OPais (Angola)

Bendita merenda

- Dani Costa Coordenado­r

Há aqueles dias em que as notícias acabam por não ser notícias, ou seja, seria melhor que não fossem anunciadas porque se privilegia a anormalida­de contrariam­ente àquilo que deveria ser o normal. A entrega de merenda escolar aos mais novos, aqueles que frequentam as classes de iniciação, é um projecto que desde cedo foi adoptado pelo Executivo angolano, pese embora o facto de, apesar dos investimen­tos feitos, não ter atingido a maioria das escolas do país.

No início do projecto, segundo informaçõe­s avançadas na época, algumas empresas ligadas aos sectores da alimentaçã­o e não só tiveram a primazia de abocanhar o negócio. Eram elas que tinham a missão de fazer chegar em algumas escolas os produtos que compunham a merenda, sendo que nas grandes cidades capitais, principalm­ente, era composta por lacticínio­s e outros de panificaçã­o para matar a fome dos mais novos.

Desde então, vozes houve que se batiam em relação à confecção da merenda na zona rural, muitas das quais compostas por municípios com fortes potenciali­dades agrícolas, o que se pensava a dado momento constituir uma mais-vália para os mesmos.

A verdade é que nem sempre foi assim, ou seja, parece que existiam forças que assim não entendiam, talvez porque comprando de empresas ou adjudicand­o estes contratos a determinad­as entidades fosse mais agradável do que apostar naquilo que é produto local.

É o que se passava aqui próximo na Quiçama, em Luanda, um município potencialm­ente agrícola, mas onde os alunos eram alimentado­s fundamenta­lmente de sandes de queijo e fiambre provenient­es da capital do país. Só que elas chegavam, quase sempre, já quase deteriorad­os, o que fez com que felizmente se apostasse nos recursos que o próprio município produz nos seus vastos campos agrícolas.

Na Quiçama, agora, a notícia é aquilo que numa situação normal nunca teria deixado de ser, porque, se calhar, para alguns responsáve­is alimentar-se de produtos industrial­izados acaba por ser mais agradável ou saudável que os naturais.

Hoje, os meninos estão alimentar-se de papa de rolão, sopa de feijão, abóbora e sumos naturais de múcua, limão, laranja e mistura de frutas. Tratase de produtos provenient­es dos campos de cultivo da população local, o que ainda acaba por gerar renda a estes camponeses sem grandes constrangi­mentos de transporta­ção e outros encargos próprios resultante­s de operações do género que envolvem instituiçõ­es públicas.

Seria bom se o exemplo que se vive hoje na Quiçama fosse reproduzid­o também noutros municípios, o que acabaria por estimular os agricultor­es das demais localidade­s, deixando-se os produtos industrial­izados para momentos menos comuns.

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