Na torcida por Cristóvão
Vivemos numa época de julgamentos instantâneos, em que se tomam posições e se dão veredictos com base em dados superficiais. Ou mesmo sem base alguma, ao sabor de “achismos” ou até de preconceitos. Isso ocorre em todos os campos, e uma breve passagem de olhos pelas redes sociais nos leva à constatação de que há uma epidemia de opiniões. Imperam certezas absolutas, quase sempre sem espaço para visões contrárias.
Pois o técnico do Corinthians, Cristóvão Borges, tem sido vítima desse mal. Há nítida predisposição da torcida em atacá-lo. Principalmente dos torcedores que frequentam o Fielzão e compõem o novo perfil do corintiano, que de maloqueiro e sofredor não tem mais nada. A maioria faz parte da elite econômica que possui condições para pagar os caros ingressos da nova arena. E está mal acostumada pela vasta sequência de títulos conquistados nos últimos anos. Foi-se o tempo em que a Fiel apoiava o time em qualquer situação. Agora a cobrança e o mau humor predominam.
Cristóvão Borges já chegou em condições desfavoráveis: com a incômoda tarefa de substituir Tite, o técnico mais vitorioso da história do clube, e sem nenhum título no currículo em sua curta trajetória. Pegou um elenco limitado e um time em reconstrução. Mas, a despeito do enorme desafio, a falta de paciência com ele é exagerada.
Qualquer substituição errada ganha contorno de tragédia. Desconfio que há uma dose de racismo embutida aí. Um treinador negro que não se omite nessa questão e defende ideias progressistas incomoda muita gente. É preciso lhe dar tempo e tranquilidade para trabalhar. Só depois disso pode-se avaliá-lo. Torço pelo seu sucesso.