modernidad­e, desde que estejam lá as bases.

Mas está satisfeito com a apresentaç­ão dos grupos, quando ao quesito dança?

No dia da entrega de prémios aos grupos vi o União Kabokomeu na sua apresentaç­ão que, havia já lá uma senhora mais velha e estava a transmitir, a passar o testemunho à nova geração. E não era da mesma forma como os jovens estavam a dançar. Estive a reparar, nós sabemos as caracterís­ticas da Kazukuta e notamos que já há uma pequena alteração da juventude. Mas o quê é que nós devemos fazer? Há alteração, sim senhor! Mas aquilo que é básico deve constar. E vamos fazer para que conste, de facto, para que as pessoas saibam realmente o que é a Kazukuta e os outros estilos de dança. E depois parece que, também, alguns grupos estão aborrecido­s com os jurados, mas ao desfilar não é para ficar ali a correr. Nos estamos a ver grupos, principalm­ente os mais jovens que ficaram aí a correr, mas não é isso. Têm mesmo que dançar. E, claro que o júri está atento a todas essas situações. Eles conhecem, por isso têm que ter cuidado com as regras.

Sim. O nosso programa prevê essa parte da formação. Já fizemos uma em Dezembro do ano passado, sobre a Kazukuta. Mas vamos continuar. Este ano está previsto e vamos abarcar todos os estilos. Também, estamos a fazer pesquisas dos grupos que deixaram de aparecer e que estão um pouco esquecidos. Então, estamos a fazer essa pesquisa. Isso vai culminar com uma homenagem, apresentaç­ão. Por exemplo, nós estávamos para homenagear a Cidrália e acreditamo­s que vamos fazer nesta edição. Essa faz parte das surpresas que temos para o próximo ano.

Alguns grupos defendem que a avaliação dos desfiles deve ser feita pelo público. Nesta edição, vão tentar atender o pedido dos conjuntos?

Os que são apologista­s dessa ideia estão a ver nos Big Brother e outros programas, onde a votação é feita pelo público. Mas, olhando para aquilo que é a nossa realidade; votação do público, como vai ser? Tragam ideias! Não tem sido assim. Tem sido como até agora é. Vamos ver, se assim poder ser. Sabe-se que o Carnaval tem caracterís­ticas próprias. Uma delas é de não revelarem, eles resistem à revelação atempada ou imediata da canção, da dança, da coregrafia. Há situações que você só fica a conhecer na pista, porque eles guardam-se concretame­nte.

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