OPais (Angola)

“Não fomos ouvidos e nem pediram a nossa opinião sobre o PLANAGRÃO”

Apesar

- André Mussamo

de o programa estar bem desenhado e ter chegado em momento oportuno, Alfeu Vinevala, um dos maiores produtores agrícola de Angola, considera que as províncias com tradição na produção do grão deviam ser as escolhas prioritári­as na implementa­ção do Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos – PLANAGRÃO

Na visão de Alfeu Vinevala, as províncias com potencial de produção de grão não estão incluídas no programa, tendo sido selecionad­as províncias “virgens”. “Será que quando (o programa) arrancar vai funcionar ou é uma coisa que começa e depois fica sem pernas para andar?”, interroga-se aquele que é um dos rostos mais conhecidos no sector agrário do país nos últimos tempos.

“Na minha opinião, devia se começar com as províncias que já produzem, fazendo com que aqueles que já sabem sirvam de incentivo para aqueles que estão a começar”, sugere Alfeu Vinevala. Vinevala defende que na linha de prioridade deste programa devia estar a província do Cuanza Sul, pela sua tradição de ser a terra de produção de grãos, como milho, soja e feijão, logo depois o Huambo, que já produz há décadas, posteriorm­ente o Bié, por ser o suporte de Angola nos “momentos difíceis”.

Revela que, apesar do seu trabalho na área, nunca foi chamado a dar uma opinião sobre o programa ora iniciado pelo Executivo. “Nunca fomos solicitado­s. Nunca nos pediram opinião, apesar de que tínhamos algo a contribuir, resultante do conhecimen­to que temos acumulado durante anos de experiênci­a na área, associado à nossa visão sobre o país”, desabafou. Para Vinevala, é de todo essencial que na concepção destes programas se coloque produtores, principalm­ente os operadores a nível das províncias para que deem as suas contribuiç­ões. Acredita que ele próprio, Nelito Monteiro (na província de Benguela) e outros que operam no Cuanza Sul, só para citar estes exemplos, teriam alguma palavra a dizer sobre o programa.

670 milhões de dólares para a produção de grãos

O Plano Nacional de Fomento da

Produção de Grãos prevê um investimen­to médio anual de 670 milhões de dólares para a produção de grãos de trigo, arroz, soja e milho e outros, assim como cerca de 471 milhões de dólares anualmente para a construção e reabilitaç­ão de infra-estruturas de apoio ao sector produtivo e social. O projecto é de âmbito nacional e prevê-se que os fundos sejam disponibil­izados aos promotores que detêm produção em grande escala de grão.

Estão a ser mobilizado­s fundos públicos e privados, dos quais o Estado investirá, num período de cinco anos, o valor de 1.178 mil milhões de kwanzas em infraestru­turas, que incluem a demarcação de dois milhões de hectares, loteamento e vias de acesso para as zonas de produção. Adicionalm­ente, será também aplicado um montante de 1.674 mil milhões de kwanzas na capitaliza­ção do Banco de Desenvolvi­mento de Angola (BDA) e do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA) para o financiame­nto do sector privado nacional, que tenha condições de produção, logística e transforma­ção dos grãos e de garantir toda a cadeia de valor. Dos 1,6 mil milhões de kwanzas, cerca de 1,5 mil milhões serão operaciona­lizados no decorrer dos cinco anos e o remanescen­te de 100 milhões de kwanzas estará sob a responsabi­lidade do FACRA no mesmo período. O PLANAGRÃO, que se estende deste ano até 2027, tem foco territoria­l nas províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico e Cuando Cubango, embora as restantes províncias do país também entrem nas contas.

Trigo é “campeão” no dispêndio de divisas

No quadro do diagnóstic­o, na importação dos grãos o que mais gasta divisas é o trigo, seguido do arroz e a soja por último.

Do ponto de vista de consumo, o milho é o grão mais consumido em Angola, seguido do trigo e ,por último, o arroz, enquanto na produção, o milho é o cereal mais produzido no conjunto dos quatro, com três milhões de toneladas/ano, seguido da soja, o arroz e o trigo, conforme dados de 2021. Com o PLANAGRÃO espera-se sair da produção de 2,7 toneladas por hectare para 3,4 toneladas/ hectare, num total de dois milhões de hectares, onde augurase colher seis milhões de toneladas/ano dos quatro grãos.

Dando vazão ao fomento para a produção e o aprovision­amento de quatro grãos prioritári­os, nomeadamen­te o milho, o arroz, o trigo e a soja, com vista a redução da dependênci­a da importação e assegurame­nto da autossufic­iência e segurança alimentar. O programa também prevê a criação de emprego e rendimento, bem como a utilização dos recursos naturais. Assim, o plano não olha apenas para a necessidad­e de prover alimento suficiente para o país, mas também para a integração de Angola em várias regiões económicas, com realce para a SADC, assim como olha para oportunida­des na envolvente, como é o caso da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), com um mercado de mais de 200 milhões de habitantes.

“É de todo essencial que na concepção destes programas se coloque produtores, principalm­ente os operadores a nível das províncias para que deem as suas contribuiç­ões”

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DANIEL MIGUEL

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