Amor eterno
Diferenças e divergências clássicas. Dois lados que contam e vivem a mesma história. Contando histórias bem diferentes. Desde “Ademir ou Rivellino?”, passando por quem foi mais decisivo no Dia dos Namorados de 1993, “Edmundo ou Zé Aparecido?”, embate eterno. Outrora até fraterno. Empatado na justa idolatria ao lendário Oswaldo Brandão. Gaúcho como Tite e Felipão. Bem sabe Mauro Beting, sabe tudo Celso Unzelte. De um lado, o alvinegro, viva o Quarto Centenário, de outro, o alviverde, vale relembrar São Marcos parando Marcelinho Carioca. É o destino. “Saudosa Maloca”, cantou o corinthiano Adoniran. Malocas, cortiços e casebres da era romântica, do Brás dividido entre italianos e espanhóis, às novas arenas, sem divisão, ocupadas por apenas uma das duas paixões. Falta tolerância às cores adversárias. Que essa aberração de torcida única, sem eira, nem beira, seja uma realidade passageira. Futebol não é trincheira. É bambu usado para hastear bandeira. É afrouxar as cordas no embate por conquistar mais espaço na arquibancada, duelo pelo cântico mais alto, mais criativo. É preservar o rival abatido para ter com quem brincar. Gozar. É bola na rede goleando a idiotia da rede antissocial. Com parcimônia e bom senso, deixá-lo louco. Até a volta, mais cedo ou mais tarde, vem o troco. Sempre vem. Minha terra tem Palmeiras, minha vida é Corinthians. Sempre teve, sempre foi. Todo apaixonado descobre, ainda imberbe, o que é um Corinthians e Palmeiras. E a dor que é perder o Dérbi, que nunca foi nem nunca será só um Dérbi. Dor só superada quando faz as pazes, loucamente, com a vitória. Em outro Dérbi. Palmeiras x Corinthians, isso é amor, clássico. Com todos respeito aos outros duelos, importantes, dependendo do período, mais ou menos marcantes, mas que são casos temporais. Mais ou menos sazonais. Eis o juízo final: a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, o Dérbi da cidade, está fadada a eternidade. Que os idiotas não levem ao pé da letra a máxima de que até que a morte os separe. Corinthiano, graças a Deus, acredito na vida eterna. Onde hei de reencontrar a parmerense nonna Cida. Que o Dérbi seja eterno até a vida eterna!