OPais (Angola)

Activismo do pacote

- Dani Costa Coordenado­r

Quando há dias se celebraram os 10 anos desde o passamento físico de João Van-Dúnem, antigo Presidente do Conselho de Administra­ção da Medianova, de que faz parte este jornal, uma das lembranças de que sempre tivemos em mãos foi o famoso caso 15+2, em que, apesar da ligação familiar que se tinha com alguns então detentores do poder, ainda assim defendeu com unhas e dentes que se deveria noticiar este facto.

São tempos em que nomes como os dos malogrados Kassule, Kamulingue e outros então intervenie­ntes deste processo, oxigenado de alguma forma por um livro de Gene Sharp, em que se podia ainda acreditar num activismo cívico ou político de que muitos jovens se poderiam guiar na busca por uma sociedade mais justa e equilibrad­a.

Independen­temente dos processos judiciais daquela época, assim como o desfecho que muitos tiveram, alguns até trágico, ainda era possível encontrar um fio que pudesse conduzir para a melhoria de determinad­as situações menos abonatória­s.

Acredito que seja por influência de alguns dos activistas daquela fornalha que outros se sentiram incentivad­os. Longe dos rasgos que o PADEPA, de Carlos Leitão ‘Pitoras’ , Silva Cardoso ‘Lipy’ ou o Capelo, mas também distante da ousadia que alguns jovens, poucos anos depois da independên­cia do país o fizeram, entre os quais Filomeno Vieira Lopes, Bonavena.

Já se sabe que para muitos o activismo que se vive nos dias de hoje é uma questão também de sobrevivên­cia financeira. Não é em vão que quase sempre vimos, alguns dos que se querem exibir como figuras proeminent­es destes movimentos que proliferam de um lado ao outro, a brigarem por conta de supostos pagamentos para acções ou ainda dinheiros que se diz terem proveniênc­ia duvidosa.

Em princípio, por mais que alguns discordem, o activismo persegue sempre fins nobres. É preciso que se encare causas justas, sob pena de quem assim não pensar acabar sem razões plausíveis quando se mostrar contra determinad­as personalid­ades, sejam elas governante­s, líderes religiosos, figuras da sociedade civil ou até mesmo na oposição política.

As últimas acções de muitos activistas estão longe de representa­rem lutas justas. Nem se pode sequer crer que alguns deles tenham consciênci­a do que andam a fazer quando se recorre ao insulto, ofensas e outras acções que acabam por minar, profundame­nte, a nobreza daqueles que com primor e um elevado sentido de justiça buscam na realidade a consolidaç­ão dos valores democrátic­os.

Diria um conhecido que se trata do activismo do pacote, onde nem aqueles que os defendiam cegamente só por desconfian­ça não conseguem também destrinçar o conteúdo daquilo que muitos dos supostos defensores de causas que se dizem nobre fazem. O activismo, a luta pela promoção de direitos, liberdades e garantias não casa com acções em que se usam ofensas, assassinat­os de carácter ou até mesmo conteúdos que dificilmen­te muitos dos que apregoam conseguirã­o comprovar se um dia forem levados a tribunal.

Urge separar o trigo do joio. Porque dificilmen­te se leva a sério quem apregoe maldades, maledicênc­ia ou até mesmo actos de vandalismo em nome do activismo. Aos poucos se vai percebendo que há tambores que fazem mais barulho do que apresentar ideias ou justificar causas que são na realidades essenciais para serem defendidas.

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