Hospital municipal entope corredor com 38 pacientes
Doentes ficam em macas a 30 cm uns dos outros por até 9 dias. Enfermeiro não fica disponível
O Hospital Municipal Ermelino Matarazzo (zona leste), sob a gestão João Doria (PSDB), mantém pacientes com quadros graves, como tumor no cérebro, pneumonia e pós-AVC (acidente vascular cerebral), em macas no corredor por até nove dias. Ontem, 38 pessoas estavam internadas sem nenhum conforto na precária área de passagem da enfermaria.
Segundo familiares e pacientes, o atendimento precário ocorre há tanto tempo que virou padrão: papéis colados na parede enumeram as macas nos corredores e as nomeiam de “leitos extras”.
Há mais tempo na área de passagem, a dona de casa Eliane Gomes de Lima, 32 anos, foi diagnosticada com um tumor na cabeça e aguarda por uma cirurgia. “Eles têm de tirar agora enquanto ainda não é tão grande”, disse. Os casos de urgência e de idosos estariam sendo priorizados no centro cirúrgico. A maca de Eliane fica a menos de 30 centímetros da cama da idosa Maria Ferreira da Silva, 77 anos, internada no corredor desde 27 de abril.
Pouco lúcida, a idosa se agarra ao braço da neta para sussurrar que não aguenta mais. Ela quer voltar para casa. “É uma tristeza ver minha avó nessa situação. Hoje (ontem) faz uma semana”, disse a dona de casa Janaína Silva de Souza, 26 anos. Ela passa a noite com a avó e precisa dormir no chão ou ficar em pé a noite inteira no corredor (leia texto abaixo).
O excessivo número de pacientes aliado à limitada equipe de técnicos de enfermagem faz com que os parentes sejam obrigados a realizar sozinhos os cuidados de higiene. “Dos sete dias em que estamos aqui no corredor, eu dei banho na minha avó em seis deles.”
Os banheiros estão nojentos, com paredes mofadas, portas quebradas, fiação e canos à mostra. “O cheiro de mofo é insuportável”, diz a dona de casa Júlia Borges de Almeida, 77, que está com pneumonia.