Dilma sabia de caixa dois, afirma Marcelo Odebrecht
Empreiteiro disse no TSE não ter recebido pedido ‘específico’ de Temer e implica Mantega e Palocci
Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro da empreiteira, afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral, em depoimento no dia 1º de março, que a ex-presidente Dilma Rousseff sabia dos pagamentos de caixa dois à campanha eleitoral de 2014.
Ele ainda afirmou que jamais recebeu pedido “específico” do presidente Michel Temer e apontou os ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci como interlocutores dos repasses ao PT.
A íntegra do depoimento foi revelada pelo site “O Antagonista”. A reportagem teve acesso ao documento.
Segundo Marcelo, parte do caixa dois da campanha em 2014 foi pago por meio do marqueteiro João Santana.
Foi quando o ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa, perguntou se ele já havia conversado com Dilma sobre as dívidas com o PT.
“Não. Veja bem, Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia que nós éramos quem fazia grande parte dos pagamento via caixa dois para o João Santana. Isso ela sabia”, respondeu Marcelo.
“O senhor chegou a conversar com ela?”, indagou o relator. “Não cheguei, ela sabia pelo nosso amigo”, respondeu, sem citar quem seria o “amigo”.
“A sua impressão está clara. O senhor acha que ela sabia”, questionou o ministro.
“Sim”, disse Marcelo. “Ela nunca me disse que sabia que era caixa dois, mas é natural, ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do partido”, ressaltou.
Marcelo isentou Michel Temer da negociação de uma doação de R$ 10 milhões da Odebrecht para o PMDB.
“Nunca houve um pedido para mim, específico, do Temer”, afirmou o empresário.
Temer saiu da mesa
Segundo ele, no jantar no Palácio do Jaburu, Temer não tratou de valores. Participaram do encontro, além dele e de Temer, Cláudio Melo Filho, então vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, e o hoje ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).
“Teve um determinado momento, que eu me lembro bem, o Temer saiu da mesa, já no fim do jantar, e aí, eu, Cláudio e Padilha firmamos: Oh, tá bom então. Vai ser doado dez, conforme você já acertou com o Cláudio, Padilha; desses dez, seis milhões vou direcionar para a campanha do Paulo [Skaf], que ele me pediu, e vocês ficam com quatro para direcionar para os candidatos que vocês quiserem”, disse Marcelo.
“Não me lembro em nenhum momento de o Temer ter falado dos dez milhões, ter solicitado um apoio específico. Obviamente que fica aquela conversa de que: ‘Olha, a gente espera a contribuição de vocês; a gente tem aí um grupo que a gente precisa apoiar’”, ressaltou.
Ele diz que a Odebrecht doou R$ 150 milhões para a chapa Dilma-Temer em 2014, sendo R$ 50 milhões como contrapartida de uma medida aprovada no Congresso em 2009 de interesse da empreiteira.