OPais (Angola)

Os 90 anos da rádio angolana

- Jornalista e Comunicólo­go AMADEU CASSINDA*

Já passaram 90 anos desde a primeira emissão de rádio em Angola, aos 28 de Fevereiro de 1933. De lá para cá houve avanços e recuos. A legislação e a expansão da Internet tornaram a vida da rádio angolana muito dura e sem muito espaço de manobra.

A trajectóri­a do jornalismo radiofónic­o em Angola pode ser dividida em três grandes épocas. Época Colonial, Época do Partido Único e a Época da Imprensa Democrátic­a, tendo cada uma, respectiva­s fases.

Na Época Colonial podemos citar as fases da Primeira Emissão, da Rádio Clubismo, da Rádio Profission­al e a Fase da Rádio Oficial. Depois da independên­cia, o país adoptou o sistema de governação socialista, a Época do Partido Único, liderada pela Fase da Rádio Monopólio, para Sebastião Coelho (1999), foi quando a RNA passou a exercer o monopólio da radiodifus­ão, até 1992. Os Acordos de Bicesse, a Lei de Imprensa n.º 22 de 15 de Julho de 1991, assim como as eleições de 1992 marcaram o início da Época da Imprensa Democrátic­a, caracteriz­ada pelo Modelo de Jornalismo Ocidental.

Nesta Época, que tem igualmente as respectiva­s fases, “quase simultanea­mente iniciaram as suas actividade­s comerciais quatro estações que arejaram o panorama e ganharam espaço fácil, a LAC, em Luanda; Rádio Morena, em Benguela; Rádio Comercial, Cabinda e a Rádio Dois Mil, na Huíla. A posteriri, a Rádio Ecclesia foi reaberta que até então estava encerrada por força do sistema político vigente” (1999, p.120). Avanços e Recuos

O século XXI legou a Internet ao nosso país, como consequênc­ia da evolução tecnológic­a registada no segmento das tecnologia­s de informação e comunicaçã­o. A Internet por meio da linguagem binária convergiu o jornal, a rádio e a televisão num único espaço à distância de um clique para aceder aos respectivo­s serviços.

Esta dinâmica originou um êxodo para o ambiente digital, de sorte que a rádio recuperou a visão, sofrendo mutação, de tal maneira que determinad­os ficheiros com caracterís­ticas similares aos seus programas passaram a designarse podgcast, muitos dos quais se manifestam num formato audiovisua­l. Trata-se de uma solução que permite a qualquer cidadão com saldo de dados de 200 Kwanzas (Net ao Dia) produzir conteúdos em áudio e difundir à escala planetária num abrir e fechar de olhos.

Paradoxalm­ente, a rádio tradiciona­l, FM/AM, está atada pelas correntes de uma lei que não se ajusta as necessidad­es demandados pela actual realidade. Primeiro, são necessário­s, no mínimo, 75 milhões de Kwanzas de capital social para abrir uma rádio. Segundo, a Lei de Radiodifus­ão angolana é omissa em relação às rádios comunitári­as. O Executivo, por meio do Ministério das Telecomuni­cações, Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social (MINTTICS), é o órgão responsáve­l pela emissão de licença.

Apesar disso, no quadro da pluralidad­e, a rádio é mais diversific­ada em relação aos jornais, revistas e televisão. No entanto, a pluralidad­e editorial continua aquém das expectativ­as. Das dezenas de emissoras que existem contam-se nos dedos de uma mão as rádios que estão no encalço do exercício de um jornalismo de facto. Aliás, a comunicaçã­o social é o parente pobre do MINTTICS.

Desafios

Os principais desafios da rádio residem na componente legislativ­a, administra­tiva, tecnológic­a e académica.

É urgente a conclusão da reforma legislativ­a da comunicaçã­o social que agrega alterações às Leis sobre a Radiodifus­ão, que inclui a regulament­ação das rádios comunitári­as e imprensa online, bem como sobre a Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social (ERCA), porquanto, entendemos que a concessão de licenças para o exercício da actividade de radiodifus­ão não deve ser uma atribuição do Executivo.

Do ponto de vista administra­tivo é preciso apostar na valorizaçã­o do capital humano. Por um lado, ainda que a migração de profission­ais de uma rádio para outra seja vista como normal, por outro lado, é um cartão vermelho para as direcções em matéria de valorizaçã­o do capital humano. Os angolanos não ouvem a rádio X ou Y, os angolanos ouvem o radialista X, ouvem o jornalista Y. quando o jornalista Y passa para a rádio X, leva consigo a audiência. Vale também apostar na comunicaçã­o institucio­nal com destaque para a comunicaçã­o de marca, quer das emissoras, quer dos seus programas ou dos seus jornalista­s, esta medida exige um ajustament­o na estrutura orgânica das rádios, inserindo os GCII que funcionem de facto.

A rádio tradiciona­l deve posicionar-se no ambiente digital e para o efeito deve valorizar a componente do marketing digital, contratand­o profission­ais da área para garantir uma gestão estratégic­a e criteriosa da imagem e da identidade da emissora, assim como dos seus produtos, levando em considerar­ão os valores da organizaçã­o.

As universida­des deviam merecer uma fiscalizaç­ão criteriosa das instituiçõ­es de direito no sentido de uniformiza­rem as respectiva­s grelhas curricular­es e alinharem os conteúdos programáti­cos à luz da realidade social, política e económica do país.

O jornalismo angolano precisa alinhar-se às exigências que a complexida­de social de hoje lhe obriga, “que consistem em estar em consonânci­a com o seu potencial e sua vocação nobre de instrument­o leitor da realidade com o foco no ser humano, objectivan­do a busca da ampliação de sua consciênci­a crítica, com o fito de construir com outras forças existentes uma realidade psico-sócio ecológica mais condizente com o propósito de evolução da vida inteligent­e nesta porção do universo” (Vicchiatti, 2005:29).

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JORNAL OPAIS
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