Primeiro-ministro polaco defende João Paulo II após acusações de encobrimento
Oprimeiro-ministro polaco defendeu quarta-feira o “bom-nome” do “grande compatriota” João Paulo II, após as alegações de que este, antes de nomeado Papa, conheceu e ocultou casos de abuso sexual de menores, dentro da Igreja Católica, na Polónia. Umprogramatelevisivo,transmitido na noite de segunda-feira, que resultou de dois anos e meio de investigações, entrevistas e viagens, conta com o testemunho de pessoas ligadas ao papa polaco, bem como a membros da hierarquia eclesiástica, explicou o director do programa, Marcin Gutowski. A reportagem atingiu uma figura altamente respeitada no país predominantemente católico e gerou uma reação mista, especialmente porque parte da documentação citada veio dos arquivos do serviço secreto de segurança da era comunista, que tentava comprometer a igreja.
O chefe do Governo polaco, Mateusz Morawiecki, um católico, referiu, numa declaração em vídeo divulgadas nas suas redes sociais, que a prova revelada contra o falecido sumo pontífice é “muito duvidosa”.
Também afirmou que a questão foi levantada por círculos que querem travaruma“guerracultural”contra os polacos e virar as suas vidas de cabeça para baixo. No documentário, são analisados os casos de três padres que Karol
Wojtila, então arcebispo de Cracóvia, transferiu entre vários locaisnadécadade1970aosaberdas acusações contra eles. Morawiecki, cujo Governo de direita tem laços estreitos com a Igreja Católica da Polónia, enfatizou o papel do falecido papa na mudança democrática no seu país na década de 1980, que também inspirou outras nações soviéticas da Europa Central e Oriental. “A lista dos méritos de João Paulo II para o mundo e para a Polónia é inesgotável”, apontou Morawiecki.
No dia seguinte à divulgação da investigação, o gabinete do Episcopado polaco defendeu que é “impossível determinar com clareza” o caráter dos atos atribuídos a pelo menos um dos padres acusados, uma vez que as acusações são feitas com base em documentos disponibilizados pela polícia política do Governo comunista polaco da altura.
“Uma avaliação justa de Karol Wojtyla requereria mais investigação”, de acordo com uma das afirmações que consta do comunicado.
O teor da investigação reavivou a polémicaemtornodaalegadaresponsabilidade de João Paulo II no encobrimento de casos de abusos sexuais a menores na Igreja polaca, e surge numa altura em que o tema tem sido alvo de atenção internacional, inclusive em Portugal.