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Samba de hoje está mais fraco, diz Beth Carvalho

Para madrinha do samba, escolas são reféns de patrocínio e Carnaval atual se tornou um esquemão

- (FSP)

Beth Carvalho, 70 anos, a madrinha do samba, diz que “hoje o samba está mais fraco”. Para ela, as grandes escolas “estão reféns do patrocínio” —diferentem­ente do Carnaval de rua, com “garotada” e “contexto político”, “contrário a todo esse esquemão que se tornou o Carnaval”. Leia trechos da entrevista abaixo. Pergunta Como vê a nova geração? Beth Carvalho Hoje o samba está mais fraco. A forma de cantar o que é chamado de samba —que eu nem considero samba— mudou. Esse tal pagode que está aí é outra música, que usa ritmo do samba, mas não é samba. Samba tem filosofia, poesia, forma de cantar direta. Não tem esses floreios, essa coisa americaniz­ada. Samba é papo reto. E esse papo reto eu não tenho visto mais. E o samba-enredo? Beth Carvalho

Agora não tem mais compositor­es, mas escritório­s. Imagina seis ou sete pessoas fazendo um samba sem a menor alma, sem amor pela escola que nunca viveram? Acha que as escolas vivem uma crise criativa? Beth Carvalho Sim, já há muito tempo. Estão reféns do patrocínio. A crise financeira de agora pode trazer de volta a criativida­de. As escolas não precisam de patrocínio. Como vê a explosão do Carnaval de rua em São Paulo? Beth Carvalho Acho boa essa movimentaç­ão. A Paulista é feita para isso. Agora, que não vire este sambódromo. Essa coisa de ir para a avenida e nem assistir às escolas. Nos camarotes, toca tudo, menos samba. Carnaval de rua já é um protesto. É juventude, é garotada. E com contexto político, contrário a todo esse esquemão que se tornou o Carnaval. Blocos estão evitando cantar canções de teor preconceit­uoso. O que acha? Beth Carvalho Acho legal banir, não repetir o erro. Nunca tinha percebido que ‘O Teu Cabelo Não Nega’ é racista. Martinho me chamou a atenção para isso. Mulher apanha muito no samba. Essas letras te incomodam? Beth Carvalho Muito. Não canto essas coisas de ‘você me deixou, fiquei mal, mas te amo mesmo assim‘. O samba é machista? Beth Carvalho O Brasil todo é. Samba até que é menos porque é muito matriarcal. Se as pastoras não gostam do samba, não cantam. É forma de exercer autoridade.

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Fotos Diego Padgurschi /Folhapress Beth Carvalho, 70 anos, em seu apartament­o, em São Conrado (zona sul do Rio); madrinha do samba elogiou Carnaval de rua de São Paulo e disse que blocos são ‘protesto’, ‘juventude’ e ‘contexto político’
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Alexandre Rezende/Folhapress

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