Visita de lobista à Câmara coincide com votação de MP
Segundo delator da Odebrecht, políticos receberam para a aprovação de medidas provisórias
Um levantamento sobre as entradas do delator e exexecutivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho na Câmara revela sua presença no local no mesmo dia ou em datas muito próximas ao período em que foram votadas pelo menos quatro medidas provisórias que geraram pagamento de propinas a parlamentares, segundo ele.
Os dados reforçam seu acordo de colaboração premiada homologada no STF (Supremo Tribunal Federal) e confirmam que Melo, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira, esteve ao menos 194 vezes na Câmara de janeiro de 2005 a dezembro de 2015.
O levantamento foi obtido pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), na condição de líder do partido, com base no regimento interno e na Lei de Acesso à Informação.
Agosto de 2005 foi um mês agitado para o ex-executivo a julgar pelos registros de entrada. Ele esteve no Congresso em pelo menos nove dias daquele mês.
Naquele momento tramitava a medida provisória número 252, que ficou conhecida como MP do Bem por criar incentivos fiscais para aumentar exportações e estimular acesso à informática.
Em 24 de agosto, quando foi anunciada a aprovação da MP em plenário, Melo estava na Câmara.
Na minuta do depoimento que entregou à PGR (Procuradoria-Geral da República) para seu acordo de delação, ele afirmou ter pedido ao então deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para que apresentasse emenda referente ao tratamento tributário a nafta petroquímica e condensado.
Melo disse ter recorrido ao senador Romero Jucá (PMDBRR), que era o relator revisor da MP quando a proposta chegou ao Senado.
Também declarou que o parlamentar discutiu um novo texto com o governo, atuou no Congresso e conseguiu aprovar sua emenda de relator, incorporando tema de interesse da empreiteira.
Em 18 de dezembro de 2012, o Congresso votou em plenário outra emenda de interesse da Odebrecht, a de número 579, que previa a extensão do prazo de fornecimento de energia barata para as empresas eletrointensivas do Nordeste.
Melo esteve no local um dia antes. Ele relatou o esforço Do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para acomodar pleitos da Odebrecht.
Resposta
Quando os principais trechos da delação Melo foram divulgados, em dezembro passado, Romero Jucá e Renan Calheiros negaram quaisquer irregularidades. Geddel Vieira Lima não foi encontrado.