Buraco sem fim
A decisão tirou o chão de muita gente. A Justiça estadual paulista inocentou todos os 14 acusados pela morte de sete pessoas na cratera que se abriu durante obras da linha 4-amarela do metrô, há quase dez anos.
A juíza Aparecida Angélica Correia, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, disse que as investigações não provam que os técnicos do consórcio construtor e do metrô pudessem evitar o desastre.
“Cabe ao Poder Judiciário analisar a questão de maneira isenta, tão somente com base nas provas colhidas”, escreveu a juíza.
Sim, todo mundo concorda com isso. Mas é muito estranho aceitar que ninguém teve culpa pelo caso.
Um buracão de 80 metros se abriu no local exato em que era feita a escavação de uma estação de metrô. Se ninguém da equipe percebeu que isso poderia acontecer, algo saiu errado. Muito errado.
Quanto mais se escava, mais estranha a história fica. Os chefões da construtora e do Metrô nunca entraram na lista de réus na ação penal. Sobrou só pros peixes pequenos.
Um outro fato aumentou a desconfiança geral e deixou o caso ainda mais sinistro.
Documentos apreendidos pela Polícia Federal sugerem que as empresas das obras da linha 4 pagaram propina de mais de R$ 3 milhões ao Ministério Público.
Só de ver a lista das empresas que tocaram a obra (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), todas enroladas na Lava Jato, já ficamos com a pulga atrás da orelha.
A Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo vai investigar o caso. Que a verdade não se perca nesse buraco que parece não ter fim.