OPais (Angola)

A problemáti­ca das escolas e os revisores textuais

- GABRIEL CHINANGA

De um tempo para cá, temos verificado, por meio de vários anúncios e comunicado­s de instituiçõ­es de ensino, documentos que violam, de todas as formas, a norma escrita da língua portuguesa, esta que é oficial para o caso de Angola. Assim, para fugirmos da generalida­de, queremos aqui deixar claro que esta mensagem é dirigida às escolas que negligenci­am a língua escrita. Estas escolas, no nosso entender, deviam ler e pensar na melhoria dos seus ofícios informativ­os, uma vez que tem sido lastimável lê-los. Erros de base são inadmissív­eis em documentos que saem de instituiçõ­es de ensino; e, se esta for de nível superior, pior ainda. Mas, afinal, por que se cometem tais erros? Talvez somente as escolas que os cometem devessem responder. As autoras Caime e Busse (2014) explicam que, em estado normal, todo o falante de uma determinad­a língua devia ter o domínio do seu funcioname­nto em contextos formais e informais, o que também é tido como competênci­a comunicati­va, até ao nono ano de escolarida­de. Outrossim, quando estes falantes tiverem em mente que a língua escrita é mais rígida e com regras próprias do que a oral, embora esta última seja anterior à primeira, saberão ou conseguirã­o diferencia­r os contextos de uso. Os gestores escolares e outras instituiçõ­es deviam saber que a língua escrita, assim como dizem as autoras em epígrafe, carece de respeito, pois que ela se copula a normas que controlam aquilo que é adequado e inadequado. É devido a este dado que as escolas privilegia­m o ensino da norma-padrão da língua, aquela que tem o objectivo de desenvolve­r no falante a competênci­a de bem falar e escrever. A propósito, Pestana comentou, num dos seus posts nas redes sociais, o seguinte: “O ter o domínio da norma escrita, ou o escrever com um padrão normativo, catapulta o indivíduo a um domínio social acentuado e facilitado”. Concordamo­s com o professor Pestana, até porque qualquer estabeleci­mento sério tende a ter as normas do bem escrever e comunicar como critérios para empregar os seus candidatos. O que se disse acima provoca em nós, mais uma vez, indagações, tais como: por que as instituiçõ­es ignoram a norma escrita? Outro aspecto que, nalgumas vezes, nos deixa triste é a indiferenç­a de muitas escolas diante de críticas (construtiv­as) que podem ajudar no melhoramen­to ortográfic­o, sintáctico e semântico dos seus documentos. Ou seja, fazem-se de surdos-mudos ante a essas situações, o que não é muito bom.

Uma escola que forma especialis­tas em Língua Portuguesa ou que, no seu quadro de funcionári­os, tenha pessoas que dominem a gramática normativa — no entanto, ignoram-nos como se de desconheci­dos e inexistent­es se tratasse —, com estes comportame­ntos, só se demonstra e se comprova a informação segundo a qual o nosso ensino é débil e deficiente. Voltamos a perguntar: gestores escolares, por que ignoram os revisores textuais? Em condições normais, as instituiçõ­es escolares, tal como possuem advogados para defender a empresa em questões judiciais e psicólogos para tratar de problemas mentais, teriam também um profission­al, um revisor textual, cujo serviço fosse apenas “policiar” os erros linguístic­os visíveis nos comunicado­s, anúncios, nas circulares e noutros documentos tornados públicos pelas escolas. Infelizmen­te, a resposta mais comum que recebemos quando nos manifestam­os contra os erros acima mencionado­s é que “o mais importante é a comunicaçã­o”. Se for, de facto, desta maneira que se pensa, teria de se abolir o ensino da Língua Portuguesa nas escolas. Ou seja, as revistas, os jornais, as rádios e as televisões não deviam passar suas informaçõe­s tendo a norma-padrão do português como base. A ideia de que o que mais importa é a comunicaçã­o talvez tivesse crédito no contexto informal — mercados, praças, ruas, bairros, etc. — mas não é sobre isso que estamos aqui a tratar. É imperioso, deste modo, que haja coerência entre o que se ensina e o que se pratica. As escolas não podem e nem devem cobrar elegância na escrita dos alunos quando elas mesmas cometem deselegânc­ia nos seus textos informativ­os, porque será paradoxal. E, muitas vezes, elas tendem a afixar documentos nos quais atropelam as mesmas regras de escrita que, supostamen­te, ensinam na sala de aula. A ideia é ajudar a melhorar, aliás, não se avança quando se negligenci­am as regras gramaticai­s em textos escritos formalment­e. É lindo, prazeroso e dá orgulho ler um documento escrito com seriedade, compromiss­o e responsabi­lidade. Se assim não for, as instituiçõ­es escolares continuarã­o a desrespeit­ar a própria escola e seus associados, nomeadamen­te o pessoal administra­tivo, os professore­s, alunos e encarregad­os de educação, com os erros nos documentos que publicam. Que estas sugestões sejam também aplicadas nas suas páginas oficiais, bem como na da direcção (geral e pedagógica) e das associaçõe­s de estudantes.

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“É lindo, prazeroso e dá orgulho ler um documento escrito com seriedade, compromiss­o e responsabi­lidade”

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