Agora

‘Se quiserem, me afirma Temer sobre renúncia

’Presidente diz que foi ingênuo ao receber Joesley Batista, dono da JBS que o gravou

- (FSP)

Enfrentand­o a mais grave crise de seu governo, o presidente Michel Temer (PMDB) diz que renunciar seria uma admissão de culpa e desafia seus opositores: “Se quiserem, me derrubem.”

Em entrevista no Palácio da Alvorada, Temer afirma que não sabia que Joesley Batista, que o gravou de forma escondida, era investigad­o quando o recebeu fora da agenda em sua residência em março —embora, naquele momento, o dono da JBS já fosse alvo de três operações.

Sobre o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, flagrado correndo na rua com uma mala de dinheiro, Temer diz que mantinha com ele apenas “relação institucio­nal”.

A atitude de Loures, para Temer, não foi “aprovável”. Mas ele defende o caráter do ex-assessor. “Coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole.” Pergunta O sr. estabelece­u que ministro denunciado será afastado e, se virar réu, exonerado. Caso o procurador-geral da República o denuncie, o sr. vai se submeter a essa regra? Temer Não, porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros, por evidente não será a linha de corte para o presidente. Pergunta Mas o sr. voluntaria­mente poderia se afastar. Temer Não vou fazer isso, tanto mais que já contestei muito acentuadam­ente a gravação espetaculo­sa que foi feita. Tenho demonstrad­o com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele em que ele dizia: ‘Olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha‘. [E eu disse]: ‘Mantenha isso‘. Além do quê, ontem mesmo o Eduardo Cunha lançou uma carta em que diz que jamais pediu [dinheiro] a ele [Joesley] e muito menos a mim. E até o contrário. Na verdade, ele me contestou algumas vezes. Como eu po- zerar, liquidar pendências. Não sendo dinheiro, seria o quê? Temer Não sei. Não dei a menor atenção a isso. Aliás, ele falou que tinha [comprado] dois juízes e um procurador. Conheço o Joesley de antes desse episódio. Sei que ele é um falastrão, uma pessoa que se jacta de eventuais influência­s. E logo depois ele diz que estava mentindo. Pergunta Não é prevaricaç­ão se o sr. ouve um empresário dentro da sua casa relatando crimes? Temer Você sabe que não? Eu ouço muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Confesso que não levei essa bobagem em conta. O objetivo central da conversa não era esse. Ele foi levando a conversa para um ponto, as minhas respostas eram monossiláb­icas... Pergunta Quando o sr. fala ‘ótimo, ótimo‘, o que o sr. queria dizer? Temer Não sei, quando ele estava contando que estava se livrando das coisas etc. Pergunta Era nesse contexto da suposta compra de juízes. Temer Mas veja bem. Ele é um grande empresário. Quando tentou muitas vezes ley disse] ‘Mas eu tenho muitos interesses no governo, tenho empregados, dou muito emprego‘. Daí ele me disse que tinha contato com Geddel [V. Lima, ex-ministro], falou do Rodrigo [Rocha Loures], falei: ‘Fale com o Rodrigo quando quiser, para não falar toda hora comigo.‘ Pergunta Ele buscou o sr. diretament­e? Temer Ele tentou três vezes me procurar. Ligou uma vez para a minha secretária, depois ligou aquele rapaz, o [Ricardo] Saud, eu não quis atendê-lo. Houve um dia que ele me pegou, conseguiu o meu telefone, e eu fiquei sem graça de não atendê-lo. Eu acho que ele ligou ou mandou alguém falar comigo, agora confesso que não me recordo bem. Pergunta Por que não estava na agenda? A lei manda. Temer Você sabe que muitas vezes eu marco cinco audiências e recebo 15 pessoas. Às vezes à noite, portanto inteiramen­te fora da agenda. Eu começo recebendo às vezes no café da manhã e vou para casa às 22h, tem alguém que quer conversar comigo. Até pode-se dizer, rigorosame­nte, deveria cons-

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O presidente Michel Temer concede entrevista no Palácio da Alvorada, em Brasília, ontem; ele afirmou que seu assessor Rodrigo Rocha Loures, acusado de corrupção, ‘tem muito boa índole’ e chamou Joesley Batista, dono da JBS, de ‘empresário grampeador’
Pedro Ladeira/Folhapress O presidente Michel Temer concede entrevista no Palácio da Alvorada, em Brasília, ontem; ele afirmou que seu assessor Rodrigo Rocha Loures, acusado de corrupção, ‘tem muito boa índole’ e chamou Joesley Batista, dono da JBS, de ‘empresário grampeador’

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