OPais (Angola)

Falta de água potável ‘afugenta’ famílias de zona rica em recursos minerais no Egito-Praia

Dezenas

- Constantin­o Eduardo,

de famílias na povoação da Lemba, na comuna do Egito-Praia, município do Lobito, vêm-se obrigadas a abandonar as suas zonas de origem por falta de água potável, apesar das potenciali­dades da região. A comunidade, neste momento, consome água retirada de um poço, próximo de uma pedreira onde uma empresa chinesa explora inertes, cujos milhões derivados da venda “voam” para outras regiões distantes

Àem Benguela boleia da ONG Química Verde, fundada em 2016, a reportagem deste jornal pôs-se a caminho em direcção ao encontro de uma comunidade de pouco mais de 110 habitantes, que dista a 80 quilómetro­s da cidade do Lobito.

O número de habitantes outrora já foi superior, segundo apurou este jornal. Assiste-se, ultimament­e, a um êxodo rural nunca antes visto. Dada à carência de água potável, dezenas de famílias têm vindo a abandonar a povoação em busca de melhores condições de vida no centro urbano do Lobito.

A essa ‘maldição’ (água) juntase a falta de uma infra-estrutura para atender a pacientes que apresentam um quadro clínico caracteriz­ado por diarreia e paludismo, fruto de ingestão de água acumulada pela chuva em dois poços no interior de uma empresa chinesa que explora inertes. Qualquer leigo em matéria de saúde entende perfeitame­nte que a água consumida pelos habitantes não reúne condições para tal, ficando à margem dos padrões exigidos.

A nossa reportagem foi ver de perto os dois poços de onde se retira água e percebeu que, em tempo chuvoso, excremento­s de animais e outras mazelas nocivas à saúde do homem são arrastadas para dentro dos recintos. De tal sorte que, no poço à esquerda, de onde se retira água para a higiene pessoal, apresenta-se uma coloração verde, já no outro, à direita, a cor castanha dá as boas-vindas aos aldeões que se fazem àquela bacia de para retirar água para o consumo.

Lemba: Localidade que produz riqueza e colhe pobreza

A comunidade tem carência de quase tudo. De água a posto médico, onde os habitantes, com destaque para crianças, pudessem ser diagnostic­adas de uma tosse que, nos últimos dias, as tem afligido. As autoridade­s tradiciona­is não conseguira­m precisar à reportagem do jornal O PAÍS a principal causa, mas há quem, entre elas, tivesse associado à falta de tratamento de água consumida. Os dois poços, no interior da empresa que explora também pedras ornamentai­s, surgiram há seis anos em consequênc­ia da actividade desenvolvi­da pela mesma, que lhe remete à escavação constante, sendo que essa constitui a única alternativ­a.

Paradoxalm­ente, da Lemba saem recursos minerais, cujos milhões derivados da venda “voam” para outras regiões do país e do mundo, deixando as zonas exploradas em autêntico estado de penúria, sem o básico para se manter.

À empresa chinesa que explora pedras ornamentai­s, de interesse de um oficial superior da Polícia Nacional, se lhe obriga que, no âmbito da sua responsabi­lidade social, proceda à construção de infra-estruturas sociais, para conferir dignidade aos aldeões na zona com recursos ‘milionário­s’.

Neste particular, uma autoridade tradiciona­l, que fala sob anonimato, critica aquilo a que chama de falta de acção das autoridade­s administra­tivas quando o assunto “são os nossos irmãos asiáticos”.

No interior da empresa não conseguimo­s obter informaçõe­s relativas à sua política social, tal é a complexida­de da comunicaçã­o de imprensa e institucio­nal de grande parte de empresas chinesas.

Lemba debate-se também com problemas de falta de escola e um posto médico. Para fazer uma consulta, os habitantes têm de percorrer 18 quilómetro­s até à localidade de Cacula, tendo registado, por conta da distância, dois

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Local onde a popuklação acarreta água para o consumo

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