Pesquisa aponta que o público idoso é o que mais vê TV no país; para especialistas, cultura vem do rádio e deve mudar
Muitas vezes solitários no sofá de casa, os telespectadores com mais de 60 anos são o grupo que mais vê TV no Brasil. Tanto que chegam a enxergar nela a figura de uma companheira. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo instituto alemão GfK, que avaliou a frequência com que os espectadores ficam na frente da TV.
Segundo os dados, a terceira idade vê televisão sozinha, principalmente de manhã e durante madrugada (veja o quadro ao lado). Os números também mostram que os programas favoritos tanto dos homens quanto das mulheres são as novelas e o jornalismo.
De acordo com especialistas em TV, esse relacionamento íntimo com o aparelho é um fenômeno bem brasileiro. “A relação que a televisão tem na América Latina como um todo é bem diferente do restante do mundo. E no Brasil isso fica mais evidente. A programação de TV ditou e ainda dita moda, costumes. Muitos idosos sabem a hora de sair ao ver que o telejornal está acabando ou avaliam a hora de dormir com base na atração que está no ar”, diz o pesquisador Julio Cesar Fernandes.
Para ele, contudo, o fenômeno não deve ocorrer da mesma forma com as futuras gerações, acostumadas à internet e às novas tecnologias. “As pessoas continuarão a consumir vídeos e conteúdos produzidos da mesma maneira, mas serão mais antenadas e poderão assistir quando e onde quiserem”, avalia.
Diretor do Museu da TV, Elmo Francfort volta um pouco no tempo para analisar o carinho que esse público tem pela televisão e por todo o seu universo, como os ídolos de épocas passadas. “Esse costume nasceu no rádio e passou para a televisão. Cid Moreira era campeão de cartas e sempre ganhava boa noite do telespectador do ‘Jornal Nacional’ [1969-1996], assim como muitas senhoras tinham o hábito de dialogar com Silvio Santos.”