Agora

Reunião de pais

- É jornalista, ZL, equilibrad­o e pai do Basílio

Não é à toa que deram o nome de “Maternal” para as primeiras séries na escola. Maternal 1, Maternal 2... Só pode ser, tenho certeza, porque uma mãe só não dá conta de tanta reunião, recado na agenda, material escolar, lição de casa, fuxico paralelo para descer a lenha no cabelo da professora e na mãe que faltou à reunião... Mas tem pai que não entende o recado quase explícito presente em “Maternal” e resolve participar da “reunião de pais”... Aconteceu comigo. O nome “pais”, entendi de cara, foi uma homenagem à minha presença. Era só eu de homem em meio a uma legião de mães e uma ou outra avó que substituía a filha ouvindo comentário­s e recados doces da professora. Quem mora em condomínio sabe que reunião, qualquer maldita reunião, não é de Deus. “Escola particular, cara, vão falar o quê? Que os moleques são psicopatas? É óbvio que vão ficar elogian- do os anjinhos e blá-bláblá... Mas já deu, essa cascata não vai acabar nunca?” Pensei tão alto que não era difícil ler meu pensamento estampado no rosto exalando tédio. Pai que é pai gosta de poder de síntese. E sabe o seu papel. Na matrícula, fui escalado como o “responsáve­l financeiro”. E uma única pergunta à coordenado­ra pedagógica. “O uniforme é verde?” Apesar do alívio, a negativa represento­u uma dívida mensal a perder de vista. É no meu e-mail que, todo mês, mesmo nas férias do Maloquinha, vem o boleto. Não que não valha o investimen­to. O duro é que a “reunião” faz parte do pacote. “Seu filho Basílio é por causa do filme?”, ouvi de uma mãe. Coitado do filho dessa, pensei, um dia ele vai ensinar à mãe que o filme veio do livro, mas é claro que era por outro motivo. Mas não precisei responder. A professora dedurou. “Então, gente, os alunos são todos megainteli­gentes, uns amorecos, só tenho probleminh­a com um aluno quando tem que usar lápis de cor verde porque ele disse que o pai ensinou que verde não pode, recusa-se a comer salada...” Ouvi aquela bobagem a seco. E fiz a reunião de pai de verdade, em casa, mais tarde. “Basa, comida e lição, pode. Papai adora azeitona, não tem problema.” Mas filho adora contestar pai. “Ah, papai, mas não pode ser a preta? Verde é zica”.

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