Crise na Previdência ameaça regra especial para mulheres
Dupla jornada é uma das justificativas para as aposentadorias das mulheres serem concedidas antes
Mulheres brasileiras que são as principais provedoras de renda de suas famílias gastam quase 19 horas por semana com afazeres domésticos, mais que o dobro das 7,5 horas que os maridos dedicam às tarefas em casa.
Os cálculos feitos pela pesquisadora Simone Wajnaman, da Universidade Federal de Minas Gerais, mostram que a desigualdade de gênero permanece alta no Brasil, apesar da maior inserção feminina no mercado de trabalho nas últimas décadas.
A dupla jornada de trabalho é uma das principais justificativas para as leis que permitem às mulheres se aposentar mais cedo do que os homens, tanto no Brasil como em outros países.
Mas o tratamento especial dado às mulheres tem sido colocado em xeque por mudanças demográficas, como a queda da fecundidade e o envelhecimento da população, e pelas dificuldades que os governos de vários países encontram para financiar os sistemas previdenciários.
As soluções mais comuns têm sido o aumento do tempo de contribuição e a adoção de regras mais parecidas para homens e mulheres. O governo Temer já sinalizou que apresentará sua proposta de reforma da Previdência prevendo a adoção de uma idade mínima de 65 anos para homens e mulheres. Há dúvida se o Congresso aceitará igualar as idades ou se ou manterá uma diferença.
O debate sobre a reforma já tem gerado polêmica que deve se intensificar caso o governo busque igualar as exigências. O principal argumento favorável é o custo alto da aposentadoria feminina precoce. As mulheres vivem mais que os homens e a diferença tem crescido. Em 2014, a expectativa de vida feminina era 78,8 anos e masculina era de 71,6 anos.
Neste mesmo ano, a idade média de aposentadoria foi de 60,9 para homens e 59,3 anos para mulheres. Os brasileiros vivem 10,7 anos depois que se afastam do mercado e as brasileiras, 19,5.
Embora as mulheres tenham empatado com os homens na escolaridade, a renda com trabalho era 25% inferior em 2014.