Temer usa paparicos para se aproximar de deputados
Parlamentar menos expressivo pensou que era trote quando o presidente ligou para seu celular
“Deputados da base do governo Michel Temer, eu sei que Vossas Excelências estão cheios de cargos, cheios de emendas, estão todos papudinhos”, berrou no microfone do plenário o oposicionista Sílvio Costa (PT do B-PE) na votação do novo projeto de repatriação, no dia 15.
Como de hábito, ninguém lhe deu bola e o projeto foi aprovado tranquilamente.
Embora tenham se mantido calados na sessão, são numerosos os “papudinhos” de Michel Temer o termo define aqueles que estão com o papo cheio de verbas, cargos e prestígio.
Temer ainda não acumula o desgaste legislativo de governos mais longos e reúne praticamente todas as forças políticas que se mobilizaram na aprovação do impeachment de Dilma Rousseff.
Mas é no “paparico” que ele tem dado de goleada, na opinião de deputados.
A reportagem ouviu mais de uma dezena deles e perguntou: qual a diferença entre Dilma e Temer na relação com os deputados?
“Noooossa!”, respondeu Beto Mansur (PRB-SP), “muita diferença”. Deputado das antigas, ele diz que Dilma lembra a relação que Fernando Collor (90-92) tinha com o Congresso. “Eu era deputado e nunca tinha falado com o Collor. Aí, quando es- tava estourando o impeachment, ele me ligou. Não atendi.”, diz.
Com Temer, tem acesso liberado ao Planalto e entre outros mimos foi convidado para a viagem presidencial à China. “É claro que tem gente aqui que vive de cargo, mas a maioria precisa é de atenção. E o Temer agradece ao Congresso o apoio”, diz.
Não era trote
Hildo Rocha (PMDB-MA) diz ter achado no início que era trote. “Ele me ligou um dia no meu celular pra me parabenizar por eu ter defendido um projeto do governo, nem me lembro mais qual.”
“Lincoln Portela (PRB-MG) é outro dos que elogia. “Ele é um poeta, eu e outros deputados íamos antigamente com ele ao Piantella [restaurante badalado por políticos em Brasília]. Ele gostava de cantar ‘Trem das Onze’ ao piano.”
“O Temer sabe que muitas vezes um posicionamento numa empresa, numa secretaria, em um ministério é muito importante. Falam pô, o Marquezelli tá forte, conseguiu fazer a secretaria tal’‘, diz Nelson Marquezelli (PTBSP). “Política é soma. Soma de prestígio, soma de votos, soma de amigos.”