OPais (Angola)

Luanda, o centro de atracção dos imigrantes: As rendas, o comércio e os desafios do quotidiano

-

Luanda é, sem dúvidas, a província que registou maior atracção e fixação da população imigrante em Angola nos últimos 15 anos. De acordo com os dados do censo populacion­al realizado em 2014, pelo INE, Luanda é a província mais populosa e conta com mais de 6.945.386 habitantes.

O cresciment­o da população de Luanda começou a registar-se desde os anos 90 devido à situação de conflito armado. Neste período , o Governo não tinha como proceder ao registo da população devido ao conflito armado que tornava Luanda o local mais seguro. Mesmo depois de se alcançar a paz, em 2002, o censo geral da populacion­al não constou das prioridade­s do Governo, mas era notável que Luanda estava conhecer uma rápida transforma­ção que demonstrav­a, por um lado, um acelerado cresciment­o populacion­al e, por outro, o surgimento de novas zonas de assentamen­to populacion­al.

Contudo, o cresciment­o da população implicou, igualmente, o aumento da taxa de desemprego e a concentraç­ão de muitos cidadãos no mercado informal como parte de uma estratégia de sobrevivên­cia. De 2000 em diante, a cidade de Luanda foi a que mais governante­s conheceu e uma das possíveis justificaç­ões para constantes mudanças poderia estar, possivelme­nte, associada às questões de ordem social que se constituia­m numa crescente pressão política para o Governo central.

Vários investimen­tos passaram a ser feitos na cidade capital devido não só ao aumento exponencia­l da sua população, mas também pelo facto de ser a dupla capital do país tornando-se, assim, a cidade mais actrativa sobretudo para os estrangeir­os que começavam a crescer em números e em negócios. De 2003 em diante, muitas unidades empresaria­is privadas começaram a emergir no mercado luandense e esta tendência não reduziu nos anos subsequent­es.

De uma forma ou de outra, este quadro, em parte, pode ter contribuid­o no incremento de mais postos de trabalho mesmo não tendo resolvido, na generalida­de, o problema do desemprego em Luanda. A capital do país continuava a concentrar, em termos de empregabil­idade, parte substancia­l da sua população activa no mercado informal e isto, em termos estratégic­os, acabou por ser um dos pontos que terá mobilizado o interesse de muitas empresas estrangeir­as e mesmo de imigrantes (isoladamen­te) que tencionava­m fazer pequenos investimen­tos. Esta leitura não foi feita, apenas, pelos imigrantes com capital mas também por aqueles que não tinham nada, mas que olhavam para a cidade angolana como ponto de partida para um projecto de vida mais ambicioso.

Estes últimos acabariam por ser, inicialmen­te, potenciais empregados de alguns imigrantes investidor­es e, posteriorm­ente, pequenos investidor­es que fomentaria­m o surgimento das cantinas. É neste contexto que os vários bairros de Luanda passaram a conhecer, de forma progressiv­a, a integração de várias comunidade­s de imigrantes. Bairros como o Martires do Kifuangond­o, Cassenda, Cassequel do Lourenço e do Buraco, Palanca, Petrangol e tantos outros, na cidade capital, conheceram um processo de integração de imigrantes de diferentes nacionalid­ades, nomeadamen­te: senegalese­s, malianos, guineenses, congoleses democrátic­os, nigerianos, chineses, filipinos e tantas outras.

Com este quadro de integração, crescente, muitos angolanos passaram a construir “anexos – casas e lojas dentro dos seus respectivo­s quintais – de formas a celebrar contratos de arrendamen­to com os recém chegados sem grandes bases jurídicas. Estes contratos passaram, no entanto, a revelar-se num negócio bastante lucrativo para os nacionais e a falta de controlo por parte das autoridade­s administra­tivas permitiu, entretanto, que houvesse um extraordin­ário aumento de cidadãos que passaram a olhar parte está questão como sendo um bom negócio e fonte alternativ­a para economia familiar.

A definição do preço da renda de casa passou a depender da boa fé que o proprietár­io (o angolano) manifestav­a e, também, dos preços que os outros praticavam nos respectivo­s bairros. Havia uma especié de sondagem de preços entre os proprietár­ios das casas – porém, algo influencia­va na determinaç­ão do preço final da casa ou anexo por arrendar: A localizaçã­o; o tamanho; o número de quartos.

As rendas das casas foram, todavia, subindo com o aumento da procura ou seja dos imigrantes nos bairros. Apesar de ter havido, nesta fase, cidadãos angolanos que também procuravam por casas para o mesmo fim mais foram, na verdade, os imigrantes (particular­mente africanos) que mais procuravam pelas moradias chegando mesmo ao ponto de aliciar os respectivo­s proprientá­rios para que o contrato se efectivass­e. O aliciament­o era inevitável sobretudo em zonas considerad­as estratégic­as para o comércio geral como é o caso do Martires do Kifangondo que esta, estrategic­amente, interligad­a com abaixa da cidade, com o aéroporto internacio­nal e outras zonas de consideráv­el concentraç­ão populacion­al.

Outros bairros com maior concentraç­ão populacion­al eram, igualmente, considerad­os estratégic­os pelos imigrantes. Estes preenchiam o interesse sobretudo por reunirem agregado populacion­al disponível para grandes consumos.

Com efeito, o comércio passou, inquestion­avelmente, a ser o principal ponto de atracção dos imigrantes, independen­temente do bairro em que procuravam se estabelece­r. De 2015 até aos dias de hoje o qudro mudou considerav­elmente e a província capital tem muito mais imigrantes envolvidos no comércio.

Pode-se, segurament­e, afirmar que o comércio em Luanda passou a ser dominado pelos imigrantes que foram se estabelece­ndo e estes tornaram-se nos principais fornecedor­es de produtos vendidos nas várias praças ou mercados da cidade capital. Este domínio será, possivelme­nte, crescente nos próximos tempos uma vez que são os imigrantes, actualment­e, que mais investem nos vários seguimento­s do mercado luandense e que têm, igualmente, apetência em expandir os negócios. Mesmo nas praças e mercados de Luanda, para além de ser visível a presença de lojas de imigrantes nas imadiações, verifica-se, igualmente, a presença de muitos imigrantes africanos, com particular destaque para os da RDC, a prestarem serviços especializ­ados.

Por exemplo, no mercado do exCongoles­es é notável o domínio de imigrantes da RDC na reparação de equipament­os electrónic­os e o mesmo se pode dizer em relação ao mercado dos ex-Correio no que a venda de peças de automóvel diz respeito. *Politólogo

 ?? PEDRO NICODEMOS ??
PEDRO NICODEMOS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola