Falta de água potável ‘afugenta’ famílias de zona rica em recursos minerais no Egito-Praia
Dezenas
de famílias na povoação da Lemba, na comuna do Egito-Praia, município do Lobito, vêm-se obrigadas a abandonar as suas zonas de origem por falta de água potável, apesar das potencialidades da região. A comunidade, neste momento, consome água retirada de um poço, próximo de uma pedreira onde uma empresa chinesa explora inertes, cujos milhões derivados da venda “voam” para outras regiões distantes
Àem Benguela boleia da ONG Química Verde, fundada em 2016, a reportagem deste jornal pôs-se a caminho em direcção ao encontro de uma comunidade de pouco mais de 110 habitantes, que dista a 80 quilómetros da cidade do Lobito.
O número de habitantes outrora já foi superior, segundo apurou este jornal. Assiste-se, ultimamente, a um êxodo rural nunca antes visto. Dada à carência de água potável, dezenas de famílias têm vindo a abandonar a povoação em busca de melhores condições de vida no centro urbano do Lobito.
A essa ‘maldição’ (água) juntase a falta de uma infra-estrutura para atender a pacientes que apresentam um quadro clínico caracterizado por diarreia e paludismo, fruto de ingestão de água acumulada pela chuva em dois poços no interior de uma empresa chinesa que explora inertes. Qualquer leigo em matéria de saúde entende perfeitamente que a água consumida pelos habitantes não reúne condições para tal, ficando à margem dos padrões exigidos.
A nossa reportagem foi ver de perto os dois poços de onde se retira água e percebeu que, em tempo chuvoso, excrementos de animais e outras mazelas nocivas à saúde do homem são arrastadas para dentro dos recintos. De tal sorte que, no poço à esquerda, de onde se retira água para a higiene pessoal, apresenta-se uma coloração verde, já no outro, à direita, a cor castanha dá as boas-vindas aos aldeões que se fazem àquela bacia de para retirar água para o consumo.
Lemba: Localidade que produz riqueza e colhe pobreza
A comunidade tem carência de quase tudo. De água a posto médico, onde os habitantes, com destaque para crianças, pudessem ser diagnosticadas de uma tosse que, nos últimos dias, as tem afligido. As autoridades tradicionais não conseguiram precisar à reportagem do jornal O PAÍS a principal causa, mas há quem, entre elas, tivesse associado à falta de tratamento de água consumida. Os dois poços, no interior da empresa que explora também pedras ornamentais, surgiram há seis anos em consequência da actividade desenvolvida pela mesma, que lhe remete à escavação constante, sendo que essa constitui a única alternativa.
Paradoxalmente, da Lemba saem recursos minerais, cujos milhões derivados da venda “voam” para outras regiões do país e do mundo, deixando as zonas exploradas em autêntico estado de penúria, sem o básico para se manter.
À empresa chinesa que explora pedras ornamentais, de interesse de um oficial superior da Polícia Nacional, se lhe obriga que, no âmbito da sua responsabilidade social, proceda à construção de infra-estruturas sociais, para conferir dignidade aos aldeões na zona com recursos ‘milionários’.
Neste particular, uma autoridade tradicional, que fala sob anonimato, critica aquilo a que chama de falta de acção das autoridades administrativas quando o assunto “são os nossos irmãos asiáticos”.
No interior da empresa não conseguimos obter informações relativas à sua política social, tal é a complexidade da comunicação de imprensa e institucional de grande parte de empresas chinesas.
Lemba debate-se também com problemas de falta de escola e um posto médico. Para fazer uma consulta, os habitantes têm de percorrer 18 quilómetros até à localidade de Cacula, tendo registado, por conta da distância, dois