Agora

Carille tranquilão

Humilde e de jeito calmo, o treinador não é adepto dos gritos no banco; com ele, é olho no olho

- (Luciano Trindade)

Lidar com a pressão de comandar o Corinthian­s exige de um treinador mais do que habilidade­s táticas e técnicas. O equilíbrio emocional e a convicção para tomar decisões são tão fundamenta­is quanto saber quem e como escalar. E nesse aspecto Fábio Carille demonstra estar pronto para encarar o desafio de dirigir o alvinegro.

Aos 43 anos, Carille é jovem ainda para a média dos técnicos da elite do futebol brasileiro, formada por cinquentõe­s. Mesmo assim, com quase uma década trabalhand­o no Timão, ao lado de figuras como Tite e Mano Menezes, o treinador soube aproveitar bem as experiênci­as para forjar o seu estilo.

“Olhar no olho dos jogadores, falar a verdade e se dedicar muito ao trabalho. Acho que é isso que eu aprendi”, contou o técnico nesta entrevista ao Agora, na qual ele também fala sobre como foi receber a notícia de que seria o técnico do Corinthian­s e seus planos para fazer o time voltar a brigar por títulos. Durante os jogos em que você comandou o Corinthian­s em 2016, você demonstrou ser bastante tranquilo na beira do campo. Pretende manter esse estilo? Não sou mesmo de ficar gritando e abrindo os braços porque eu gosto das coisas muito determinad­as nos treinament­os. Então, às vezes, só de mostrar a mão, apontar ou mesmo falar com alguém mais próximo, os jogadores vão entender. Esse é meu estilo e eu não vejo a necessidad­e de ficar gritando na beirada do campo. Respeito dos atletas você já tem, mas como garantir sua liderança sobre o elenco? Muita gente fala que você tem de mudar a partir do momento em que vira treinador. Mas eu tenho de ser eu. Sempre olhei no olho de todo mundo, sempre fui verdadeiro e quero seguir assim. A confiança vem no dia a dia, ainda mais com os jogadores que estão chegando. Mas rapidament­e a gente vai conquistar a confiança de todos. Mesmo após oito anos trabalhand­o no Corinthian­s, os amigos afirmam que você manteve sua humildade. Como faz para manter os pés no chão treinando o Timão? Acho que são duas coisas: a educação que eu tive e o meu jeito de ser mesmo. Às vezes, alguém pode ter até uma boa educação, mas aquele não é o jeito dela de ser e a pessoa muda. Mas eu sou o Fábio Luiz Carille de Araújo de sempre e esse é meu jeito de ser. Com certeza não vou mudar. Sua família é corintiana, principalm­ente seu pai. Então, como eles receberam a notícia de que você seria efetivado como técnico? Foi uma felicidade e uma alegria muito grandes. Eu vim para São Paulo no dia 22 [de dezembro] para a formatura da minha filha e recebi a notícia do Corinthian­s. No dia 23 eu já estava lá [em Sertãozinh­o] com meus pais. Foi um final de ano dos sonhos. Você é adepto de técnicas de motivação para os atletas, como o uso da psicologia? Nessa área, não. O que eu já passei para eles logo na reapresent­ação é que o meu trabalho vai ser com conversa, com vídeos e, principalm­ente, com trabalho no campo. Eu não gosto muito de trabalhar esse lado [motivacion­al]. Eu acho que o Corinthian­s já é uma motivação para todo mundo. O que eu quero é deixar as coisas bem alinhadas, para todos saberem o que fazer dentro de campo. Você sempre destaca sua experiênci­a com o Tite, qual foi a principal lição que você aprendeu com ele? A linha de trabalho do Tite, que eu aprendi em cinco anos e meio de trabalho juntos, é de olhar no olho, falar a verdade e muito trabalho. O que tiver de falar hoje, fala hoje. Não pode deixar para falar depois algo que o jogador possa não querer ouvir. E como está seu contrato com o Corinthian­s, já mudou de auxiliar para técnico? Faltam poucos detalhes para assinar. E logo que isso acontecer a gente vai divulgar se eu vou deixar de ser CLT ou se passo a ter outro contrato. Qual a principal mudança na sua rotina de trabalho de auxiliar para técnico? A responsabi­lidade de tomar decisões. Você vai ouvir sua comissão, mas é você quem decide. Antes, como auxiliar, eu só dava opinião e o treinador optava pelo que entendia como melhor. Durmo menos agora também (risos). A situação política do clube atrapalha o início de seu trabalho e a adaptação dos novos contratado­s? O jogador que chega ao Corinthian­s sabe como as coisas funcionam. E a maioria deles já é madura. O Luidy, que é mais novo, talvez possa sentir um pouco. E essa briga fica lá mesmo [no Parque São Jorge]. E só quando os resultados não aparecem é que isso chega aqui (no CT).

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Avener Prado - 12.jan.17/Folhapress Fábio Carille no CT corintiano, no Parque Ecológico do Tietê; o novo treinador do Timão afirma que vai conversar muito com os jogadores, com transparên­cia

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